Capítulo 17

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No caminho, só se ouvia o ronco do motor do carro do Edgar. Eu estava muda no banco traseiro junto com as meninas que me acompanhavam, já o detetive dirigia com uma expressão indecifrável no rosto, um tanto desconfortável até. Volta e meia, eu fechava os olhos pedindo ao Universo para que nos abençoasse naquela viagem que certamente seria longa.

São Paulo é uma cidade enorme, destoante mesmo de outras capitais ao longo desse nosso Brasil. Dependendo do ponto de partida e de chegada, não seria muito difícil que o percurso fosse tão demorado, como era o nosso caso naquele momento.

Nessa de ser uma grande megalópole, a capital paulista também abriga as suas contradições. Amo o lugar onde moro desde que nasci, porém não sou ingênua: a cidade em questão tem os seus problemas e as suas mazelas sociais. É aqui que entra o tal distrito do Grajaú. Diferente da Mooca, da Vila Maria e de Pinheiros, este bairro, além de ser longínquo, também é mais pobre, menos desenvolvido, com poucas opções de trabalho e de lazer, entre outros elementos.

De fato, chegando ao Grajaú, não foi difícil notar conjuntos habitacionais (maneira bonita de se dizer favelas), ruas com um asfalto bem questionável e casinhas mais simples.

— Só mesmo você e o namoradinho dos tempos de escola para enfiar nós todos no meio do nada que é o Grajaú — sussurrou Flávia discretamente para mim. Elevando a voz, disse para Edgar: — Espero que o senhor esteja armado, detetive.

Olhei para ela com indignação, prestes a começar uma nova discussão, porém o único homem ali presente parou o carro repentinamente. Logo anunciou:

— Chegamos.

Fiquei um pouco assustada, pega um pouco desprevenida com a nossa chegada. Virei a cabeça para o lado, direcionando o olhar para uma casa que tinha me chamado a atenção. Indaguei ao detetive:

— Qual é o endereço da casa do Paulo?

Ele tirou os óculos escuros, virou-se para mim com aquela mesma feição estranha e afirmou:

— É essa casa mesmo para onde você olhou.

— Como... — Eu estava confusa.

— Sua cabeça rodou quase 360 graus ao bater o olho ali — respondeu ele com certa graça. — Deu para notar pelo retrovisor...

As outras duas deram uma risadinha, fazendo com que eu me sentisse ridícula e traída ao mesmo tempo.

Saímos do veículo e encarei mais uma vez aquela habitação no mínimo peculiar. Um portão de madeira quase que totalmente fechado separava a residência da rua, embora desse para notar que se tratava de um sobrado. A estrutura era grande, pintada em uma cor laranja, mas nada berrante, e principalmente, destoante dos demais imóveis que se encontravam naquela rua. Não que as outras casas fossem extremamente humildes, só que a suposta morada do Paulo se destacava de um modo até imperativo. Era de se estranhar que uma construção como aquela estivesse em uma localidade de São Paulo tão simples.

— Vocês vão demorar? — indagou o rapaz que nos trouxe.

Clara e Flávia iriam abrir a boca para responder à pergunta do ruivo, porém fui mais rápida:

— Acho que sim. Caso queira, pode retornar para a Mooca. Qualquer coisa, pegamos o transporte público de volta para a casa. — Sorri.

Edgar ficou me olhando com aquele velho ar analisador, contudo, não protestou. Ele entrou no seu veículo e deu a partida. Quando mal dobrou a esquina, fui enxurrada pelos olhares inquisidores das minhas duas amigas. Perguntei, um pouco impaciente:

— O que foi agora, gente?

As duas ficaram me encarando com a boca um pouco aberta e com a feição indignada. Flávia foi a primeira a voltar a si:

É pela amizade ou... A história das paulistANAsOnde histórias criam vida. Descubra agora