Capítulo 36

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Ana Flávia

Tenho consciência de que hospital não é dos melhores locais para se levar uma criança, ainda mais se você quer visitar uma pessoa muito querida e que está internada na Oncologia.

Entretanto, esse é um dos muitos ônus da maternidade solo. Sendo assim, Gabi entrou comigo, como já acontecera em outras oportunidades, na ala daquele centro médico.

Espertinha como sempre, minha filha já foi logo entrando e abraçando a professora Ana Rosa. Era incrível como, em tão pouco tempo, a mulher mais velha se afeiçoou à minha pequena.

Por um lado, eu era, como mãe, mais do que grata, pois gosto de quem gosta da minha cria. Por outro, já era sabido o estado de saúde de Rosa. Era provável que a única criança presente naquele local vivenciaria algo que não vivi até então: a perda de alguém querido.

Só que posso não ter perdido alguém para a morte ainda, mas perdi para algo que pode ser pior: os rumos da vida.

Só que posso não ter perdido alguém para a morte ainda, mas perdi para algo que pode ser pior: os rumos da vida

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Agosto/Setembro de 2005

Aquele terceiro ano só faltava querer a nossa alma!

Não dava tempo de sair com as meninas para qualquer lugar, não que fôssemos as maiores baladeiras – aquela noitada nossa havia sido uma exceção, frise-se.

Também não dava para sequer... namorar..., mas chegarei nessa parte em breve.

O que talvez tenha amenizado a minha situação foi uma viagem a trabalho que meu pai fez no mês de julho para o Japão, nosso país ancestral. O que isso tinha a ver comigo? Ele simplesmente voltou trazendo o que eu não esperava: um computador e uma filmadora.

— É para você, Ana Flávia — ele disse. Eram raras as ocasiões em que eu era chamada de filha por seu Hiroshi ou por dona Sayuri.

— Obrigada! — Realmente, estava agradecida pelos presentes recebidos.

— Você merece depois de tantos anos de esforço. Continue assim.

Era a maneira de ele dizer que estava orgulhoso de mim. Nem dei muita bola, por já estar calejada com o jeito distante tanto dele quanto de minha mãe.

Mal pude me conter e logo mostrei para as meninas as belezinhas que havia ganhado. O destaque era o meu computador. Tratava-se de um aparelho relativamente grande, de cor branca. Possuía estabilizador, monitor, caixas de som, teclado, microfone e tantos outros acessórios.

— E o melhor: tem internet, coisa que quase ninguém desse prédio tem ou usa — falei em êxtase.

— É uma graça mesmo, parabéns, Flávia! — saudou uma delas, porém, era visível o desinteresse de ambas. Conhecia-as muito bem: não estavam me invejando, nem nada do tipo. A verdade era que nenhuma delas estava muito acostumada àquele tipo de tecnologia.

É pela amizade ou... A história das paulistANAsOnde histórias criam vida. Descubra agora