Capítulo 14_Energia Escura II

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   — Enfim... , pensei que nunca o veria aqui de novo... — O demônio se recompôs do aparecimento repentino da figura na frente dele sem se intimidar.

    — ...

    — Sua aparência esta péssima! Gostou de ser regurgitado? — Sorriu odiosamente analisando-o de cima a baixo.

    — ...

    — Admito que gostaria de vê-lo sair à minha frente...

    — Não o daria esse prazer.

    — Eu sei, você é um estraga prazeres, sempre foi!

     — ... — Valt se manteve em silêncio, não ousando relembrar o que aquela "coisa" tinha feito com ele, o cheiro podre de um líquido sujo e imundo ainda estava impregnado em suas roupas. Havia sido desagradável se livrar de sua "prisão", porém aquilo não o impediu.

    Ele analisou o demônio jovem a sua frente taciturnamente. Estava quase idêntico de como o vira anos atrás. Parecia mais forte e Valt sentia que apesar de ter um certo domínio sobre a muralha e o inferno, aquele demônio tinha dado um jeito de sugar parte da energia dela para si, ficando mais poderoso do que de fato era, proeza que poucos conseguiam. De qualquer modo a culpa era de Tkal, ao isolá-lo do inferno seu controle sobre o lugar diminuira consideravelmente. Apesar da situação em que se encontrava, Valt jurou que a lembraria disso caso viesse perturbá-lo:

     — ...pelo menos não se escondeu como o covarde que é...

     — ...não fico ameaçando seres menores e insignificantes. — Valt cruzou os braços contrariado. — Enfrente alguém da vossa laia se quer mostrar que algo nessa sua cabeça evoluiu.

     — Sim, você tem o sangue fraco para isso e muito mais! Continua o mesmo de sempre, desconfio até que perdeu suas naturezas e tenho que dizer que uma auréola lhe cairia muito mal... — caçoou.

     — ...

     — Deixa eu adivinhar o porquê de ainda estar aqui... — O demônio colocou uma mão no queixo pensativo e continuou zombeteiro. — ...veio a procura da sua preciosa anjo, aquela que você usa para esconder essa sua cara vergonhosa e perdedora...

     — Cale a boca e diga o porquê de ter tido o maldito trabalho de me trazer até aqui, estou a sua frente, então faça logo o que pretende... — Valt o observou frio e acusatório.

     — Notei que precisava de mais um pouco de motivação para vir... Ah, tinha que ver, foi tão fácil e estúpido prender aquela criatura angelical! Os dois acharam mesmo que iriam se livrar de mim não é? Que os deixaria viver tranquilos e com sua aliança nojenta? São tão patéticos assim? Para sua infelicidade Tkal será sua ruína. — O demônio sorria ardilosamente enquanto falava.

     — ...também continua o mesmo... não se cansa de falar asneiras, fala de mais a propósito... — Valt grunhiu baixo encarando-o sem emoção.

     — Pare de resmungar e preste atenção, maldição! Não sabe o quanto esperei por este momento... tendo-o novamente aqui!

     — Onde a prendeu? Se é que o insignificante que é, fez tal ato...

     — Ah... não acha que vou te contar, acha? Farei melhor, te mostrarei pessoalmente onde ela está..., mas primeiro... — O demônio deu alguns passos para trás e gesticulou com uma mão para o redemoinho de luz negra que ainda cruzava o teto do lugar rumo a superfície. — ... dessa vez nem você e nem aquela idiota vão estar aqui para impedir que eu pise naquela terra doente! Além de que... não existe espaço para nós dois nesse inferno, nem no novo mundo que criarei então...

     O demônio abriu as enormes asas negras e voou para o alto sem tirar os olhos do outro, ali de cima Valt foi encarado com superioridade:

     — ...vou acabar contigo! Em outro sentido... vou apagar sua existência medíocre desse mundo! E depois... cuidarei de Tkal... pessoalmente.... — Ele sorriu perversamente ao fim da frase.

     Valt ouviu a tudo com total descaso, já tinha escutado aquilo antes em algum lugar, nas profundezas de sua consciência... não era novidade o quão sua aliança incomodava certos demônios... Ele tinha controle sobre o submundo, possuía poder suficiente para enterrar todos os opositores no inferno, impedindo-os de perturbar a paz da superfície, paz essa ordenada por Tkal. Aquilo era o suficiente para alguns quererem sua cabeça. 

     O outro, irritado com seu silêncio, atirou uma enorme lança de ferro, semelhante a um arpão, surgido misteriosamente no ar, em direção a ele tirando-o de seu transe. O objeto passou raspando por Valt e conseguiu rasgar parte da carne do pescoço, seguindo a rota a lança se cravou no concreto violentamente. Ele sentiu o sangue escorrer sem reações e a lança negra se desintegrou até sumir:

     — Nada a dizer?! Pois bem... vou te matar lentamente... assim posso ouvir seu sofrimento, se é que já não entrou no limite da sua decadência! — gritou furioso e várias outras lanças surgiram no ar ao redor dele.

     Valt espiou por sobre a muralha em direção ao pátio sem nenhum temor ou se quer notar o ferimento em seu pescoço, tinha chegado mais tarde do que o previsto...

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