Capítulo 16 - O estúdio de Sara Myller

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Camille nota que a casa dos Coldani se parece com algumas casas italianas daquelas que se vê em filme. É simples, mas muito aconchegante, pode-se ver que vivem com conforto, mas abrem mão do luxo. Eles passam por uma piscina grande e muito bem ornada, que fica entre o estúdio e a casa, logo depois de um pequeno jardim que lembrava uma pracinha, havia até alguns brinquedos ali. Um canto para churrasco e duas mesinhas com quatro cadeiras cada, em madeira, um chuveiro largo e num quanto uma porta que era um banheiro.

            A casa é toda construída no térreo, não há andares, e é bem maior por dentro do que parece de fora. Pietro explica que ali era um terreno enorme e quando formaram a rua, a casa pegou toda a esquina ocupando quase um quarteirão. Antes do estúdio ficar pronto, tinha entrada tanto pela rua do estúdio quanto pela outra rua. Há quatro quartos dispostos num corredor e Camille sente um leve frio na barriga quando Pietro abre uma porta pintada num azul escuro.

            - E esse é o meu quarto. – Pietro abre a porta e faz sinal para que Camille entre primeiro.

            Camille não sabe o que esperava, mas o que viu, com certeza a surpreendeu. O quarto tinha um cheiro gostoso, leve, como um perfume amadeirado. Tudo ali era em tons de azul e do jeito como estava arrumado, parecia que estava esperando pela volta de Pietro.

            - Minha madre manteve tudo do jeito que deixei na última vez em que dormi aqui. – Pietro dá um sorriso triste. Ele não gostava disso, sempre reclamava com Sara, dizia que isso fazia parecer que ele tinha morrido e ele ficava possesso.

            - E quando foi isso?

            - Em 2010.

            Camille se vira para e ele e entorta um pouco os lábios, compreendendo. Foi quando ele se mudou para o Rio, obviamente. Ela anda devagar pelo quarto, olha os pôsteres na parede, muitos recortes de jornais, a maioria do Eco do Tempo. Ela sorri. Pietro fica parado próximo a porta aberta, olha para Camille e se segura para não agarrá-la ali. “Ainda não...” – ele pensa.

            - Então aqui era o matadouro? – Camille pergunta de repente, ergue uma sobrancelha de forma divertida.

            - Não mesmo. – Pietro responde sorrindo.

            - Não?

            - Não. Eu trouxe uma namorada aqui uma vez, uma única vez e foi tão desastrosa a experiência que nunca mais cometi o mesmo erro.

            Camille franze o cenho tentando imaginar o que ocorrera, mas descobre que não quer saber.

            - Quantas? – ela pergunta com mais seriedade na voz agora.

            Pietro puxa o ar.

            - O quê?

            - Quantas namoradas você teve? – Pietro se surpreende, não esperava isso agora. Ela parece ter tido um pouco de dificuldade para elaborar a pergunta.

            - Eu comecei tarde. – Ele sorri. – Eu gostava muito da minha liberdade, de jogar bola, soltar pipa, de dançar... Só no último ano do Ensino Médio foi que eu comecei a namorar de verdade. Antes, eu tinha dado uns beijinhos aqui, ali, mas nada além disso. Eu tinha 18 anos quando transei pela primeira vez.

            Camille ergue as sobrancelhas.

            - Homens. – ela balança a cabeça sorrindo. – Por que não diz “perdi minha virgindade”? – ela provoca.

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