Ana Clara
Estava eu diante da professora Rosa. Era ainda difícil digerir o estado de saúde no qual ela se encontrava.
— Você está diferente, Clara — comentou ela. — Há algo em ti que fica diferente a cada dia que passa. Até parece que você está brilhando mais.
— Você acha?
Teria ganhado o meu dia depois de ouvir aquele elogio. Parando para pensar, mal tenho cuidado de mim mesma ao longo das últimas semanas. Entretanto, as seguintes palavras proferidas pela minha antiga docente me gelaram:
— Acho, embora seu jeito também seja muito enigmático. Mas não se preocupe ou se sinta exclusiva, a Flávia e até mesmo a Beatriz também carregam esse ar misterioso.
Pensei em contar algo a ela, só que a coragem, tão necessária, se fazia ausente. Não tardou para que certas memórias voltassem com força em minha mente.
Agosto de 2005
Até agora era inacreditável, para mim, que as meninas e eu tenhamos conseguido ir àquela balada e voltado para a casa sem sermos notadas. Naquela noite, o gostinho de ter quebrado as regras havia me ocasionado uma felicidade inexplicável.
Contudo, nem tudo é festa nesta vida e a realidade sempre bate à nossa porta. Logo, estávamos já diante do segundo semestre do ano letivo de 2005 e para o retorno do que seriam nossos últimos meses estudando juntas.
Era aula da professora Rosa e ela já veio dando tarefa para a turma:
— Então classe, já vimos praticamente todas as escolas literárias ao longo desses quase três anos de Ensino Médio. Todavia, tenho que abordar outros gêneros textuais que vão além da Literatura e é isso que vai consistir o trabalho que darei a vocês...
Ela foi nos explicando sobre resenha. O trabalho em questão seria algo até que simples: deveríamos selecionar alguma obra da Literatura, portuguesa ou brasileira, do gênero prosa e fazer uma crítica em cima disso.
— Dou o prazo de um mês para que me entreguem os seus textos — continuou dizendo ela. — Além disso, cada um de vocês terá que apresentar o livro escolhido e parte do seu trabalho. Os seminários ocorrerão uma semana após a entrega das resenhas, que é quando estarão devidamente corrigidas.
Nem preciso dizer que houve bufadas de frustração, xingamentos inaudíveis e até um quase protesto após aquela tarefa passada. Ana Rosa, pleníssima como sempre, simplesmente ignorou tudo aquilo e seguiu com a sua aula.
Não estávamos desanimadas com o dever. Ao contrário: as meninas mesmo pareciam até extasiadas.
— Já até sei a obra que irei fazer a resenha. Foi uma que vimos ano passado: A Moreninha do Joaquim Manuel de Macedo. Acho tão romântica...
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomansaMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...