Capítulo 24 - inversão de papéis

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O Eco está o mesmo de sempre, mas Pietro se sente totalmente diferente ao entrar no prédio. Não consegue evitar o sorriso bobo que teima em ficar estampado no rosto e chega atrasado para o habitual café com Fabiana. Também não a avista no DP e resolve procurá-la depois. Cicy parece ignorar o estado "feliz" de Pietro e lhe entrega uma pilha de papéis e fichas assim que ele entra em sua sala. Cicy reclama da quantidade de cartas que a coluna recebera e diz que Pietro deve começar a responder todas elas e escolher as melhores para a sessão de "Carta do leitor".

            A manhã passa rápida e Pietro só se dá conta da presença de Cicy na sala quando este para na sua frente com o celular esticado para ele e um olhar de quem acabou de ouvir a coisa mais erótica do mundo.

            - O que foi?

            - Pra você, bonitão.

            - Quem é? – Pietro pergunta baixo pegando o celular. Sabe que não pode ser um leitor, afinal, que leitor teria o número do celular pessoal do Cicy?

            Mas é quando a voz sedosa de Camille invade seu ouvido do outro lado da linha que Pietro estremece e entende o olhar de Cicy. Pietro desvia o olhar do de Cicy e ouve os comandos de Camille sem dizer uma única palavra em resposta.

            - Obrigado. – Pietro agradece entregando o celular a Cicy.

            Cicy revira os olhos e gira fazendo um de seus famosos floreios. Senta-se de volta a sua mesa e volta a fazer o que estava fazendo em seu computador. Pietro fica olhando para ele por algum tempo imaginando o quanto ele sabe.

           

***


            Pietro sai do prédio e segue para o Largo da Carioca como indicado por Camille. Não demora muito e assim que chega lá, avista o tal taxi com a faixa vermelha pendurada no vidro fumê bem escuro e fechado. Está um sol de rachar no Centro do Rio, as ruas apinhadas como sempre na hora do almoço e ele não consegue parar de olhar para todos os lados com medo de encontrar alguém conhecido.

            - Ciao, Romeu. – Camille diz assim que Pietro entra no banco de trás do carro.

            - Ciao, Julieta. – ele sorri e lhe dá um beijo na boca.

            O taxista começa a dirigir assim que Pietro fecha a porta. Há uma tela fumê dividindo a parte da frente do banco de trás e Pietro se pega pensando quantas vezes Camille precisou daquele taxi. O som do celular de Pietro o desperta e faz Camille erguer uma sobrancelha como que em reprovação. Ele olha para o visor e faz uma careta para ela. "Tenho que atender" ele diz silenciosamente.

            - Oi, Fabi! – ele atende com uma animação que faz Camille entortar o maxilar e olhar pelo vidro. – Poxa, é verdade... Mas eu te procurei! ... Sim, sim... Cicy não me deixou respirar com todas aquelas cartas para responder...

            Pietro sorri muito e parece muito à vontade falando com Fabiana ao telefone. Camille abaixa seus imensos óculos de sol Prada para olhá-lo e Pietro entende que ela quer que ele desligue.

            - Então... Poxa, eu... – ele respira fundo e olha para o lado de fora antes de falar. – Eu vim almoçar com um amigo da faculdade, sabe como é... Pois é, estamos na semana de provas finais e semana que vem tem a apresentação da monografia... Eu sei, eu sei... Eu vou compensar, eu juro!

            Depois de uma despedida apressada, Pietro resolve desligar o aparelho e dá um sorriso amarelo para Camille. Ela não diz nada, ele também não consegue definir sua expressão por trás daqueles óculos imensos que quase pareciam máscaras de esqui e então o carro sobe uma ladeira e só então Pietro se dá conta que estão num motel. O motorista os deixa dentro da garagem privativa e sai com o taxi, o portão é fechado automaticamente.

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