Capítulo 31 - Contos de Natal?

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Natal

            Camille se sente sufocada e quando enfim consegue escapar para a varanda, espia o movimento por detrás da porta de vidro. Seu pai conversa animadamente com todos, nem parece que tem Alzheimer. Na vida, podemos tirar aprendizado de tudo, principalmente dos livros que lemos e até de filmes ou novelas a que assistimos. Camille sabia que o que sua mãe faz com seu pai nada tinha a ver com o que os médicos receitavam. Mas sim, com algumas histórias que ela vira por aí... Diário de uma paixão, "Como se fosse a primeira vez"... Eram alguns dos títulos nos quais ela se baseava. Mas também, em algumas histórias reais que ela não cessava em pesquisar.

            Dando alguns passos para a frente, Camille se apoia na borda da piscina. A varanda está iluminada apenas pelas luzes azuladas que vêm da ponta extrema da piscina. É uma piscina toda de vidro, ela é estreita, mas dentro dela, você tem a visão de toda a parte de fora do prédio. Camille deita os cotovelos sobre a borda e entrelaça os dedos, ela nem precisa esticar o corpo para ficar na altura perfeita. Não muito longe, a vista da praia, mesmo à noite, a acalma e por momentos ela se esquece de onde está.

            - Essa vista fica ainda mais maravilhosa no Réveillon, você não acha?

            Jaqueline, a irmã de Jonas, quase dá um susto em Camille ao parar do lado dela de repente.

            - Achei que você preferisse todo aquele branco da Europa. – Camille diz e sorri.

            - Ah, não, não! – Jaqueline balança a cabeça sorrindo e faz gestos com a mão como se aquilo fosse irrelevante. – Sou altamente carioca, até fora daqui. Como canta minha adorada Adriana Calcanhoto: Cariocas não gostam de dias nublados... – Jaqueline diz a frase no ritmo da música e pisca para Camille. – Imagine dias chuvosos, ou pior, "nevados". – Jaqueline finge estremecer. – Aquele branco todo é doentio. Não vou dizer que não é belo. Porque é. Mas, uma carioca dourada como eu – mais uma vez ela faz referência à música Cariocas. – Se entedia com a neve rapidamente.

            Camille avalia Jaqueline. Ela a vira poucas vezes nesse tempo todo em que Jonas passou a ser mais que um funcionário exemplar do Eco do Tempo e passou a frequentar festas, jantares, almoços e tudo o mais que seu pai organizava. Jaqueline era artista plástica e morava em alguma cidade da Finlândia que Camille não se recordava do nome. Lá, ela era quase uma celebridade. Tinha um atelier enorme e era sócia de uma escola de artes. Suas obras eram expostas por todos os lugares e Jaqueline também dava palestras na Universidade local. Quanto a relacionamentos, ela poderia cantar tranquilamente a música do Legião Urbana em que diz "e eu gosto de meninos e meninas..." – Até onde Camille sabia, ela nunca foi casada.

            Fisicamente, Jaqueline parecia uma versão feminina de Jonas: Os mesmos olhos, nariz, boca, queixo, formato do rosto, altura... Apenas o cabelo e o peso eram diferentes. Jaqueline mantinha o cabelo bem encaracolado num corte assimétrico na altura do pescoço em cor de vinho. E com relação ao corpo, ela era tão esbelta quanto uma modelo deveria ser. E apesar de morar tantos anos na Europa, realmente, Jaqueline era tudo o que a música "Cariocas" dizia que era. Ela mantinha o bronzeado, obviamente, devia frequentar salas de bronzeamento artificial e o sotaque? Seu "carioquês" continuava intacto!

            Cinco anos mais nova que o irmão, isso fazia de Jaqueline dez anos mais velha que Camille.

            - Pretende ficar mais tempo dessa vez?

            - Não sei... ahnn – Jaqueline lança um olhar tão calculista para Camille que essa se sente nua sob aquele olhar. – Devo lhe chamar de "cunhada"?

SensatrixOnde histórias criam vida. Descubra agora