Capítulo 6_Claustrofobia III

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     Já era tarde quando Welty sobrevoou a floresta dos morcegos, lar deles e de outras criaturas bizonhas, em busca do que procurava. Ainda havia luz, portanto não seria totalmente difícil encontrar a antiga caverna onde a passagem dos demônios que dava a superfície ficava. O anjo não considerou a possibilidade de adentrar no lugar em outro momento. Com o estranho desaparecimento de Tkal, não era bom que demorasse a fazer o que devia, se tinha de descobrir algo aquela era a hora.

     Welty conhecia bem o caminho apesar do longo tempo que ficara sem pisar naquele lugar que se mantinha tão repugnante quanto da última vez em que estivera nele. Tinha sido obra de Tkal e do líder dos demônios fazer com que aquela floresta fosse praticamente um quebra-cabeças para quem saísse do vilarejo dos anjos. Desse modo, nem anjo nem demônio poderiam explorar aquele lugar e descobrir seus mistérios tão perigosos, já que após a abertura da fenda, muitas criaturas estranhas tinham vindo do inferno além de somente demônios comuns e curiosos. Entretanto não era de todo impossível adentrar o lugar.

    Assim que avistou o cume de uma grande pedra o anjo pousou sobre a floresta. A sua frente via-se uma abertura escavada sobre o rochedo, era ali dentro que a fenda se encontrava, bem no coração daquela caverna. A abertura ficava oculta atrás de algumas pedras grandes que faziam o papel de escondê-la, só que naquele momento elas estavam empurradas e mexidas deixando a entrada totalmente à vista de qualquer um. Sem dúvidas alguém havia estado ali, o que era ruim.

     O anjo ainda assim olhou ao redor para constatar se estava sozinho e sem mais delongas se precipitou até a entrada da caverna. Ele teve de espremer as asas entre as pedras para conseguir passar, pois ainda assim a abertura era um tanto estreita para alguém do tamanho dele. A parte de dentro estava abafada e quente, uma tocha se encontrava acessa e presa à parede de pedra, não somente uma como era possível ver mais iluminação vinda dos fundos do túnel. 

    Aquilo confirmou suas suspeitas de que de fato algo tinha ou estava ali. Poderia ser Tkal, apesar se ele não sentir energia alguma do ser celestial que a mesma era. Quem sabe talvez ela estivesse se inibindo de propósito como já tinha feito outras vezes, Welty pensava. Ou talvez fosse qualquer outro ser, até mesmo aquele monstro gigante... em todo caso, ele sacou a espada e a manteve em mãos, sem medir em até que ponto suas habilidades eram suficientes e pensando unicamente no próprio dever.

     A caverna se assemelhava ao túnel de uma mina e era largo o suficiente para caber algo grande em sua extensão. O anjo começou a se embrenhar em suas profundezas, seus passos faziam barulho sobre as pedrinhas e cascalho que sujavam o chão de terra, não se lembrava de o corredor ser tão longo e muito menos que ele se bifurcava. Olhando para os lados pôde ver outra abertura na parede que dava a um caminho diferente. Welty entrou a fim de ver onde aquilo o levaria e acabou encontrando ainda mais caminhos que se perdiam em todas as direções. Aquilo era muito estranho, nada se assemelhava ao que aquele lugar era há tempos atrás.

     Após algum tempo caminhando e analisando tudo ao redor foi que encontrou alguma coisa. Enquanto andava suas pernas esbarraram contra um objeto no meio do caminho oculto em sombras, olhando mais de perto percebeu se tratar de um caixote grande de madeira. Parecia novo e recente, como se tivesse sido trazido há pouco tempo, não havia sequer poeira em sua superfície. O anjo imediatamente tratou de arrancar algumas daquelas tochas da parede e usá-la para observar melhor o achado. Com a outra mão Welty se aproximou e tentou abrir a tampa, estava fortemente trancada por correntes de metal. Nada que não pudesse resolver. Sacando a espada conseguiu desferir um golpe sobre as correntes que se partiram e caíram ao chão, o barulho acabou retumbando por todo o corredor. Ele esperou em silêncio observando os lados. Nada veio, então tratou de fitar o interior da caixa.

     O que tinha ali o surpreendeu ao mesmo tempo em que o deixou confuso. Havia pedras preciosas dentro, todas vermelhas como sangue e de tamanhos parecidos, cintilavam a luz da tocha o que chegou a doer-lhe os olhos. De onde teriam vindo era um mistério que não conseguiu decifrar. Pegou uma delas para observá-la de perto, era lisa e tão leve quanto um pedaço de vidro, assim que a retirou conseguiu ver mais alguns objetos avermelhados ao fundo. Ao puxá-lo pôde analisá-lo melhor, era um objeto cilíndrico com um pavio, claramente se tratava de uma dinamite, só que uma gosma preta estranha os sujava. Algo preocupante estava acontecendo, Welty fechou a caixa e se afastou, não antes de guardar uma daquelas pedras consigo, Tkal devia saber o que era aquilo e até mesmo ele próprio poderia estudá-la...:

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