Ana Clara
Que semana intensa! E olha que ela nem foi finalizada ainda...
Como chegamos naquele ponto mesmo?
Em um dia, estava eu, na companhia das meninas, no depósito do prédio em que morei, contando a pior coisa que me aconteceu. Depois, tive que repetir esta história horrorosa para o detetive e sua colega escrivã de polícia. E finalmente, acabei entrando em um plano maluco para incriminarmos o Fabrício – usando Isabela como uma espécie de isca – e acharmos mais provas contra ele em sua própria casa.
Para piorar tudo, acabei descobrindo, tardiamente, que havia encaminhado o e-mail da Flávia para aquele canalha e aliciador de menores. Isso fez com que o calhorda mandasse aquela mensagem vergonhosa para ela. Aliás, ele também enviou aquilo para mim, com a diferença que apenas eu recebi aquilo, como um cala a boca.
No início da noite de quarta-feira, saí de casa carregando uma grande culpa. A descoberta recente não foi, de modo algum, libertadora. De repente, era como se Flávia e eu tivéssemos nos tornado estranhas uma para a outra. Não conversamos mais a partir daquele dia e, quando precisamos nos reunir com os outros, mal nos encaramos.
Chegando ao metrô, comecei a trocar algumas mensagens no grupo de WhatsApp que Raquel havia feito para nós. Ao ver o nome da Flávia ali, senti como se o mundo desabasse sobre mim. Suspirei e segui o meu caminho.
Já nos acessos da linha azul da Estação Luz, fiquei pensando sobre os recentes acontecimentos. Era tanta coisa em jogo, tanta gente que dependia do sucesso daquele esquema... Tudo isso se misturava com as lembranças boas que mantinha ao lado das que eram minhas amigas de longa data. A questão era: será que manteríamos a amizade? Foram diversos os desencontros e as decepções...
A resposta a esse questionamento eu só descobriria ouvindo Beatriz e Flávia, especialmente a última. E foi quando Raquel mandou a mensagem, avisando que Isabela estava chegando, que tomei uma atitude.
O certo era ir direto para a saída da CPTM da Luz, onde a adolescente estava indo desembarcar. No entanto, decidi que pararia no meio do caminho e tomaria outra direção.
Meu destino: o acesso à linha amarela.
Entretanto, veio a surpresa:
— Clara!
Bem na divisa entre as linhas azul e amarela estava ela ali... Flávia!
Eu sabia que ela não iria desembarcar, já que teria que voltar para pegar o metrô e ir à casa do Fabrício. Contudo, sua presença ali ainda me surpreendia.
Apesar do receio aparente em sua feição, havia algo a mais em seus olhos cheios de expectativa. Andamos mais depressa ainda. Houve alguns segundos de puro silêncio, porém fui procurá-la para tentarmos por os pingos nos "is" e era isso que eu iria fazer.
— Fugi um pouco do combinado — eu disse —, mas queria te encontrar primeiro...
— Eu também — ela me interrompeu. — Eu...
— Preciso falar com você — dissemos em coro. Se tivéssemos ensaiado, não teria ficado tão perfeito.
Trocamos um sorriso tímido. Instintivamente, direcionamo-nos para um canto, pois o movimento de pessoas era intenso naquela estação. Prossegui:
— Jamais deveria ter encaminhado aquele seu e-mail para o Fabrício. Nem sabia o que estava fazendo, só que me sinto tão culpada... Se eu não tivesse feito isso, ele não teria te mandado aquilo e... Deus do céu! Você não teria terminado com a Raquel...
Fui parada diante de um gesto da outra. Surpreendentemente, ela agarrou as minhas mãos e tornou a me olhar com aquela mesma expectativa. Respondeu:
— Não te culpei em nenhum momento, Clara. Na verdade, quem está se sentindo culpada sou eu...
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomanceMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...