Aviso: O capítulo contém cenas de morte, não muito explícito, mas o conteúdo citado está presente.
***********************************************************************
De novo, aquele mesmo filme sobre a minha vida passou pela minha cabeça em uma fração de segundos. Será que, mais uma vez, o nonno viria me salvar tal como foi na casa do professor criminoso?
Não poderia entregar tudo nas mãos da minha própria sorte. Como Clara e Flávia reagiriam ao saber que, hipoteticamente, morri nas mãos de quem foi meu namorado do passado? E Edgar? Seria justo deixá-lo sozinho estando nós dois tão apaixonados um pelo outro? E mamãe? Ela já teve que conviver com os meus anos de coma, certamente não resistiria caso eu saísse dessa situação sem vida...
Foi assim que mais uma estratégia passou pela minha cabeça. Teria que apelar para algum sentimentalismo do meu algoz, se é que ele existia... Eu tinha que arriscar. Era tudo ou nada!
— A gente não precisa terminar a nossa história assim, Paulo — comecei dizendo com a voz embargada. — Não precisamos ser dois inimigos...
Ele ainda mantinha o dedo no gatilho da arma, sem ainda apertá-lo de vez e, com isso, efetuar o disparo. Continuei:
— Há tantos ex-namorados que terminam bem e até se tornam amigos...
— No nosso caso, isso é impossível — interrompeu-me.
No meu íntimo, não poderia discordar dele. Chegamos a uma situação em que era impensável uma redenção. No entanto, era minha própria vida que estava em jogo ali. Teria que mentir se fosse preciso.
— Se você me conhece — insisti —, sabe que sou capaz das atitudes mais loucas e passíveis de julgamento. A prova disso foi eu ter tentado te ver, há três meses, na sua casa.
Ele me olhou com confusão e desconfiança. Notei um leve tremor na sua mão, a mesma que segurava o revólver. Claramente, estava inseguro, sem ter muita certeza do que faria em seguida. Tive que me aproveitar do seu momento de hesitação:
— Não é tarde para você, Paulo. Se você deixar a mim e a Juliana em paz, eu não te entrego e a convenço a fazer o mesmo...
— Você, a inútil da minha esposa e suas amiguinhas, não é?
Sua réplica havia me pegado realmente de surpresa. Por que mencionou Clara e Flávia assim do nada? Eis a sua resposta:
— Pensa que não sei que você e elas foram à minha casa em julho?
Apesar de ter saído como pergunta, sua frase era mais como uma afirmação, como se quisesse constatar um fato já sabido por si. Acho que me equivoquei: um pouco de inteligência habitava o cérebro daquele homem e eu subestimei isso.
— Elas não... — tentei formular alguma coisa.
— Vocês todas tomaram café naquele dia — voltou a me cortar. — Havia quatro xícaras na sala e, em três delas, tinham marcas de batom distintas uma da outra. Quem mais iria em sua companhia à minha casa se não as suas amiguinhas?
O desespero já tomava conta de mim naquelas alturas. Era muito provável que Paulo já tivesse dado cabo na vida de Juliana, eu seria a próxima e logo ele iria atrás das meninas. Não era justo isso. Mais do que nunca, era meu dever lutar pela minha vida, não só por mim mesma, mas também pelas minhas amigas.
— Elas não sabem de nada! — tornei a mentir. — Guardei o segredo da Juliana por eu ser a única de nós, as três "Anas", que mora ainda aqui na Mooca. Naquele dia, a Juliana nos expulsou de sua casa, assim que você chegou, por...
VOCÊ ESTÁ LENDO
É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomanceMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...