Ana Flávia
Depois da nossa reuniãozinha, voltei para a casa. Ainda estava sozinha, pois Gabi não havia regressado (seu retorno ocorreria em poucos dias). Aproveitei o tempo que tinha só para mim para me dedicar a algo que queria fazer a um tempo: pintar um novo quadro.
Sim, tenho um espaço em casa reservado apenas para algumas pinturas que fiz e faço. Não é nada muito sério ou profissional, apenas me distraio. Também esqueço do mundo lá fora, ao ponto da minha filha me telefonar, contando sobre as suas férias com o pai, e, três dias depois, Clara começar a encher nosso grupo de WhatsApp, preocupada com Beatriz, com mensagens, fazendo-me imitá-la em seguida.
Dei uma última encarada na tela que comecei a pintar. Quase tudo o que eu queria estava retratado ali, com destaque ao cenário – a própria cidade de São Paulo –, mas faltava algo... Ignorei meus pensamentos de artista frustrada e saí de casa disposta a ir junto com uma amiga para o apartamento da outra.
Clara e eu havíamos combinado de nos encontrar na Estação Sé do Metrô. Dali, seguiríamos viagem até o prédio onde, um dia, residimos.
Pensando bem, para mim ficou um pouco fora de mão fazer o desembarque na referida estação. Ali já era caminho até descer na Bresser-Mooca, porém quis me certificar de que minha amiga biomédica estivesse, ao menos, segura e inteira. Ainda estava apreensiva com aquele sumiço de Ana Beatriz.
— Oi, querida!
Não demorou para que nós duas nos avistássemos, nos cumprimentássemos e embarcássemos no próximo trem. Estávamos sentadas, sem dizer nada uma para a outra – notei que Ana Clara estava tão nervosa quanto eu.
Não tão longe das nossas vistas, duas garotas estavam em um determinado assento daquele transporte. Elas portavam uma mochila entre os seus colos. Impressão minha ou tinha algo diferente naquelas meninas desconhecidas?
E foi assim que minha mente viajou para o passado, mais precisamente para o ano de 2003.
2003
Após aquele episódio horroroso da briga em que as meninas e eu nos metemos, os dias até que foram transcorrendo bem.
Óbvio que alguns ainda nos olhavam com desconfiança, mas isso não era nada perto de qualquer represália, ou mesmo ameaça, que poderíamos ter recebido. Acho que tudo terminou em pizza. Nem mesmo aqueles garotos encrenqueiros receberam qualquer tipo de punição.
Passada aquela maré, tudo para mim começou a mudar após o professor de Matemática nos passar um trabalho pouco convencional para a disciplina:
— Vocês terão que ler e resumir o livro O homem que calculava. Fiquem livres para realizarem a tarefa em grupo ou sozinhos. O prazo de entrega é para daqui a um mês.
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomansaMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...