Capítulo 2

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MARTA

No meu último mês de gestação, no dia 27 de junho, comecei a sentir fortes contrações naquela tarde, as dores eram tão intensas que acabei deixando o crisântemo cair da minha mão que foi levado pelo forte vento que começou soprar. Meu marido viu minha reação e ficou preocupado. Logo chamou os empregados da casa e me levaram para dentro. As dores foram aumentando com o passar do tempo e entrei em desespero. Chamaram as parteiras – decidi fazer parto normal – quanto elas entraram, pediram para que deixassem só eu e elas.

Todos estavam ansiosos. Jonny estava do lado de fora e andava de um lado para o outro com as mãos em sua cabeça bagunçando o cabelo, isso foi o que ele contou.

Algum tempo depois todos ouviram um choro.

Ao abrir a porta ele viu nossa filha sendo enrolada em lençóis brancos e entregue nos meus braços. Amamos nossa filha desde o nascimento e colocamos o nome dela de Angel para simbolizar que ela era o anjo que foi entregue em nossa vida.

Para presentear minha pequena Angel, coloquei entre seus lençóis um cordão prateado com um pingente de coração.

Éramos a família mais rica da cidade, eu era dona de uma linha de perfumes e cosméticos. Meu marido era empresário e patrocinador de eventos musicais, também dono do maior banco da cidade e tinha um hotel na Inglaterra, ganhado por herança quando meu sogro faleceu, o glamoroso HOTEL ANTHONY.

O nome Anthony era a marca de nossa família, todos os descendentes tinham o sobrenome. Desde o meu tetravô existe esse sobrenome. Meu Jonny – como costumava o chamar – colocou seu sobrenome também de Anthony, todos acharam estranho, mas foi escolha dele. Morávamos na cidade de Champ de Mars, nossa riqueza atraia olhares ruins.

Certa vez, nos passaram um trote dizendo que nosso tinham sequestrado o nosso filho, mas eu ainda estava de dois meses de gestação. Segui as orientações da pessoa e chamei a polícia, descobrimos que o autor do trote era um homem morador da nossa rua que se chamava Isacc. Após saber quem era, retirei a denúncia e ele foi liberado, mas avisamos que se houvesse segunda vez não sairia impune. Aquele fato não voltou a se repetir depois disso.

Três mulheres foram responsáveis pelo parto, Eloá, Barbara e Elizabeth. Eram formadas em técnico de enfermagem, especializadas na área obstétrica.

Pedi Jonny para tirar uma foto. Queria registrar aquele momento. Na foto estava as enfermeiras, eu e minha doce Angel. No momento da foto ela já estava limpa.

Minha filha nasceu no dia 27 de junho de 1993 e meu amado pai infelizmente morreu no dia seguinte. Estava voltando de uma viagem de negócios quando uma carreta perdeu o controle e bateu no carro. Todos os passeios morreram na hora. Não foi possível abrir o caixão. Depois daquele dia, me tornei definitivamente dona da empresa de perfumes e cosméticos.

Minha mãe faleceu no dia que nasci, teve complicações no parto. Nem cheguei a conhecer aquela que me deu a vida, sei como faz falta a mãe na vida do filho.

Meu coração se entristeceu, eu amava muito meu pai, foi um grande homem. Sua primeira loja foi aberta quando papai tinha 18 anos, no ano de 1933 e se tornou o que é hoje no ano de 1945. Depois disso a empresa só cresceu. Papai já era velho no meu nascimento, nasci em 1971, ele tinha 58 anos, seu nome era Carlos Anthony Mercury.

Ele morreu aos 81 anos. Nasceu no dia 5 de abril de 1915 e morreu no dia 28 de junho de 1993.

Dois dias depois que Angel nasceu, Lady e sua família foram me visitar, ela foi a primeira. Ainda estava de repouso, foi um parto difícil. Os três entraram e se sentaram nas poltronas próximas a cama, menos Charlie, foi direto no berço ver minha filha, ela estava dormindo. Meus olhos estavam fundos e meio escuros. Lady sentou-se mais perto para conversar.

– Oi Marta, como está?

– Melhor, estou abatida por causa do parto e porque enterrei meu pai ontem. Ele nem conheceu a neta que tanto sonhou em ter. – Tentei ser forte, mas as lágrimas desceram.

– Meus sentimentos, mas olhe, você pode até ter perdido seu pai, mas ganhou uma linda menina.

– Estou pensando assim. – Enxuguei os olhos. – A dor diminui um pouco, minha menina nunca vai conhecer o avô incrível que iria ter.

– Qual o nome da pequena?

– Angel Anthony Dim.

– Lindo nome, ela realmente parece um anjinho.

Continuamos conversando. Passado um tempo, Angel começou a chorar, ficou fome. Peguei ela cuidadosamente, me sentei na cadeira que me usava para amamentar, tirei o seio para fora e ela mamou. Era a melhor sensação do mundo, ver um ser tão pequeno, envolvida em meus braços recebendo meu carinho. Após alguns minutos ela adormeceu novamente. O berço era cor-de-rosa e com detalhes brancos.

Lady se despediu, porque precisava levar o filho para ensaiar, ele fazia aulas de piano todas as tardes, exceto nos fins de semana. Nos abraçamos e eles foram embora. Quando pronunciei o nome da minha filha, Kenner e Charlie não ouviram, eles estavam longe de mim e falei baixo. Por mais que não nos víamos muito, Lady e eu éramos amigas.

LADY

Como aquela menina era linda, provavelmente iria se tornar uma pessoa muito sábia, também com os pais que tem é difícil traçar outro caminho sem ser da sabedoria. Conheço Marta e Jonny desde quando era dançarina. Parece ter pouco tempo, mas faz aproximadamente cinco anos.

O nome combinou perfeitamente com a menina, ela parecia um anjinho, bela e perfeita. Seus dedinhos eram macios e sua pele branca como a neve, apelidei a pequena Angel de "Branca de neve", só faltou os lábios serem mais vermelhos, eram rosados.

Charlie queria pegá-la no colo, mas achei melhor não. Ele era uma criança meio atrapalhada e as vezes – na verdade quase sempre – era desastrado e deixava coisas caírem de suas mãos.

Certa vez, ele estava limpando o quarto e deixou seu cofrinho cair, outra vez eu estava limpando o chão que tinha muito sabão e ele não viu. Resultado? Saiu escorregando da cozinha até o banheiro, caiu de bunda no chão e ainda queria ir novamente, mas não deixei. Charlie era desastrado, mas um ótimo filho. Carinhoso, fofo, organizado e muito sentimental.

Além dessas qualidades, meu filho era muito inteligente, aprendeu a tocar piano muito cedo e curtia bandas de rock, mas nunca teve vontade de entrar em uma – isso é o que ele dizia.

Me mudei do Brasil para Paris quando ganhei um concurso para estudar no Bolshoi, mas não vim sozinha. Meu pai veio junto, dizia que tentaria mudar de vida e mandar dinheiro para minhas irmãs, mas nada disso aconteceu, foi tudo ao contrário.

Papai conseguiu emprego num cassino clandestino como segurança e começou jogar todas as noites. Em menos de um ano, acumulou uma dívida astronômica e não pagou. Papai se chamava Roberto. Ele morreu pouco tempo depois de ataque cardíaco fulminante, foi assim que as dívidas começaram e para piorar perdi minha bolsa na companhia, minha renda pela parte patrocínio da companhia e fiquei grávida. Conheci Kenner pouco tempo depois que cheguei em Paris e nos casamos.

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