— Podemos matar dois coelhos numa cajadada só — disse Raquel.
— Eu não entendo... — falei.
— Ontem — continuou ela —, a Ana Clara, em seu depoimento, disse que perdeu aquela peça de roupa quando esteve na casa do professor pedófilo... Aliás, constatei que ele ainda mora no mesmo endereço.
Fiquei satisfeita por Raquel ter falado sobre a minha amiga sem ter expressado nojo, tampouco moralismo. Questionei em meu íntimo o tipo de profissional que era. Parecia tão empática e proativa. Mas onde ela queria chegar com aquele raciocínio?
— Já vi casos assim, do tempo que tenho na polícia — a escrivã ainda dizia. — Fabrício parece ser do tipo, digamos, colecionador. Ao que tudo indica, ele pega itens relacionados às merdas que fez e faz pertencentes às suas vítimas.
— O que está planejando exatamente, Raquel? — indagou Edgar. — Por acaso está pensando em entrar na casa dele e pegar esses itens?
— Sim — a moça afirmou categoricamente. — Mas não pensei em pegar essas coisas e sim ver se há provas do vídeo que foi mandado para a Ake... Ana Flávia.
— Isso pode ser arriscado... — ponderou o detetive. — Não temos garantia alguma de que algo relacionado àquele vídeo esteja lá. Como você entraria na residência dele sem ser notada?
— É aqui que entra a Isabela. Já que ele irá se encontrar com ela amanhã à noite, terei a oportunidade perfeita de invadir a casa dele.
— Ela não irá ao centro da cidade à noite para se encontrar com aquele bandido! — O ruivo se levantou de sua cadeira, visivelmente alterado.
— Edgar... — Ergui-me também, fazendo um gesto para o rapaz. — Calma...
Ele pareceu me ouvir e voltou a se sentar. Raquel seguiu, direcionando-se para o investigador:
— É a nossa chance, meu amigo. Você pode, ou melhor, deve ir atrás da sua irmã amanhã. Temos que mantê-la segura diante dessa situação. E como eu disse, farei a busca na casa do infeliz.
— Apesar de meio doido — manifestei-me —, é um plano que, na teoria, pode funcionar..., mas por que não simplesmente denunciamos? Já temos uma prova, que é as mensagens que ele trocou com a Isabela, não?
— Não temos tempo, Ana Beatriz — respondeu a escrivã. — Pode me chamar de hipócrita, só que a própria polícia não fará grandes coisas. Conheço o meu trabalho. Temos que agir rápido!
Flávia, que até então estava quieta, se pronunciou:
— Muito bem. E onde entramos nessa história?
— Onde vocês entram? — Raquel repetiu a pergunta com incredulidade. — Olha! Isso que estou falando não é um passeio ou uma aventura por São Paulo!
— Você só conseguiu bolar esse plano após os relatos que a gente... — A nipo-brasileira apontou para as "Anas" presentes. — ... deu. Vocês que me perdoem, mas se não fosse por nós, Isabela poderia estar correndo um perigo enorme amanhã. Quem sabe se não correria até risco de vida.
— Vira essa boca para lá!
Tentei repreender Ana Flávia, embora não quisesse recriminá-la. Admito que cheguei a ficar tentada em fazer parte daquilo. Entretanto, ponderei:
— Não pode dar ruim entrarmos assim em uma casa?
— Há sim punições para invasão de domicílio — respondeu Raquel. — Por outro lado, no caso de algum crime sendo cometido, é permitido que qualquer pessoa adentre uma residência e é nisso que estou me baseando... Em outros termos, estou disposta a correr esse risco.
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomanceMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...