- Você precisa arrumar logo um estágio, cara! Vai perder o semestre inteiro se não conseguir um. – Seu colega de quarto, Guto, o pressionava mais uma vez.
Pietro sabia da importância do estágio, não era isso, ele só não queria qualquer um. Ele nunca tivera grandes ambições na vida, mas quando se tratava da sua paixão, do seu sonho, ele sonhava alto. Muito alto.
- Me deixe dormir, Guto. – Pietro puxa o lençol e vira-se para o lado. – Hoje é sábado.
- Cara, ainda tem esse seu trabalho noturno... Há um ano que você troca a noite pelo dia...
- Quem te elegeu a mãe do ano? – Pietro pergunta fingindo estar mais irritado do que de fato estava. – Eu não chego atrasado nas aulas, mantenho boas notas, trabalhos em dia e nesse semestre tenho três matérias a menos que você. E você sabe que quanto ao estágio...
- Você quer trabalhar no Eco do Tempo. Cara, a seleção do Eco é ridícula! E se você não passar, vai perder o semestre por conta das horas de estágio. É arriscar muito.
- Eu disputo o risco. Estou me preparando. – Pietro, que tinha se voltado para olhar para o amigo, deita-se olhando para o teto. – Agora me deixe dormir.
Guto bufa e sai do quarto do alojamento batendo a porta atrás de si. Pietro suspira e sabe que mais uma vez irá sonhar com o Eco e ... com ela.
***
Na segunda-feira, Pietro começou a série de entrevistas e etapas da seleção do jornal Eco do Tempo. Foram semanas de apreensão. Um teste escrito de conhecimentos gerais, outro específico, dinâmica em grupo, teste psicotécnico e o último foi uma pequena reportagem que deveria ser criativa e totalmente produzida por ele. Ele sentiu como que fazendo sua monografia novamente, já que a da faculdade já estava pronta. O que o ajudava a relaxar era somente quando chegava as sextas-feiras... E então, ele estava dentro.
Saiu com alguns amigos para comemorar. Guto apresentou uma prima de sua namorada para ele, Carol, que ficou apaixonada justamente porque ele não quis passar de beijinho e abraço. Ah... se ela soubesse. Pobre Carol. Mas a cabeça de Pietro estava focada na segunda-feira seguinte quando começaria no Eco. Ele iria conhecer Jonas Coimbra, o presidente do jornal e talvez mais uma penca de gente importante. Ele sentia que aquilo seria o último teste e algo lhe dizia que seria o pior de todos.
Essa última semana passou voando, Pietro só precisou estar no Sensatrix na quarta, e hoje já era sexta novamente. Sua adrenalina estava a mil desde que acordara.
- Uhul, alguém vai transar hoje! – Pax fala com seu sotaque carregado de descendente japonês.
- Não enche. – Pietro terminava de depilar a virilha enquanto seus colegas já se arrumavam para o show.
- Sai, sai! – Tom espanta os colegas que ainda riam e se senta ao lado de Pietro. – Você sabe que ela não é sua namorada, não é? Nem sua dona?
Pietro puxa o ar e bate a gilete antes de olhar para Tom.
- Pelo que você me tira? – fala irritado.
- Calma aí! – Tom fala num tom baixo e ergue as mãos sorrindo. – É só que... Nós somos os mais antigos aqui, eu mais que você alguns meses. Essa mulher não aparece aqui faz tempo... – Tom parece escolher as palavras antes de falar. – E de repente, há dois meses, ela vem toda sexta sem falta. E só quer você e você fica aí como se isso fosse um encontro...
- Você está vendo coisas. Talvez esteja na hora de se aposentar. – Pietro alfineta, já que Tom era o mais antigo e o mais velho. Ele tinha 36 anos contra os 25 de Pietro. E os outros caras ficavam em torno de 21 e 33.
- Só estava tentando ajudar, sei lá. Você não é de conversa e eu me sinto responsável por todos os garotos. Sou eu quem os treino, contrato e dispenso.
Pietro larga a gilete na lixeira próxima ao seu pé e encara Tom.
- É só pelo dinheiro, Tom. Mas ela é exigente...
- Mas você é um cara jovem e bonito. Isso aqui é um trampolim, deve ter uma vida saudável lá fora, uma namorada para passear, levar ao cinema... No início eu via que você se divertia com as garotas aqui. Eu não via mal, contanto que fosse consensual e seguro. Mas desde que começou a atender essa mulher, nos outros dias você só faz o show e pronto, se veste e vai embora.
- Último semestre da faculdade. Vou começar um estágio na segunda... Ando muito atarefado. Só isso. – Pietro dá de ombros tentando mostrar-se despretensioso e Tom suspira.
Tom sabia por experiência própria que ter uma vida normal e manter a rotina do Sensatrix era algo humanamente impossível. Hoje ele tinha um divórcio e um filho de 4 anos para dar pensão.
Pietro apresentou o show e rejeitou os convites como sempre. Ficou no fundo do clube e olhava o relógio sem parar. Já eram quase 3 da manhã, a qualquer momento ela poderia entrar por ali. Will e Yuri conversavam sobre as mulheres que acabaram de atender, mas Pietro não prestava atenção em uma palavra sequer.
O Sensatrix era um clube de striper e uma pessoa poderia pagar por sexo com um dos garotos, ou mais de um, se quisesse, depois do show. Ben era quem cuidava dessa parte, nenhum garoto era obrigado a aceitar o programa, mas Pietro já havia visto muitos serem dispensados depois de algumas rejeições nesses 12 meses em que trabalhava ali. Ben era um tipo de gerente administrador, não conversava com os garotos a não ser na hora de pagar, se é que aquilo poderia ser chamado de uma conversa. Alguns especulavam que ele seria o dono do clube, mas Tom garantia que não. Mas isso não interessava para Pietro, contanto que recebesse seu dinheiro no final do expediente, corretamente, como sempre acontecia às sextas.
- Com suas licenças... – Pietro virou o resto da cerveja no gargalo e fazendo uma mesura debochada, foi em direção às escadas que levavam ao andar de cima. Ele não tinha visto ela entrar, mas Ben apareceu na ponta do salão e fez um sinal indicando que ela já estava lá e pelo visto, pronta.
- O cachê do garotão deve ser alto. – Yuri falou observando Pietro subir as escadas.
- Por isso Ben e Tom não o dispensam. Há dois meses que o único dinheiro que o Pietro faz entrar na casa, vem dela. – Will comentou.
- Será que ela banca a exclusividade?
- Não sei. – Will coçou o queixo. – Só se ela for alguém muito poderosa. Tom uma vez deixou escapar que o valor da exclusividade é exorbitante.
- Bom, - Yuri deu um grande gole em sua cerveja – se eu gostasse de mulher, com ela eu iria até de graça! – Yuri falou desmunhecando um pouco, coisa que Tom não permitia e juntamente com Will caíram na gargalhada. Will balançou a cabeça concordando, mesmo se considerando “Bi”, ele concordava plenamente com Yuri.
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Sensatrix
RomanceDesejo, paixão, submissão, atração, destino, coragem... Poderiam ser esses ingredientes de uma linda história de amor? Uma Dominatrix linda e misteriosa e seu submisso sexy e determinado. Pietro une suas paixões: A dança e o Jornalismo, sem saber...