Ainda estávamos mudas depois daquela revelação não tão reveladora por parte da dona daquela casa. Foi Clara quem quebrou o silêncio:
— Juliana, me serve mais um pouco de café, por favor?
Fiquei me questionando se aquele pedido da minha amiga era porque queria, de fato, a bebida ou se era para quebrar aquele gelo. Não tão diferentes de mim, as meninas também estavam impressionadas. Naquele momento, só as vozes de Edgar e de Juliana ecoavam na minha cabeça:
"— Ele é casado."
"— Há quase dez anos."
A mulher loira fez o que Clara pediu e se dirigiu à cozinha. Mal saiu das nossas vistas e senti que Flávia iria falar alguma coisa, sua expressão era de quase fúria. Com um gesto, cortei-a:
— Agora não, por favor... — sussurrei.
Ela revirou os olhos e apenas balbuciou:
— Não estou aguentando mais ficar aqui!
Era engraçado como eu, que fui namorada do Paulo, estava mais tranquila (ou menos nervosa?). Olhei para Clara e ela não estava muito diferente da outra. Mesmo que soubesse disfarçar melhor suas emoções, sua feição séria, quase fechada, denotava que ela também estava uma verdadeira pilha de nervos.
— Já iremos embora — eu disse —, prometo.
Assim que terminei de proferir essas palavras, Juliana chegou com o café de Ana Clara. Voltamos àquela velha atmosfera de uma ficar encarando a outra, ou melhor, nós três olhando para a face da loira, julgando-a. Ela, por sua vez, bebericou um pouco de seu café, e se pronunciou:
— Eu sei o que está passando pela cabeça de vocês.
Paramos, de repente, de fazer qualquer movimento, como se a língua dela prendesse nossa atenção. Juliana prosseguiu:
— Como falei para a Ana Beatriz na cozinha, não fomos amigas, mas nos conhecemos, ainda que, em maior ou menor grau, tenhamos amadurecido. A essência do nosso ser não muda...
— E onde você quer chegar com isso? — indagou Flávia tentando se controlar.
— Quero chegar ao ponto que eu não traí a Ana Beatriz, não...roubei o Paulo dela... Tudo aconteceu de modo natural entre nós dois... — falou de modo pausado.
— Adiante — era Clara pedindo para que a loira continuasse o seu relato.
Aquele reencontro estava sendo um desastre, mas, ao mesmo tempo, estava grata por ter as minhas duas amigas ali, que tomaram as rédeas da situação.
— Depois do... que houve com vocês três — disse Juliana —, ele se aproximou de mim, namoramos por um tempo e depois casamos.
— Em quanto tempo aconteceu isso tudo? — questionou Flávia, analisadora.
Juliana hesitou um pouco, porém deu sua resposta:
— Depois que soubemos que o quadro da Ana Beatriz era difícil e de vocês duas... — Apontou para Clara e Flávia. — ... terem ido embora de São Paulo, ele me pediu em namoro.
— Rápido, não? — soltou a nipo-brasileira, irônica.
— Pode até ter sido, mas tudo foi muito natural, já disse — retrucou a outra, alterada. — Não admito que vocês venham na minha casa me chamar de vagabunda quando eu não fui a outra da história, simplesmente aconteceu!
— Você disse que sabia o que estávamos pensando... — rebateu a biomédica.
— Não permito que verbalizem isso, ainda mais na minha presença!
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomanceMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...