Ana Beatriz
Próxima estação: Bresser-Mooca (nossa casa)
Aquele mesmo velho sentimento de apatia me dominou por completo. Era horrível não conseguir se sentir bem ou mal. Parecia que um vazio grande e pesado estava dentro de mim. Agradeci, ao menos, por ser fim de semana. Certamente, não teria cabeça para encarar a minha rotina normal depois de saber tanta coisa.No final da manhã de sábado, as meninas tinham partido para as suas devidas casas. Eu sabia que seria muito difícil nos separarmos de novo, visto o que passamos e enfrentamos juntas. Apesar de eu estar achando ruim o sentimento estranho, isso ainda era melhor que qualquer pensamento mais mórbido que, eventualmente, tenha invadido a minha cabeça caótica. E provavelmente não sucumbi totalmente à tristeza por causa da intervenção de Clara e de Flávia.
Ainda assim, não estava bem, como já disse. Precisava talvez chorar mais um pouco, desabafar com alguém, entre outras coisas. Cheguei a pensar em minha mãe como alguém que me desse esse tipo de amparo, mas logo descartei a ideia.
Foi assim que, depois de muito matutar, decidi ir a um lugar. Não se tratava de um local confortável para a maioria das pessoas, mas eu precisava estar lá.
Desse modo, voltei para o Cemitério da Quarta Parada...
— Oi, nonno! — comecei assim que cheguei àquele mesmo túmulo. — Vim aqui porque prometi que voltaria, mas também porque preciso. Eu sei... Soa um pouco oportunista, mas o senhor sempre me foi todo ouvidos e nunca me julgou, pelo contrário...
Mais uma vez, discursei, ri, chorei, mesmo que a "conversa" ali fosse mais como um monólogo. Pensando nisso e antes de me despedir, declarei:
— Queria que o senhor estivesse aqui, vovô. A vida era tão mais fácil quando você... ah! Você sabe...
Contudo, a simples ida àquele lugar já diminuiu um pouco o peso em meu coração, de modo que retornei para a casa um pouco menos taciturna.
De noite, veio o que foi e o que não foi uma surpresa.
— Nonno?
De novo, estava eu sonhando com o seu Francesco, com ele marcando presença no apartamento que um dia foi seu.
— Você fez tutto muito bene, Anna Beatrice — disse ele.
Compreendendo as suas palavras, rebati:
— A que custo, vovô?
— Ao custo da verdade.
— Uma verdade bem dolorosa...
Ele parou, me analisou com aquele seu costumeiro ar de sabedoria e deu a sua réplica:
— Veja o que aconteceu com as suas amigas e com você no passado. No acha que fica uma mensagem para tutte vocês?
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
Storie d'amoreMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...