Capítulo 18

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Ainda estávamos mudas depois daquela revelação não tão reveladora por parte da dona daquela casa. Foi Clara quem quebrou o silêncio:

— Juliana, me serve mais um pouco de café, por favor?

Fiquei me questionando se aquele pedido da minha amiga era porque queria, de fato, a bebida ou se era para quebrar aquele gelo. Não tão diferentes de mim, as meninas também estavam impressionadas. Naquele momento, só as vozes de Edgar e de Juliana ecoavam na minha cabeça:

" Ele é casado."

" Há quase dez anos."

A mulher loira fez o que Clara pediu e se dirigiu à cozinha. Mal saiu das nossas vistas e senti que Flávia iria falar alguma coisa, sua expressão era de quase fúria. Com um gesto, cortei-a:

— Agora não, por favor... — sussurrei.

Ela revirou os olhos e apenas balbuciou:

— Não estou aguentando mais ficar aqui!

Era engraçado como eu, que fui namorada do Paulo, estava mais tranquila (ou menos nervosa?). Olhei para Clara e ela não estava muito diferente da outra. Mesmo que soubesse disfarçar melhor suas emoções, sua feição séria, quase fechada, denotava que ela também estava uma verdadeira pilha de nervos.

— Já iremos embora — eu disse —, prometo.

Assim que terminei de proferir essas palavras, Juliana chegou com o café de Ana Clara. Voltamos àquela velha atmosfera de uma ficar encarando a outra, ou melhor, nós três olhando para a face da loira, julgando-a. Ela, por sua vez, bebericou um pouco de seu café, e se pronunciou:

— Eu sei o que está passando pela cabeça de vocês.

Paramos, de repente, de fazer qualquer movimento, como se a língua dela prendesse nossa atenção. Juliana prosseguiu:

— Como falei para a Ana Beatriz na cozinha, não fomos amigas, mas nos conhecemos, ainda que, em maior ou menor grau, tenhamos amadurecido. A essência do nosso ser não muda...

— E onde você quer chegar com isso? — indagou Flávia tentando se controlar.

— Quero chegar ao ponto que eu não traí a Ana Beatriz, não...roubei o Paulo dela... Tudo aconteceu de modo natural entre nós dois... — falou de modo pausado.

— Adiante — era Clara pedindo para que a loira continuasse o seu relato.

Aquele reencontro estava sendo um desastre, mas, ao mesmo tempo, estava grata por ter as minhas duas amigas ali, que tomaram as rédeas da situação.

— Depois do... que houve com vocês três — disse Juliana —, ele se aproximou de mim, namoramos por um tempo e depois casamos.

— Em quanto tempo aconteceu isso tudo? — questionou Flávia, analisadora.

Juliana hesitou um pouco, porém deu sua resposta:

— Depois que soubemos que o quadro da Ana Beatriz era difícil e de vocês duas... — Apontou para Clara e Flávia. — ... terem ido embora de São Paulo, ele me pediu em namoro.

— Rápido, não? — soltou a nipo-brasileira, irônica.

— Pode até ter sido, mas tudo foi muito natural, já disse — retrucou a outra, alterada. — Não admito que vocês venham na minha casa me chamar de vagabunda quando eu não fui a outra da história, simplesmente aconteceu!

— Você disse que sabia o que estávamos pensando... — rebateu a biomédica.

— Não permito que verbalizem isso, ainda mais na minha presença!

É pela amizade ou... A história das paulistANAsOnde histórias criam vida. Descubra agora