Aviso: Esse capítulo é bem especial (narrado pela professora Ana Rosa hehe) e já dá uma palhinha do que vai ser o clímax daqui da obra. Portanto, os fatos narrados por Rosa são futuros perto do que as meninas vêm narrando desde então, começando pela data em que os eventos deste capítulo se sucederam, por exemplo. No mais, boa leitura!
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Ana Rosa
Novembro de 2005
Mais um ano letivo estava finalizando. Mal saberia eu que terminaria com uma tragédia envolvendo alunas tão queridas, porém não quero me adiantar.
Frequentemente, acontecia de eu acordar e ficar com uma música de algum artista, geralmente brasileiro, na cabeça. Naqueles dias estava pensando (sei lá o porquê) em Gonzaguinha. E por que isso? Será explicado...
Minha vida pessoal estava uma verdadeira porcaria – e tenho ciência de que este não é o vocabulário mais bonito de se ouvir da boca de uma professora, mas esta é a verdade nua e crua. Nem era isso que me intrigava. Aquela situação já estava se arrastando há tanto tempo que chegou o momento de dar um basta...
O que me alarmava era a postura de três pessoinhas, cujo primeiro nome era compartilhado comigo mesma.
As garotas que compunham aquele trio estavam simplesmente estranhas. Notei certa mudança em seus comportamentos a partir de meados de agosto, justamente quando voltaram de férias, as últimas escolares de suas vidas. Elas, antes tão boas e empenhadas alunas, pareciam estar mais distraídas que o habitual, mais distantes, mais foras-de-si.
Pode ser paranoia de professora, mas a prova de tudo que venho relatando foi a queda no rendimento escolar delas. Para quem vinha com os boletins recheados de notas oito, nove e uns generosos dez aqui ou ali, aquele números de cinco a sete (e uma nota vermelha na ficha de uma delas) me deixou em estado de alerta. O que estava acontecendo?
— Nada demais, professora — disse Beatriz. Depois de um fim de aula, estava as questionando sobre isso.
A resposta dela poderia ter soado casual para os ouvidos de quem não conhecia tão bem aquela menina, antes tão doce e gentil. Entretanto, era perceptível, sutilmente perceptível, um tom de agressividade em sua voz. Era como se ela quisesse dizer algo do tipo "Não te interessa! Não se intrometa!".
E Clara e Flávia? Pareciam que nem queriam estar ali de tão fora da realidade que se encontravam. Dava a impressão de que a conversa era entre eu – a "enxerida" – e Beatriz, que estava prestes a me comer viva. Era melhor encerrar aquela conversa por ali e partir para a civilidade.
— Vocês querem companhia até o prédio onde moram? — indaguei.
— Não precisa. Muito obrigada! — voltou a retrucar Ana Beatriz. Seu tom era tão frio que cheguei a pensar que estávamos na Antártida.
Ela simplesmente puxou as outras duas garotas e as três saíram daquela sala rapidamente. Fiquei abismada, já que foram várias as vezes que as acompanhei até a porta de suas residências.
Aquela recusa havia sido gélida. Contudo, não iria deixar isso barato. A reunião de pais e mestres ocorreria em poucos dias.
E aí veio a decepção.
No dia da tal reunião, o pai de Clara não veio. Já sabia que ele era médico e emergências aconteciam para quem pertencia a esse ramo profissional. Não podia reclamar do senhor Xavier, pois ele quase sempre vinha tratar dos assuntos escolares da filha comigo. Mas seria tão importante se ele estivesse ali...
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É pela amizade ou... A história das paulistANAs
RomanceMooca, São Paulo. Ana Beatriz, Ana Clara e Ana Flávia têm mais em comum do que apenas o primeiro nome, são também moradoras do mesmo prédio na capital paulista, colegas de escola na mesma turma e melhores amigas desde quase muito sempre. Infelizment...