Capítulo 26

3 1 0
                                    

2013

ANGEL

Anos se passaram e finalmente completei meus dezoito anos faltava pouco tempo para completar dezenove. Cresci, mas não muito. Meus cabelos são ruivos – vermelho-cereja – levemente ondulados e olhos verdes-floresta.

Max era meu fiel escudeiro, sempre me defendia quando alguém tentava procurar briga, ele entrava na frente. Eu amava o cuidado que tinha comigo, sempre achei que esse cuidado todo fosse porque éramos irmãos, nunca passou pela minha cabeça ser outra coisa.

Lia tinha dezoito anos quando me contou que Max me amava de uma forma diferente, me amava como mulher.

Achei que fosse coisa da cabeça dela, não consegui acreditar. Ele era minha dupla, nos apresentávamos juntos nos espetáculos da companhia.

Papai tinha cinquenta e oito anos perto dos meus dezenove anos. Ele amava ver eu e Max dançando juntos.

Papai andava preocupado, aparentemente pensativo. Ficou dias pensando em como conversar, ele queria falar algo, mas não sabia o que era. Conhecia meu pai e ele não estava bem.

Depois dias de muito pensar ele me chamou em particular no escritório da companhia, pois passávamos a maior parte do dia dentro dela. Antes de entrar eu pensei que levaria uma bronca enorme, porque um dia antes derramei calda de caramelo na gaveta da geladeira, mas não disse nada, apenas entrei e ouvi.

– Angel, você precisa saber uma coisa.

– O que é papai?

– Quero que saiba que amo você, muito. – Respirou fundo antes de continuar a frase. – Você não é minha filha de verdade... não sou seu pai biológico.

Encostei na cadeira, coloquei a mão na mesa e mantive meu olhar ao chão. Fiquei atônita e em silêncio, não conseguia raciocinar direito. Meus pensamentos foram no início de tudo, lembrei de Sophia, dos momentos em família, pensei em tudo e senti que vivi uma mentira, mas foi a melhor mentira da minha vida. Olhei para o papai e pedi uma explicação.

– Por favor, me explique. – Disse amedrontada. – Se não sou sua filha de verdade, como cheguei até o senhor? Quem são meus pais?

– Encontrei você na porta da companhia dentro de uma cesta e com um bilhete entre os lençóis, mas nele não dizia quem era seus pais, só o nome para te registar. Você era apenas um bebê.

Quando ouvi que realmente não era filha do Tom fiquei meio sem ação, meus olhos se arregalaram e toquei o meu rosto com a ponta dos dedos. Novamente me lembrei dos momentos felizes que passei ao lado de todos. Foi um choque tremendo, imagine! Viver a vida inteira ao lado de pessoas que você via como sua família e... de repente tudo muda. Seus pensamentos, suas lembranças, tudo muda. Fiquei abalada. Precisei pensar muito antes de falar alguma coisa.

Me levantei, andei de um lado para o outro de cabeça baixa e com as mãos na cintura. O silêncio tomou conta da sala, conseguimos ouvir o barulho do tic tac do relógio que ficava pendurado na parede atrás da mesa do papai. Parei de andar, coloquei as mãos no rosto e sentei. Descobri o rosto, olhei fixamente para ele e com voz doce, lágrimas nos olhos eu finalmente consegui juntar as palavras certas para dizer algo.

– Papai. – Segurei as mãos dele. – O que conta não é você não ser meu pai de verdade, mas sim ser o pai que cuidou de mim a vida inteira... eu te amo.

Ao ouvir isso, Tom chorou de alegria juntamente comigo, pois ficou impressionado com minha resposta – acho que ele não esperava aquela reação. Ele me abraçou forte e enxugou as minhas lágrimas.

– Estou orgulhoso de você querida, da menina que se tornou.

– Me tornei o que sou graças ao senhor.

Ele beijou minhas mãos, saímos do escritório de mãos dadas e voltamos para a sala de treinos. Fiquei pensativa, mal concentrei na aula, minhas mãos ficaram inquietas, eu fiquei... sem saber o que fazer, mas uma coisa eu tinha certeza, queria encontrar minha família verdadeira.

Voltarmos para casa, fiquei calada todo o percurso, vim no banco de trás. Papai me olhava pelo retrovisor, mas quando notava que eu olhava de volta desviava seus olhos para a rua. Max percebeu que estávamos estranhos, mas não perguntou nada, só ficou nos olhando. Chorei um pouco.

Chegamos em casa. Papai guardou o carro na garagem. Fui direto tomar banho, fiquei uns trinta minutos no banho, deixei a água molhar todo meu corpo, lavei os cabelos para aliviar a tensão, eu estava triste.

Fiz o jantar em silêncio, Max me ajudou, mas também ficou em silêncio, só me fez uma pergunta.

– Você está bem? – Acariciou meus ombros e me virou de frente.

– Estou ótima, só pensativa.

Ele me abraçou com carinho e senti o amor sendo transmitido pelo toque. Terminei de fazer o jantar e servi. Comenos em silêncio, após comer e chamei papai para conversar, estávamos todos na mesa de jantar quando comecei dizer.

– Papai quero descobrir quem são meus pais de verdade, de onde vim e onde eles moram.

– Contou a ela?

Olhei Max com estranheza e perguntei.

– Você sabia? Sabia que não era sua irmã de verdade?

Ele viu minha tristeza e indignação nos olhos. Com tristeza na voz e lágrimas nos olhos disse.

– Por que nunca me contou? Você... Meu irmão... Que tanto amo... escondeu algo tão importante de mim? Eu entendo o papai não ter contado por medo de me perder ou por amor, mas você podia ter me dito.

– Eu não podia contar sem a permissão do papai e também tenho medo de te perder, você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, eu te amo Angel.

– Também te amo irmão, desculpe ter me alterado.

Abracei meu irmão, acabei descontando um pouco da tristeza nele. Passados alguns minutos, papai resolveu falar.

– Querida, dou todo meu apoio para você encontrar seus pais.

– Obrigada papai.

Ele amou a ideia, a felicidade estava estampada nos olhos dele, mas Max não gostou nada da novidade, pois sabia que se eu encontrasse meus verdadeiros pais iria embora.

Max sempre estava junto de mim, cuidando e protegendo. Ele era meu braço e perna direita. Como eu o amava, não conseguia nem explicar, só amava. Eu amava o amor dele. Ele disse que estava de acordo com minha decisão, mas ele conseguia transmitir sua verdadeira vontade e não era me ver longe, mas sim o mais perto possível.

Meu irmão tinha um amor possessivo, me queria apenas para ele e ninguém mais.

ANGELOnde histórias criam vida. Descubra agora