Capítulo 4 - Camille Queiroz

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- Putz! Quem ia imaginar uma coisa dessas? Você não deixou nem eu ver sua matéria! - Guto tenta, sem sucesso, segurar os hashi, quando sua namorada, Flávia, lhe oferece um garfo de plástico.

- Você podia mostrar pra gente. - Flávia fala e pisca para a prima sentada a sua frente.

- Podia mesmo. - Carol tenta sensualizar colocando um sushi habilidosamente todo dentro da boca.

- Vocês iriam odiar. - Pietro tenta mudar o foco do assunto.

- Mas se for aprovado, todo mundo vai ver mesmo. - Guto puxa a pontinha de um broto de dentro de um Temaki.

Pietro gela por um instante.

- E como foi conhecer o 'poderoso chefão' do Eco? - Flávia pergunta de repente.

- Vocês iriam adorar ele. - Pietro aponta para Carol e Flávia sorrindo. - Pensem no Richard Gere naquele filme...

- Uma linda mulher? - Flávia corta.

- Isso. - Pietro dá uma mordida no seu Hot Roll de salmão e kani. - O cara é muito parecido. Grisalho, apesar de não parecer ter muito mais do que 40 anos, não. Tem um porte elegante e eu odiei parecer estar mais bem vestido que ele. - Pietro geme com a lembrança.

- Mas, você não tem que ir de terno e gravata, não?

- Tenho. - Pietro ri. - Mas não precisava ter usado meu Armani. - ele pisca e todos riem.

- E agora você vai fazer o quê lá? - Carol abre a boca depois de muito tempo.

- Ainda não sei ao certo. Acho que vou ficar de auxiliar de alguém, mas esse alguém está viajando com a equipe da vice-presidente, e eles só voltam na sexta. - Pietro se ajeita discretamente na cadeira ao falar a palavra "sexta". Como ele estava precisando daquela mulher. Umas palmadas e uma foda de recompensa era tudo de que precisava.

- Como foi mesmo que você cortou o supercílio? - Flávia pergunta depois de algumas conversas sem sentido.

Era a primeira vez que a via desde a fatídica sexta e talvez nem Carol nem Guto tenham-na convencido. Ela era muito esperta.

- Ele brigou.

- Ele caiu.

Guto e Carol falam juntos e se olham antes de olharem para Pietro. Ele franze as sobrancelhas antes de falar.

- Na verdade... eu trabalho numa boate nas noites de 2ª, 4ª e 6ª e faço shows de strip-tease, então, eu escorreguei no palco e pimba, cortei o supercílio. - ele dá de ombros e chama a garçonete vestida de gueixa.

Depois de alguns segundos de silêncio Guto cai na gargalhada. Ri de quase cair da cadeira. Carol também ri e se volta para seu prato. Flávia balança os Hashi no ar e semicerra os olhos. Ela podia jurar que dessa vez, Pietro estava falando a verdade.

***

Enfim, sexta. Pietro chega mais cedo do que os outros dias ao Eco e está trocando de roupa, quando escuta um bater de portas fora do banheiro. Mas ele não iria correr para ver o que era. Estava revoltado. Estagiar no Eco não estava sendo nem de longe a experiência gratificante que esperava. Aliás, o que ele estava fazendo lá nem poderia ser chamado de estágio para um estudante de jornalismo que passara com mérito numa sequência absurda de testes.

Ele, no momento, estava mais para office-boy. Um faz tudo, um "Severino - quebra galho"! Pietro, tira essa xérox aqui, pega aquele fax ali, busca a tal pasta pra mim, faz um favorzinho pra fulano, pega um cafezinho pra beltrano... arg! Que ódio.

SensatrixOnde histórias criam vida. Descubra agora