PRÓLOGO

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PRÓLOGO

            Pietro sai do quarto um pouco antes do amanhecer, vai para um dos quartos destinados aos “garotos” e ali toma um banho gelado e troca de roupa com tranquilidade. Encontra apenas Andrew – e por um momento imagina se o verdadeiro nome dele é André – que já está de saída. Os outros já foram embora há um tempo, ele sabe. O dia já está firme lá fora quando ele finalmente recebe seu pagamento num envelope. Passa pelo salão da boate que agora parece um salão de refeições normal para executivos e madames apressados da Zona Sul. Os garçons diurnos o ignoram assim como também ignoram o que se passa naquele andar na madrugada.

            Ao colocar seu ray-ban estilo Maverick[1], Pietro sai pelas ruas já apinhadas de Copacabana, muitos se dirigindo à praia. O dia começa cedo por ali. Quando atravessa a rua, olha mais uma vez para a fachada do prédio, de seis andares, e somente um número seleto de pessoas sabe o que se passa nos dois últimos depois que anoitece. Um sorriso discreto se forma no canto da boca e ele sai em direção ao seu Café favorito.

            Se ele soubesse que se embebedar e, num ato de loucura, subir no balcão de uma boate e dar um showzinho para impressionar uma gata, que ele mal sabia o nome, lhe renderia um “emprego” que custearia sua faculdade e ainda teria uma boa grana de sobra, Pietro teria feito isso a mais tempo.

            Dançar era um de seus robbies, Pietro crescera praticamente dentro de uma academia de ballet e o maior temor de seu tio era que ele virasse gay. Alguém vira gay? Pietro sempre se perguntava isso. Ele não era gay, mesmo que agora, depois de começar a trabalhar no clube Sensação, ele chegara a ter experiências homossexuais. Isso o ajudou a saber que definitivamente ele não era gay. Era gay assumir que sentia prazer numa penetração anal? Não. Ele sabia que precisava ser muito homem para admitir isso.

            Sua tia lhe ensinara tudo sobre a dança, desde pequeno, mas não era a dança que o movia, era outra paixão, uma paixão que o fazia quase perder a respiração, nem piscava para não perder algo importante, sua paixão era o jornalismo. Foi para correr atrás dessa paixão que Pietro saiu do interior de Minas Gerais e veio para a “cidade grande” cursar Jornalismo em uma das melhores faculdades do Rio de Janeiro.  

            E de todos os dias que passara no Rio, nesses últimos 4 anos, as Sextas-feiras eram as melhores agora. Porque eram dela.

[1] Personagem de Tom Cruise no filme Top Gun (1986).

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