Capítulo 27

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Três dias se passaram desde o reencontro que tive com Juliana.

Como prometido, mamãe foi com ela, no dia posterior à toda essa loucura, fazer uma espécie de entrevista com os seus superiores na creche. Pelo que entendi, deu tudo certo.

É... Ela merece depois de tanta coisa que passou. Depois de tanta perda e desencontros em sua vida...

No segundo dia, Juliana e eu passamos algumas horas juntas. Talvez por instinto, não saímos. Ela se prontificou a fazer o almoço. Devo admitir que tudo o que foi preparado por suas mãos estava deveras muito bom. Realmente, minha mãe acertou em sugerir aquele emprego para a loira.

A outra parte do dia foi reservada a uma pequena pendência de minha parte: o retorno ao hospital. Era irônico pensar que eu havia faltado à minha primeira consulta, após a minha alta, justamente por causa do Paulo. Aliás, depois de tudo o que me foi revelado, meu nojo por ele apenas aumentou.

Saí do prédio, não sem antes de me certificar que minha mãe (que estava de folga naquele dia) fosse fazer companhia à minha mais nova hóspede.

Agora que estava mais adaptada à vida fora de uma clínica, pude reparar com mais calma naquela estrutura quase faraônica que era aquele hospital.

Tratava-se de uma grande construção. Deveria ter no mínimo uns vinte andares. Em seu interior, logo no térreo, havia uma recepção com alguns funcionários atendendo os pacientes. Pedi informação sobre o doutor Horácio e expliquei, meio que por cima, a minha situação, frisando que estava tudo marcado de antemão.

Já estava eu com um crachá de visitante cruzando as catracas para dentro daquele local. Tudo ali parecia muito igual, com grandes corredores que pareciam intermináveis e várias portas e salas a cada andar que passado.

Rapidamente, consegui localizar o doutor Horácio, que estava em um consultório do terceiro andar. Ele já foi me dando uma bronca sutil:

— Olha só se não é minha paciente indisciplinada e fujona?

Tomei um assento e apenas dei um sorriso, falso (frise-se), como se quisesse dizer que não era pra tanto. Se faltei à consulta era por uma boa causa. No entanto, o médico ali era boa pessoa e, pensando bem, aquele puxãozinho de orelha não era totalmente injusto...

Depois daquele início com um tempero de constrangimento, ele logo foi me explicando que eu teria que colher alguns exames. Também foi me passando a guia com tudo o que solicitou. Em seguida, alguém havia chegado naquela sala.

— Ah! Que bom que chegou, Ivone! — disse o doutor. — Preciso que acompanhe a senhorita Ana Beatriz Fontana e colete os exames dela.

Quanta formalidade! Pensei em ralhar com aquele "senhorita" proferido, mas me limitei a somente olhar para trás e sorrir para aquela enfermeira tão simpática.

Saímos daquele consultório e, enquanto íamos para o local de coleta, tratei logo de puxar assunto com Ivone:

— Como vai?

— Vou bem, minha filha. Era eu que deveria perguntar isso para você.

Rimos de maneira breve e paramos no lugar onde seriam coletados os exames pedidos. Era uma sala relativamente grande, separada por algumas cabines e, em cada uma, tinha um banquinho (onde me sentei) e uma peça metálica que servia de apoio ao braço.

Assim que a enfermeira veio com alguns tubos e furou uma agulha em meu braço, tratei de virar o rosto para o lado. Não queria olhar aquele procedimento.

— Pronto, menina grande! — Era Ivone toda risonha. — Está quase tudo pronto. Um mulherão alto desse com medo de agulha...

— Quase tudo pronto? — falei ignorando o gracejo da outra mulher. — Vai me espetar mais?

É pela amizade ou... A história das paulistANAsOnde histórias criam vida. Descubra agora