Mooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...
Inacreditável como faltava pouco mais de dois meses para finalizar o ano. E que ano!
Minha vida continuava na mesma, idem das pessoas que me cercavam. Falava de vez em quando com as meninas no WhatsApp, mas era coisa de desenrolarmos um assunto em um dia para ficarmos dois ou três sem trazer algo novo. As aulas do cursinho e de Informática me consumiam e eu só queria saber de descanso após uma rotina cansativa de estudos.
Entretanto, sentia que estava me esquecendo de algo. Foi mamãe quem me lembrou disso:
— Estamos em outubro, não é filha? — disse ela numa noite. Jantávamos juntas no apartamento 22.
Encarei-a com um pouco de incredulidade ao ouvir algo tão óbvio, porém me limitei a acenar positivamente em resposta. Ela ficou ora olhando para mim, ora olhando para os lados, como se quisesse falar alguma coisa. Não resisti:
— O que foi?
— É que... seu aniversário está se aproximando...
Quase bati minha própria mão na testa em sinal de auto-burrice. Por um momento, me recordei da infância e da juventude, em que eu saía anunciando, com antecedência, as festinhas dos meus aniversários como se fossem o evento do século. Já hoje, consegui a proeza de me esquecer da data em que nasci.
Eu disse que a rotina que estava levando me sugava...
Pensando nisso, tentei cortar qualquer ideia de comemoração que minha mãe deveria estar planejando:
— Mãe, não sei se quero...
— É seu primeiro aniversário depois que você acordou... — respondeu com uma entonação na voz que me comoveu.
Era isso que era se tornar adulto? Virar alguém desumano e insensível? Novamente, estava lá eu, a idiota, ignorando o que passei. Pior: o que minha própria mãe deve ter passado.
Refleti com mais calma. Concluí: por que não? Poderia não estar mais na época de ganhar uma festa de arromba, mas eu tinha o que comemorar. Poderia me dar o direito de realizar uma verdadeira celebração à... vida! À minha vida! Ao meu renascer!
Sorri e dei a minha palavra final:
— Está pensando em algo?
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Os dias foram se passando até vir a data do meu aniversário. A festinha estava prestes a começar no apartamento 22. Eu estava trajando um vestido formal amarelo e calçava um par de sapatilhas.
Vinte oito anos completados, porém era como se eu estivesse fazendo dezenove... Enfim, não era hora de lamentar e sim de festejar!
Clara e Flávia – esta acompanhada de sua filhinha – chegaram no início da tarde. Assim que me viram, seus olhos brilharam. Não se tratava apenas do meu aniversário, mas também de um reencontrinho nosso após semanas sem nos vermos pessoalmente. Elas foram logo me abraçando e me desejando os mais sinceros votos de felicidade. Ana Clara até chorou.