Capítulo 28 - rupturas

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Camille está olhando as câmeras do Eco pelo seu notebook quando vê o imenso buquê de flores que Fabiana coloca em sua mesa. Ela aperta a ponte do nariz e esfrega os olhos. Pega a caneca de chá e a leva à boca. Nem todo chá de camomila do mundo poderia acalmá-la, nem hoje nem nunca. Ela está na casa de seus pais em Petrópolis e seu propósito de espairecer a mente vai por água abaixo assim que ela imagina quem pode ter mandado aquelas flores à Fabiana.

            Ela precisa voltar ao Eco, mas aproveitou que Jonas está fora do Rio para se ausentar. Quanto mais tempo levar para dar de cara com Pietro, melhor. Isso é o que ela tenta se convencer. Ela respira fundo e se recosta na cadeira. As lembranças do domingo lhe vêm à mente sem pedir permissão...

            Camille está tremendo e se apoia na bancada de olhos fechados. Respira com dificuldade enquanto seu corpo e sua mente travam uma batalha sangrenta: Seu corpo quer voltar e correr atrás de Pietro e lhe pedir para voltar, pedir que a aceite e que fujam para bem longe dali. Mas sua mente, racional e obstinada, diz que NÃO em letras garrafais e imprime um relatório eficiente sobre o porquê de seguir em frente, sem ele.

             - Camille?

            A voz rouca e ainda sonolenta de Jonas a traz de volta. Camille limpa a garganta e rapidamente puxa o netbook do canto da bancada e começa a mexer nele disfarçadamente.

            - Oi, bom dia... – ela diz sem olhar para ele. Fingindo estar muito interessada no que digita.

            - Boa tarde, eu presumo. Nem lembro quando foi a última vez em que eu dormi por tanto tempo.

            Camille arrisca olhar para ele e lhe oferece um sorriso sem graça. Ela o havia dopado. Alguns comprimidos para dormir, amassados, misturados ao seu uísque preferido era tudo de que ela precisava.

            - Café? – ela pergunta.

            - Não. Já passa do meio dia. É melhor nos aprontarmos.

            - Aprontarmos? Podemos almoçar aqui mesmo, é só...

            - Camille. Vamos almoçar com meus pais.

            É só o que Jonas diz e Camille sabe que é uma decisão inquestionável.

***

            Sexta-feira. Camille permanece na casa de seus pais. Sua mãe o tempo todo lhe dizendo o quanto está feliz com a ideia do seu casamento com Jonas, o quanto era isso que seu pai queria e blá blá blá. Camille nem sabe como conseguiu passar quase a semana inteira lá. Foi bom apenas para observar seu pai. Todos os dias se segue a rotina... Camille não sabe ao certo o que acontece no quarto deles pela manhã, mas quando o pai sai para o café, está de banho tomado e bem vestido, mesmo que casualmente. Parece cansado, e apesar dos óculos com lentes que escurecem na claridade, Camille pode perceber o cansaço ao redor de seus olhos. Ele toma café e depois segue com sua cadeira de rodas silenciosa para o lado de fora e dá um longo passeio pelos jardins, passa pela piscina e segue para e estufa, sozinho.

            No restante do dia, ele nem parece ter a doença. Conversa com tranquilidade, faz perguntas sobre o trabalho para Camille e em alguns momentos ela se surpreendeu quando ele lhe perguntava sobre sua vida pessoal, como se quisesse conhecê-la melhor... Quanto a isso, sem dúvida, foi uma semana interessante...

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