Capítulo 15

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Fevereiro de 2003

É... crescemos um pouco mais.

Flávia tinha um estilo mais relaxado ao se vestir e o jeito extrovertido ainda imperava em sua personalidade. Clara continuava o doce de sempre, o cabelo um pouco mais armado e o cérebro cada vez mais aguçado – oh menina que pensava rápido! Já eu, acho que fui a mais mudada. Estava ainda mais alta, meu corpo começava a criar curvas e meus seios de desenvolveram. Tudo isso graças a um episódio íntimo que me ocorrera no ano passado: a primeira menstruação... Sério! Minha mãe quase deu uma festa quando soube disso, me matando de vergonha no processo.

Finalmente, as meninas e eu saímos do Ensino Fundamental e fomos para o Médio. Apesar de estarmos ansiosas com a chegada dessa nova fase na nossa vida escolar, um sentimento de receio nos dominava quanto a isso. Será que ficaríamos na mesma turma como desde sempre? Tudo bem que esse medo vinha para nós em todo início de ano letivo, mas com o tempo, fomos nos acostumando e lidando melhor com essa ansiedade tão característica de um retorno às aulas. Contudo, o Ensino Médio era realmente diferente do primário e do ginásio, daí a nossa expectativa.

Felizmente, estávamos juntas de novo (o Brasil comemora), com a diferença de termos nos mudado para o período da manhã. Seria um pouco chato acordar cedo e, provavelmente, lidar com uma aula de Matemática em pleno horário das sete da manhã. Entretanto, não seríamos legítimas paulistanas se ficássemos de corpo mole por conta de algo que nem seria para sempre em nossas vidas.

— Vai ver a direção da escola acha esteticamente agradável colocar assim na lista de alunos da nossa sala: Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia... — uma de nós chegou a comentar com deboche.

Estava eu, recém-acordada às seis horas da manhã, animada com o primeiro dia de aula. Um ruído ou outro que vinha do teto foi ouvido por mim, logo, presumi que Flávia já estava de pé. Clara, mesmo não morando acima do meu apartamento, já deveria ter despertado às cinco, se bobear.

— Tem certeza que não quer que seu avô te leve? Está cedo... Ele também não se importaria de levar as meninas — sugeriu minha mãe pela enésima vez naquele começo de manhã.

— Não, mãe, fique tranquila! — respondi. — As garotas e eu fazemos esse caminho, ida e volta, sozinhas há anos. Não é porque agora estamos indo mais cedo que alguma coisa irá mudar, não?

Parecia ser besteira ou paranoia materna, porém, eu entendia parcialmente o que mamãe queria dizer com aquilo. O mundo estava ficando mais perigoso dia após dia. Não à toa, meses depois dessa conversa tão trivial entre nós duas, ocorreu aquele caso que parou o país: a adolescente deu uma escapada com o namorado e os dois acabaram mortos por um grupo de bandidos, sendo um deles menor de idade na época. Não discordo que houve sim imprudência por parte do casal de jovens, mas, por outro lado, é triste eles terem pagado com a própria vida por isso, ainda mais a moça que passou por coisas que não quero falar, porque isso me afeta até como mulher.

Óbvio que, quando esse crime veio à mídia, dona Maria das Dores aproveitou para me passar mais sermão, dizendo que era por essas e outras que ela se preocupava e zelava muito por mim. Rebati:

— Entendo, mãe, mas não é como se eu fosse sumir por aí e acabasse perdendo a vida...

Depois vi que foi até insensível essa minha fala, porém, foi o que pude dizer com aquela mentalidade tão típica de adolescente. Agora, se eu iria cumprir a minha promessa, isso seria outros quinhentos...

Mas voltando ao início do ano escolar, saí de casa marcando de me encontrar com as meninas na portaria do prédio. Logo, rumamos para o colégio.

No caminho, conversávamos animadas e, ao chegar ao nosso destino, já fomos para a sala de aula que nos foi designada. Como de praxe, nos sentamos próximas uma da outra e continuamos o nosso falatório antes da chegada de quem lecionaria no primeiro período.

É pela amizade ou... A história das paulistANAsOnde histórias criam vida. Descubra agora