Marquei com o Edgar de nos encontrarmos às vinte horas. Entretanto, já estava praticamente pronta para aquele jantar um pouco antes dos ponteiros do relógio darem a sua décima nona volta do dia. Brasileiro não é muito famoso por ser pontual e eu mesma estou longe de fugir dessa nossa característica. Ao mesmo tempo, todavia, não sou do tipo que fura compromisso chegando mega atrasada, fora que contava a minha ansiedade por causa daquele encontro.
Após um banho de quase meia hora, estava terminando de me aprontar no meu quarto. Um par de saltos pretos calçava meus pés. Um vestido de cor vermelha com duas alças finas e que ia até pouco abaixo dos meus joelhos era a peça principal. No rosto, havia uma maquiagem leve, a não ser pelo batom, também vermelho, que combinava com a roupa que eu usava.
Ao encarar o meu reflexo no espelho, não pude evitar de me lembrar de uma música – The lady in red –, a qual a minha mãe adora. Realmente, estava uma bela dama de vermelho.
Por falar em mamãe, eu estava para sair (sim! "Pontualmente" às dezenove...) quando nós duas nos esbarramos na sala do apartamento 21. Um pouco chocada (modéstia à parte, eu deveria estar maravilhosa), ela indagou:
— Vai sair?
Sei que não é certo mentir, mas também não era a coisa mais confortável do mundo responder que eu iria a um encontro com o cara de quem estava gostando. Além disso, dona das Dores parecia estar vigiando os meus passos – a cena dela comendo pizza comigo e com as meninas no dia anterior e nos interrogando ainda reverberava na minha cabeça. Aliás, teorizo que ela não tenha ficado convencida com a nossa desculpa de passeio no shopping... Pensando nisso, o jeito era ser honesta, porém sem falar demais:
— Vou a um jantar
— Um jantar...
Não perguntou, afirmou, como se quisesse pegar algo a mais e que eu não estava disposta a entregar.
— Sim, mãe, um jantar.
— Com quem?
Meu Deus! Como estava me sufocando aquele seu olhar analisador!
— Com... um conhecido... — A essas alturas, meu nervosismo era nítido.
— Um conhecido... — Tornou a me imitar e, como se uma lâmpada se acendesse em sua cabeça, prosseguiu: — Espera aí! É com aquele detetive de quem você fala há mais de um mês?
Creio que meu coração tenha falhado uma batida. Questionei-me se era tão transparente assim.
— Como....? — Tentei perguntar.
Dessa vez, a ansiedade foi a minha grande traidora. Só aquela pergunta não formulada fez com que a mulher mais velha tivesse entendido tudo.
— Ai, Ana Beatriz, esse seu jeito expressivo e gestual tão típico dos italianos te entrega... — falou ela entre risos.
— Eu poderia estar indo me encontrar com as garotas — retruquei em um leve tom de protesto.
— Faz-me rir! — rebateu com aquele jeito risonho misturado com determinada falta de delicadeza tão típicos de sua personalidade. — Quem fica linda assim só para ver umas amigas de infância? Vocês já saíram juntas outras vezes e você não estava vestida desse jeito. — Fez um gesto apontando para mim de cima a baixo. — Pensando bem, as duas saíram contigo ainda ontem, é óbvio que vocês três não sairiam juntas de novo hoje.
Suspirei em derrota, o jeito era confessar tudo:
— Tudo bem. Edgar me convidou para jantar. Satisfeita?
Ela voltou a rir e completou:
— Olha que da maneira que você fala dele, ele parece ser um belo de um partido...
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomanceMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...