Capítulo 8_Anjos Caídos

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    Demetria andava inquieta de um lado para o outro no salão da casa de Tkal. Era de tarde, o tempo parecia se arrastar e nada acontecia. Tkal não retornara, o demônio não dava sinais de presença e Welty... não tinha aparecido na noite anterior como haviam combinado. Por toda aquela manhã não dera notícias e a anjo tinha certeza de que o outro tinha feito o que temia... uma coisa idiota:

     — ...aquele anjo, por que foi sair sem falar antes... — resmungava consigo mesma mexendo as asas de modo inquietante a cada frase, era quase como quando ficava à espera de algum aluno encrenqueiro cujo rosto ela já havia visto várias outras vezes.

     A anjo se via impotente e inútil, não podia sair da vila, prometera a Tkal que não o faria. Uma sensação de que algo ruim estava acontecendo a invadia e persistia desde o dia anterior. Alguém tinha que fazer alguma coisa...:

     — Arg! Se ele tivesse ficado quieto... — continuou a murmurar incomodada com aquela espera interminável.

     No momento seguinte Árabel surgiu no corredor, tinha uma expressão desanimada e decepcionada no rosto. A demônio a tinha procurado na manhã daquele dia e lhe contado o que tinha acontecido, infelizmente a anjo de asas negras não tinha respostas para o sumiço das quatro garotas que já bem conhecia:

     — Realmente, não há ninguém...

     — Eu avisei, lamento por isso, mas estou tão perplexa quanto você, Tkal já deveria ter retornado junto aquele anjo tonto.

     — Onde Lirahy e as outras podem ter se metido? Ah... espero que esteja tudo bem.... — Sua preocupação era nítida, a demônio uniu as mãos e as aproximou de si abaixando o rosto numa expressão chateada. — Ela nunca passou uma noite inteira fora de casa...

    — Qual foi á última vez que falou com sua irmã?

    — Hoje de manhã, eu tive que sair para fazer umas entregas e deixei ela, Moly e as outras em casa lendo um livro...

     Demetria pôs a mão de garras grandes sobre o queixo tentando pensar o porquê daqueles desaparecimentos repentinos, tudo que conseguiu foi se irritar ainda mais com o anjo sumido, se não fosse por ele já teria ido investigar ela mesma. Já iria resmungar mais alguma coisa quando uma pancada de algo se chocando contra a porta ressoou no salão. Demetria se virou rapidamente a fim de observar a porta, Árabel tomou um pequeno susto e também encarou naquela direção com certa apreensão:

     — Ouviu também? Não parece uma batida normal...

     — Shh... fique aqui, irei olhar — a anjo pediu e andou até a porta evitando fazer barulho.

    Demetria aproximou o rosto da superfície da porta a fim de escutar, como tudo se manteve em completo silêncio aproximou a mão da maçaneta. A anjo abriu a porta rapidamente mantendo uma postura de alerta, assim que o fez uma figura cambaleou desengonçada em direção a ela, a anjo desviou alguns passos para trás, rapidamente percebendo de quem se tratava. Era Welty, só que ele estava diferente, o rosto estava muito pálido e com alguns arranhões finos, as roupas brancas estavam sujas de terra e manchas vermelhas que se assemelhavam a sangue. O olhar era cabisbaixo e mirou-lhe inconsciente por alguns minutos antes de pender completamente para baixo, ele jazia apoiado contra o vão da grande porta respirando com dificuldade:

     — Ãh?! Anj... — Antes que pudesse completar, o anjo inclinou-se para frente e caiu pesadamente sobre o chão de mármore com um baque.

    — Ah! — Árabel arfou logo atrás levando uma mão a boca.

     Demetria não tentou se quer segurá-lo, apenas se afastou sem entender da figura caída, só quando viu uma imensa poça de sangue se formando sobre o chão foi que se agachou num dos joelhos para vê-lo melhor. O anjo havia caído de bruços, sobre o emaranhado de cabelos loiros e sujos era possível ver um ferimento grande que cruzava sua cabeça quase por inteiro, era um imenso corte e o sangue provinha dele escorrendo sobre seu rosto. As asas estavam sujas, rasgos e cortes enormes se estendiam em seu entorno, penas voaram para todos os lados ao cair. Olhando com atenção, foi possível ler a palavra "morte" gravada nos cortes das asas que formavam as letras de modo grotesco e desigual:

     — E-Ele es-está.... ele está......

     — Morto? Não, o que é um milagre considerando isso...

     Árabel se aproximou, mas logo virou o rosto cheio de repulsa quando Demetria afastou os cabelos dele para que ela olhasse:

    — O pescoço também está machucado, é preciso tratá-lo e rápido.

    — Quem terá feito isso?! É... É muito sangue.... vou tentar achar algo para estancar, eles tem uma cozinha! 

     — Vou levá-lo para a sala ao final do corredor, há um sofá por lá é o melhor local para colocá-lo.

    Árabel imediatamente sumiu pelo corredor em uma das salas. Demetria analisou bem a condição dele antes de passar um dos braços do anjo sobre o próprio pescoço querendo erguê-lo, se sujou no processo, mas aquilo não lhe importava agora assim como saber quem teria o atacado. No momento em que o levantou algo caiu vindo do anjo sobre o piso, o objeto pequeno tilintou sobre o mármore e reluziu num vermelho forte sob os raios de sol que vinham das janelas. Demetria se esforçou para abaixar o braço sem derrubar o ferido. Era uma pedrinha vermelha e escura que ela guardou em um dos bolsos sem tempo para se preocupar com aquilo. O anjo deu um gemido baixo, era difícil matar um anjo, mas não impossível. Quem tinha feito aquilo possivelmente o queria manter vivo....

    Demetria prosseguiu tendo de arrastá-lo lentamente, pois Welty ainda fraquejava e mais alguns ruídos puderam ser ouvidos. Com um corte daquele ele não falaria nem tão cedo, o que era um tanto ruim:

     — Não se esforce, depois falaremos.... céus, o que foi arrumar..... — falou arfando sobre a força que fazia para carregá-lo, sabia que asas grandes podiam ser pesadas quando queriam...

      No entanto o que havia se desenrolado com ele, lhe era realmente um mistério.

      No entanto o que havia se desenrolado com ele, lhe era realmente um mistério

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