Aline era uma companhia muito boa. Seu coração já fora partido, ela sabia as palavras corretas pra dizer.
Comprei um único vestido. Um vermelho, solto. Minha disposição ia passando na medida que ia imaginando ele saindo hoje a noite pra festa. Quando tomei o caminho para o shopping, ele ainda estava lá na empresa. Eu não acreditava que tudo tinha acabado assim. Conversei com Aline sobre isso.
_Olha Ayla, não sei. Ele parecia gostar de você pra valer. _Diz ela. _Só não dá pra entender a forma como ele se comporta. Tipo escutando conversa, ficando de olho em você.
_Ele fica de olho em mim?
_Sim vi ele olhando você indo pra casa almoçar todos os dias. Sem contar quando ele vê você perto do Daniel. Parece que vai dar um ataque nele.
_Se você não entende, imagina eu. Mas quer saber, quero que ele se foda!
_kkkkkkkkk.
_ Sim! Quero ir na festa amanhã e me divertir.
_É assim que se fala!!!
Levei Aline pra casa, ela não tinha carro e morava perto da nossa casa. Quando cheguei no portão já de volta e olhei estacionado ali, o carro dele, fiquei contente dele não ter saído pra lugar nenhum. Mal deu tempo de chegar em casa, ouvi o motor do carro dele ligar e ele sair. Será que ele estava esperando que eu chegasse? Óbvio que eu estava imaginando coisas.
Cheguei em casa, olhei pra minha cama no escuro. Lembrei imediatamente dele. Fechei os olhos lembrando de uma de nossas noites maravilhosas. Só a lembrança me deixava arrepiada. Uma pena que pra ele não tenha sido assim. Novamente lágrimas correram pelos meus olhos.
Fui no guarda roupa, catei uma camiseta dele; Vesti e fui deitar, abraçada no travesseiro que tinha o cheiro dele.
Como eu era trouxa de ainda manter um sentimento dentro de mim. Chorei até adormecer.
Acordei de mal humor. Como era de se esperar, Helena estava gritando com o cachorro, ela estava indo para casa de Matheus, com ele ,e o meu amado Zac comeu literalmente sua bolsa. Depois de levantar de cara feia, peguei um café e voltei pro quarto. Passei o dia assim. Não queria muita conversa. Minha mãe tentou entrar no meu quarto perto da noite, mas viu que eu estava vendo filme e não entrou. Graças a Deus, não queria ficar falando do Lucas agora. Não agora.
Me arrumei. Não falei a ninguém onde ia de verdade, disse que ia na casa de Aline que era na rua do outro lado do quarteirão, em frente a área industrial. Passei na casa dela realmente, mas para buscá la. E fomos para o Boulevard.
Minha barriga roncou de fome, eu não tinha comido nada o dia todo. Mas quando colocava alguma coisa na boca, sentia vontade de vomitar, eu estava com os nervos a flor da pele. Cada vez que pensava nele, um embrulho no estômago aflorava. Era um sentimento muito ruim, misturado com as manifestações físicas do meu corpo. Eu deveria ter até emagrecido nesta semana. Nunca passei por isso. Mas tudo que eu queria era esquecer, e hoje era isso que eu iria fazer. Se ele não aparecer na festa.
Quando chegamos na festa, uns rapazes amigos de Aline e uns meninos ricos da outra cidade, nos chamaram para o backstage deles. Subimos, tinha uma menino bem bonitinho lá, que lembrava da época do Colégio. Era Josh o nome dele. Loirinho, engomadinho. Além de ser uma das pessoas mais ricas que eu conhecia, era o tipo de cara que todas as meninas ali, se jogavam, mas ele era arrogante ao extremo. E como eu tenho um carma por homens assim, o mala encarnou em mim. Ficava me rodeando feito um galo, e cheio de mãos, ficava me tocando direto, nos braços e nos ombros. Já estava achando aquilo chato. Resolvi descer dali pra ir no banheiro. Quando eu desci, pra passar no meio da multidão que estrapolava e dançava com a música, para meu azar vi Lucas ali, com uma menina pendurada nele. Meu coração gelou. Eu ia começar chorar na hora, entrei o mais rápido que pude no banheiro.
_Droga! _Disse pro meu reflexo no espelho.
Resolvi mandar uma mensagem para Aline. _" Amiga, ele está aqui, com uma menina. Eu vou pra casa. Me desculpe"
Aline respondeu instantaneamente:
"Onde você o viu? Quero ver se é a Suzanna."
"Aqui na entrada do banheiro"
" To vendo ele. Não é a Suzanna. É outra, mas não consigo ver se estão juntos"
Me passou a frase dele novamente na cabeça ouvindo Aline dizer que era outra _" Porque ficar só com uma, quando se pode estar com várias.
Segurei a respiração e engoli o choro. Quando sai, reconheci a menina. Era a tal de Alice que tinha mandado fotinho pra ele. Com toda certeza estava com ela. Ele estava com as mãos nas suas costas e ela estava falando no seu ouvido.
