Dora Vamur era uma menina muito orgulhosa, porém triste, a maioria das vezes ela só queria uma amiga para conversar, desabafar, mas com seu jeito de viver ninguém chegava perto. Na companhia, ninguém suportava Dora por perto, por ser "nariz em pé" as crianças normalmente a evitavam, sua maior vontade era que alguém lhe perguntasse "O que há com você? Quer conversar?", mas ela nunca ouviu isso de ninguém.
Seus pais, Diego e Karoline Vamur eram muito ricos, orgulhosos, arrogantes e preconceituosos. Certa vez, eles precisavam contratar um novo jardineiro, foram na entrevista de emprego cinco homens dos quais dois eram negros. Karoline ao vê-los mandou sair de sua casa imediatamente porque disse que eles roubariam sua casa. Dois dias depois a polícia bateu em sua porta com uma denúncia de racismo, claro que negou, mas com testemunhas foi difícil de se defender. O resultado foi de que ela precisou indenizar o senhor que se chamava Alejandro e Castilho.
Quando Dora nasceu eles amaram a menina, mas o amor pelo dinheiro e a arrogância falou mais alto e cuidaram de sua filha como se fosse um objeto.
No fundo do coração, Dora queria a companhia dos pais nas lições de casa, passeios em família, mas eles queriam apenas a filha perfeita, como se fosse uma boneca de porcelana que pudesse mandar e desmandar. Dora só estudava e ia para companhia. Quando chegava em casa ia conversar com seus pais.
– Mãe.
– O que você quer menina. – Karoline fala num tom ríspido. – Fala logo não tenho muito tempo para conversar.
– Queria que a senhora fosse me buscar amanhã. – Dora fala chegando-se perto da sua mãe. – Queria tomar sorvete...
– Não tenho tempo pra isso, pede o motorista pra te levar. – Sua mãe a interrompe. – Já falei para não me chamar de senhora, viu a negrinha hoje?
– Sim mamãe. – Dora responde sem jeito.
– Fez o que falei? – Karoline pergunta prestando mais atenção no projeto que estava fazendo do que na Dora.
– Sim.
– Ótimo. Odeio essa raça. – Sai num tom de nojo. – Seu pai disse que queria conversar com você no quarto... O que está esperando, sai daqui menina, tenho que terminar isso logo.
KAROLINE
Queria que minha filha enxergasse o potencial dela, mas iria ter que se afastar daquele povo de pele escura. Eu os detesto, tem algo neles que não agrado, deve ser porque são negros.
Não sou racista, só quero que minha filha veja o melhor para ela e ser como eu, independente, bonita, branca e rica. Sou casada com um belo homem e sou feliz. Ela vai entender um dia que tudo o que faço é para ela ser uma pessoa importante no futuro, mas sendo essa fracassada que não consegue ganhar um concurso de dança duvido muito que será uma mulher de fibra.
Dora subiu as escadas chorando e segurando os gritos de desespero que estavam sufocados em sua garganta. Ligou o celular e colocou a música SOLITUDE da banda Evanescence. Antes de entrar no seu quarto enxugou as lágrimas, se recompôs um pouco, tirou a música e desligou o celular.
– Oi papai. – Dora fala vendo o pai dela a esperando.
– Oi filha, tenho umas coisas para falar. – Ele fala apontando onde ela deveria se sentar.
– Pode falar. – Dora fala imaginando o que aconteceria ali.
– SUA BURRA, COMO NÃO CONSEGUIU GANHAR DA FILHA DO DONO. – Diego grita e lhe dá um tapa na cara.
– Papai. – Dora tenta segurar as lágrimas que descia de seus olhos. – Ela é talentosa...
– Que seja. – Ele a interrompe sem paciência. – Não quero saber de você em segundo lugar, entendeu? Acha que fiquei rico ficando em segundo? Não, sempre fui primeiro em tudo. Se eu souber que perdeu novamente. – Ele ameaça bater nela de novo. – Corto sua mesada por um mês inteiro ouviu?
– Sim senhor...
– Quantas vezes eu já lhe falei pra não me chamar de senhor. – Diego a interrompe. – Me chame de pai ou pelo meu nome D-I-E-G-O. – Ele soletra para ver se ela entende. – Agora vá treinar seus passos e só saia do quarto na hora do jantar. – Fala batendo a porta e Dora volta a chorar.
Ela percebia a cada dia que passava que seus pais não a amavam pelo jeito que era, mas sim queriam ter a filha perfeita que sempre ganhava, que estava sempre nos primeiros lugares.
Bianca uma das empregadas que via como a garota era tratada, queria livrá-la daquele sofrimento; todos os dias quanto estavam sozinhas ela tentava alegrar Dora brincando de bonecas e dizendo verdades da vida. De pouco a pouco Bianca tentava tirar da cabeça de Dora a desigualdade.
DIEGO
Criei uma filha para ser ganhadora. Não suporto a ideia de ter uma filha perdedora. Não a criei para isso.
Perder num concurso de quinta categoria e principalmente para uma menina que só treina dois anos é o cúmulo; ouvi-la dizer que aquela garota dança melhor... não consigo digerir essa ideia no meu ser.
Não acho errado colocar pressão nela na dança. – Mandando-lhe treinar todos os dias. – Acho mais errado ela não mostrar os resultados que deveria estar a mostra.
Me tornei o homem que sou agora. – De posses e rico. – Não foi por derrotas, mas sim por vitórias que conquistei durante todo tempo; nunca perdi nada quando estava construindo minha vida e agora vem minha filha... minha própria filha... a do meu sangue... falar que perdeu? Isso é um escândalo total para meus ouvidos, tive vergonha e nojo quanto ela admitiu que fracassou. Tenho vergonha de admitir que tenho uma filha fracassada. Se ela não reverter esse jeito de perdedora, não chegará a lugar nenhum.
Tudo que eu e a mãe dela construímos até hoje será em vão se ela continuar perdendo coisas fúteis.
DORA
Papai e mamãe parecem me odiar, não tive culpa de perder aquela competição para ver quem dançaria a última música. Queria que eles me olhassem como os pais da Angel olham pra ela, como os pais da Lia a olham. Nunca vi os olhos dos meus pais brilhando a meu ver saindo da companhia. Claro que nunca vi, eles nunca foram me buscar, nem no dia do meu aniversário.
Falando em aniversário, nesse dia, meu pai me deu um ursão de pelúcia e depois me mandou treinar até meus pés calejarem. Queria ter a vida de uma criança normal, sair com os pais para tomar sorvete no parque, ser empurrada no balanço e sorrir ao tocar os dedos dos pés na areia do parque.
Meu motorista era um homem bom, ele era mais pai do que meu próprio pai, infelizmente ele foi demitido porque um dia se atrasou por ter me levado ao parque de diversões após a aula. O nome dele era Valter. Fiquei triste quando o demitiram, ele era meu único amigo.
Bianca a mulher que me arrumava meu quarto, também me ensinava coisas sobre igualdade e união, mas mamãe a ouviu conversando esses assuntos comigo e também a demitiu. Poxa! Nunca fui feliz na minha própria casa. Meus pais não me amavam, eles só queriam uma menina para chamar de filha perfeita, eu os amo, mas não sei por quanto tempo esse amor durará.
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ANGEL
RomanceO amor de uma mãe é mais forte do que qualquer coisa no mundo A esperança é forte e ela foi a única que se manteve viva durante 19 anos O amor, pode ser doloroso