Julho de 2005
E não é que tinha pegado gosto por carros? Não que eu fosse dessas que já olhavam um veículo e sabiam o tipo, a marca e a empresa fabricante de cor, mas depois de tantos passeios com o nonno, confesso que curti assumir o volante.
Assim, meu avô começou a me dar aulas, por conta própria, de direção desde os meus quinze anos, isto é, quando ainda estava no começo do segundo grau. O tempo foi passando até finalmente eu alcançar o tão temido e, ao mesmo tempo, querido terceiro ano.
Ah! O último ano do Ensino Médio...
Para os mais íntimos, o terceirão... Época tão desejada por quem ainda está no Fundamental. Contudo, se eu soubesse que era tão intensa, teria certamente voltado no tempo.
Nem precisava dizer que as meninas e eu continuamos (agora pela última vez) na mesma turma. Rosa permaneceu como a nossa professora de Português e Literatura e, a exemplo dela, poucos foram os mestres que deixaram de dar aulas para nós durante este período.
E assim como os professores, os alunos eram basicamente os mesmos, com ênfase em... Paulo.
Ele ainda falava alguma ou outra coisa comigo, porém sem demonstrar aquela intimidade de antes. Mal sabíamos que isso tão logo iria mudar...
Voltemos a falar do terceirão.
Que época mais trabalhosa, não? De manhã, seguíamos estudando. De tarde, por justamente estarmos no último ano, fazíamos uma espécie de aulas de reforço, oferecidas pela escola mesmo, quase como um cursinho pré-vestibular, com direito a simulados de provas e tudo mais. A iniciativa do colégio era bacana, mas também nos consumia bastante. Diversão ao longo da semana? Isso não nos pertencia mais.
Para a nossa sorte, o primeiro semestre daquele ano havia passado voando. Assim, estávamos de férias – as últimas das nossas vidas escolares em conjunto... O gostinho de saudade já pairava sobre nós três.
Em julho, fizemos muitas coisas juntas. Se uma tivesse que ir a algum lugar em específico, as outras faziam companhia só para arrumarmos um pretexto para nos mantermos em grupo. Não que tenhamos nascido grudadas, só que era quase um tabu entre nós: iríamos nos separar por motivos acadêmicos e/ou profissionais e isso doía.
Talvez fosse por isso que Clara e eu não tenhamos sido tão relutantes quando Flávia nos fez uma proposta ousada. Ela veio ao meu apartamento, toda eufórica, e começou:
— Tenho uma coisa para falar com vocês.
Nós duas esboçamos uma expressão interrogativa, ao que a nipo-brasileira iria responder, porém se conteve:
— Acho melhor não conversarmos aqui. Vocês sabem: as paredes têm ouvido neste prédio.
Assentimos e sabíamos o que deveríamos fazer, para onde deveríamos ir. Rapidamente, já estávamos no depósito do sexto andar. Assim que entramos, trocamos alguns olhares que emitiam nostalgia, pois já tinha um bom tempo que não íamos àquele lugar. Era óbvio que o fato de estarmos lidando com uma rotina tão árdua impediu que fôssemos para lá com frequência.
Sentamo-nos no chão e Flávia já foi falando:
— Meninas, vamos para a nossa primeira... tchan tchan tchan... — Fez alguns movimentos de estalo com os dedos a fim de causar um suspense momentâneo. — Noitada!
— O que? — perguntamos as duas em uníssono.
— Exatamente o que ouviram: vamos todas para a balada!
Ficamos por alguns instantes caladas. Rapidamente, os questionamentos vieram:
— Onde?
— Quando?
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomanceMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...