Voltei para o camarote pra ver se Aline ia comigo. Mas tinha recebido uma mensagem dela dizendo que ia dar uma voltinha. E que eu poderia ir. Josh, me viu mexer no celular. O tirou de minhas mãos, anotou seu número e mandou um "Oi" pra ele, pra salvar meu número. Me entregou o celular denovo e se aproximou tanto de mim, que eu sentia o perfume enjoado que ele usava. E do nada me beijou. Levei um susto. Fui pra trás e disse:
_ Desculpa, não vai dar. _E sai dali sem olhar pra trás.
Desci o mais rápido que pude do backstage e localizei a saída no escuro. A noite estava gelada demais. Neste ponto, lembrando de Lucas lá com a menina, meu olhos já pingavam para fora a dor que eu estava sentindo. Eu estava tão mal, ainda mais com a bebida e sem ter comido nada, uma ânsia de vômito me fez encostar no carro vizinho e mal tive tempo de pensar no que fazer. Coloquei as tripas pra fora, procurei a chave do carro na bolsa e apertei o alarme. Entrei no carro as pressas, estava tão mole, que achei que ia desmaiar. Me recostei no volante e chorei denovo. Quando esse inferno ia passar? Liguei meu carro e sai de fininho. Ainda sem enxergar quase nada, pois estava com os olhos marejados. Quando peguei a auto estrada que levava pro norte da cidade, em direção minha casa, notei um carro se aproximando. A cor era idêntica ao do Lucas. E pelo retrovisor, o reconheci.
_Porque diabos ele está vindo pra cá? Se a casa dele fica pro sul? _Pensei.
Tentei ver se tinha alguém com ele. Talvez fosse pra casa da menina que ele estava. Mas não consegui ver.
Eu estava dirigindo bem devagar, se ele quisesse poderia me ultrapassar, mas me seguia na mesma velocidade. E quando entrei pra rua da minha casa, ele encostou o carro no acostamento.
Queria ficar olhando, eu não estava entendendo. Então bem devagar fui levando o carro até chegar na frente do meu portão. E também parei. Fiquei observando pelo retrovisor, ele abriu o vidro dele. Abri o meu para enxergar melhor. Instantâneamente ele ligou o carro e veio pra minha rua. Ficou lado a lado com meu carro. E disse que queria conversar.
Dei uma boa resposta pra esse galinha dos infernos e entrei em casa. Então ele achava que ia ficar se agarrando com um monte de piranha por aí, e depois ia vir pra cima de mim? E que estaria tudo bem?
Que ódio!!! Quando percebi eu já tinha entrado em casa! E pela vidraça vi ele virando a volta e saindo devagar.
A raiva que eu sentia dele era tanta. Mas tanta!!! Meu celular vibrou.
"_Por favor ".
Revirei os olhos. Agora se eu respondesse eu seria uma baita de uma idiota. Eu estava completamente apaixonada por ele, aí do nada o cara me dá o pé na bunda. Vai se esfregar na guria que eu mais detestava, pega geral na festa e depois vem atrás de mim? O que ele quer afinal? Acho que eu conheci um Lucas que sumiu. Que desapareceu feito mágica. E era aquele lá que eu amava, aquele que era igualzinho ao que desejei toda minha vida. E não esse Lucas aí que eu estava conhecendo agora.
Meu domingo não poderia ser pior, fiquei remoendo a visão dele pedindo pra gente conversar. Novamente senti o embrulho no estômago quando lembrei dele com a menina, fui pesquisar o Instagram dele, pra ver se achava algo que pudesse me indicar que estava com alguém. Ele tinha acabado de postar uma foto com Heidi e sua bebê. E tinha outra foto, das suas mãos no volante do carro, no que eu deduzi ser a clareira qual ele me levou aquela vez, esta foto também postada hoje.
Eu tinha usado uma conta sem fotos para poder ter alguma rede social. Pois tinha apagado todas por conta do Yan. Mas, pensando bem; Vou reativar. Já passou da hora.
Eu não postava fotos com ninguém, exatamente como no dele.
Escutei um carro chegando, era Matheus e Helena. Pensei em convidar eles pra irem no parque dar uma caminhada. Mas os dois preferiram se enfiar no quarto e ficarem se comendo. Coloquei uma roupa e resolvi sair.
_Onde você vai?_Pergunta meu pai.
_Vou caminhar no parque.
_Vai sozinha?
_Sim né. Esperaria que eu fosse com quem?
_Lize porque você não vai dar uma volta com Ayla. Você quase não sai mais por conta deste velho aqui.
_Você me espera filha?
_Espero sim.
Enquanto respondia percebi que ela ia me encher de perguntas sobre Lucas. Mas hoje eu ia falar exatamente o que ela quisesse ouvir. Eu estava com muita raiva dele ainda, e com raiva era mais fácil falar.
Quando chegamos no parque vi um cachorro que parecia ser a Mel, mas não era. Eu estava com uma cisma, via ele em tudo que eu fazia. Estava começando a ficar enojada disso também.
