Capítulo 06

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Apertei o interfone. Uma voz metálica e grave foi ouvida por mim:

— Pois não?

— Não sei se eu tinha que marcar algum horário — respondi. — Na verdade vim praticamente de paraquedas aqui. Preciso dos serviços de um detetive.

— Qual o seu nome?

— Ana Beatriz Fontana.

 Um minuto.

Ouvi o som da porta sendo destrancada e entrei sem fazer muita cerimônia.

Estava diante de uma salinha pintada toda de branco. Ali, havia algumas poltronas distribuídas pelos cantos, um balcão, uma porta que deveria dar acesso a outro ambiente anexo àquela sala, uma televisão bem na parte superior de uma das paredes, quase batendo no teto (prato cheio para torcicolo em qualquer um) e uma mesinha de centro com algumas revistas velhas.

Nenhuma alma viva se encontrava naquele ambiente. Sentei-me em um dos assentos disponíveis e comecei a folhear uma daquelas revistas. Notei que estava sendo filmada, mas como quem não deve não teme, ignorei aquela câmera, que parecia que me encarava do fundo da minha alma, como se pudesse ver os meus pecados.

Lia uma matéria que falava da Britney Spears. Fiquei realmente chocada com cada coisa que soube, com destaque para a ocasião em que ela raspou o cabelo em 2007. Mas pelo que pude notar, tem muito dedo da família dela, sobretudo o pai, no meio disso tudo. Não consigo lhe apontar o dedo e dizer "É louca", afinal, muitos desses famosos que começaram a trabalhar cedo na indústria do entretenimento sucumbem a algum tipo de trauma, comportando-se de um modo estranho para a sociedade.

Além disso, eu amava as músicas da Britney, as meninas idem. Por um momento, me imaginei fazendo uma viagem por esse país de proporções continentais de nome Brasil com Clara e Flávia em minha companhia, tal como a personagem da cantora aqui mencionada fez com as duas amigas no filme Crossroads – Amigas para sempre.

Ignorei aqueles meus devaneios logo, pois eu tinha os meus problemas e Britney Spears tinha os dela. Não demorou para que fosse chamada para comparecer a outra parte daquele escritório.

Abri a porta e tentei disfarçar a surpresa. O escritório do tal detetive não era grande, porém era organizado. Apesar de ter muitos armários, com diversas gavetas, onde julgo que havia alguns arquivos, tudo parecia impecável e limpo. Em uma das paredes laterais, tinha uma estante com pastas e livros; no centro, uma escrivaninha dividia o local – nela havia um porta-lápis, uma ou outra pasta ali presente e um computador.

Contudo, não foi o ambiente organizado ou a simplicidade que me impressionaram, e sim quem estava ali...

Não sei bem ao certo, mas acredito que nessa de eu ter lido um pouco de romance policial na adolescência, com ênfase em Agatha Christie, achava que o tal detetive Edgar Antunes seria algo como um Hercule Poirot da vida, ou então uma versão masculina da Miss Marple, entendem? Personagens muito inteligentes e perspicazes, sem dúvida, porém sem serem muito atraentes...

Edgar parecia ser alto, ombros largos, não forte ao nível bombado, mas suficientemente másculo, ruivo e com a barba da mesma cor e tom que o cabelo curto. Para completar o charme, estava vestido de social e o seu perfume era inebriante.

Por uma fração de segundos, ficamos nós dois nos encarando. Eu, um pouco impressionada por não estar esperando aquilo. Ele, com uma expressão indecifrável no rosto, embora parecesse esboçar um quê de admiração. Talvez isso se devesse ao fato de eu estar um tanto produzida...

Passado o momento um pouco vergonhoso, porque não era mais uma adolescente que fica babando por qualquer homem bonito que aparecia, me recompus.

— Detetive Edgar Antunes?

É pela amizade ou... A história das paulistANAsOnde histórias criam vida. Descubra agora