Fomos para beirada do lago. Minha mãe ainda não tinha tocado no assunto até ali.
_Filha e você e o Lucas?
_O que tem aquele idiota?
_Ainda nada dele?
_Mãe ontem eu sai. Fui no Boulevard com a Aline, ele estava lá com uma menina. Foi um saco, um menino me forçou um beijo. E eu vim embora. Lucas me seguiu até em casa, pediu pra gente conversar. E eu não aceitei.
_E posso saber porquê não aceitou?_Perguntou minha mãe.
_Eu não sei se quero me sujeitar a ser uma segunda opção quando ele se cansar das outras..
_E se ele se arrependeu? Talvez estava
Confuso e agora se decidiu.
_Mãe não começa, você adora ele. Por isso tá falando essas coisas._Disse fazendo cara feia, porque senti denovo o rebuliço dentro de mim.
_Você está bem? _Pergunta minha mãe, vendo minha cara.
_Eu comi pouco e bebi excessivamente ontem mãe. Não estou legal.
_Você não deve ficar se culpando querida. Ele tem que perceber o que perdeu. Se anime! Pra ele ter vindo atrás de você é porque se arrependeu. E cá entre nós, é ótimo quando os homens fazem isso. Deixa de choradeira, banque a mulher esperta que você é, e faça ele comer na sua mão.
_Nossa mãe, tô orgulhosa de você.
Rimos.
Aproveitei o sol de fim da tarde e bati uma foto com minha mãe, postei e a marquei.
Vi mensagens no meu celular.
Tinham mensagens de Josh, o menino do beijo de ontem e de Lucas. Abri primeiro a de Josh.
_" Oi princesa! O que vai inventar hoje?".
Respondi que ia ficar por casa.
_" Você não quer dar uma volta comigo?"
_"Obrigada Josh, hoje não vai rolar. Estou passando dia com minha mãe "
Ai resolvi abrir a de Lucas. Era a foto que eu tinha visto no instagram, da clareira.
Eu não sabia o que fazer. Não sabia se respondia ou não. Então resolvi contar pra minha mãe sobre aquele dia na clareira, poupando detalhes; Óbvio.
_O que você acha que significa isso mãe?
_Significa que este menino sabe como surpreender uma mulher.
Não falei mais nada. Voltamos pra casa. Assiti um filme, e depois assisti futebol com meu pai. Dormi no sofá, acordei com o dia amanhecendo.
Lembrei da mensagem de Lucas. Senti meu corpo tremer.
Levantei um pouco mais disposta. Coloquei um vestido, comportado. Mas não deixava de ser um vestido provocante. Mesmo para o dia a dia, ele adornava meu corpo como se fosse colado em mim. Cheguei na empresa, dei bom dia pra Aline.
_Sério que você ficou com o Josh?
_Eu não fiquei, ele que pulou em cima de mim.
_E o Lucas viu?
_Não sei. Que se foda! _Digo. E depois resolvo contar pra ela o que ele fez. Poupei da foto porque ela não sabia.
_Bom eu não vi ele ficando com a menina, acho que estava mais pra cortar ela do que conversar. Mas seilá né...
Daniel estava entrando, super charmoso hoje. Lucas também estava chegando, lindo como sempre. Estava com uma camisa de linho preta, que não podia ser fechada como devia porque era extremamente apertada naquele peitoral. Eu olhei ele todinho bem disfarçada. Aproveitei e entrei no elevador junto com os dois, ficando de costas na frente deles.
Via pelo espelho lateral, Daniel afrouxando a gravata olhando me de cima em baixo. Lucas se encostou na parede do elevador e colocou as mãos no bolso. Depois tirou, olhou o relógio. E quando a porta se abriu saímos, ele encostou em mim pra sair do elevador, e como era esperado eu me arrepiei por inteira e deixei escapar uma pasta das minhas mãos, qual me apressei pra pegar. E quando me levantei, ele estava parado na minha frente, me prendendo contra a parede exatamente como no primeiro dia que eu o vi. Salivei e engoli em seco. Abaixei a cabeça pra evitar de olhar para os olhos dele. E sai. Ele ficou ali parado. Não vi quanto tempo ele ficou ali, depois que sai e fui para minha sala.
Ele apareceu milhares de vezes na nossa sala hoje.
Ao meio dia apareceu um rapaz na empresa, dizendo ser meu segurança particular que meu pai tinha contratado. Meu pai e suas manias malucas! O cara parecia mais um bandido do que um segurança. Ele ficava na porta da sala e me seguia feito uma sombra pra cima e pra baixo. Notei que ele também me olhava bastante.
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INCANDESCENTE®
RomanceEm memória de Juliana Fronza - Professora de língua portuguesa. ●1°lugar no ranking por 80 dias consecutivos! ✓Eleita melhor história de sentimento dentre 24.7 mil histórias ✓Prêmio cexpo2021 categoria Melhor Roteiro ✓ Prêmio cinemateca SP _ Melhor...