Era num fim de tarde que Tkal havia decidido que iria cozinhar. Sim, ela era Deus e não precisava de tais necessidades, porém o ato de se ocupar fazendo alguma coisa tinha vencido o de ficar parada refletindo sobre o mundo que ela tinha de reger. Não que não gostasse de fazê-lo, apenas queria sair de sua monotonia.
Normalmente quem usava a cozinha, cômodo bastante recluso, era Welty que vez por outra fazia alguma coisa. Tkal tinha de admitir que ele sabia cozinhar bem, apesar de o fazer bem pouco. A experiência para ela naquele momento estava sendo um tanto terapêutica, a anjo só havia jogado um monte de legumes e vegetais dentro de uma panela com água, mexendo no fogão até engrossar no que se podia chamar de sopa.
Ao final suspirou satisfeita com sua criação, até que tinha sido uma tarefa rápida e fácil considerando que não sabia fazer tanta coisa nessa área. A anjo sorriu para si mesma com o fato de fazer algo mesmo que simples:
— Hm... acho que está bom. — A anjo estava parada de pé em frente ao fogão rústico da cozinha fazia um tempo, espiava o conteúdo na panela algumas vezes e falava sozinha.
Quem comeria aquilo com ela era uma pergunta interessante, assim pensou quando saiu deixando a panela ao fogo apagado. Os corredores do andar de cima estavam escuros, já era noite. Um leve barulho vinha de uma das salas, um instrumento de cordas estava sendo tocado. Tkal se precipitou até o local de onde o som vinha, surgindo e aparecendo num piscar de olhos na porta que se encontrava entreaberta. Ela espiou o interior da sala pela abertura.
Welty estava ali dentro, a luz externa entrava sob a cúpula de vidro da sala iluminando seu centro por completo. Tocava uma harpa grandiosa, o som era aleatório e sem melodia. O anjo passava os dedos pelas cordas parecendo distante e imerso em pensamentos, olhava para o nada em profundo silêncio. Tkal sabia bem que ele não desgrudava daquele objeto:
— Welty? — chamou baixo para não assustá-lo.
O anjo finalmente levantou o rosto e olhou para Tkal como se percebendo, somente naquele momento, que ela se encontrava parada a porta:
— Sim?
— Pretende jantar?
— ...desculpe, estou ocupado... — Welty respondeu distraído sem prestar muita atenção a pergunta.
Tkal sorriu e começou a fechar a porta devagar:
— Certo, termine o que está fazendo, não vou te atrapalhar...
— Imagine...
Foi o que ouviu ao fechar a porta por completo. Se Welty não iria acompanhá-la só restava uma coisa a fazer, ela chegou a sorrir com a ideia ao pensá-la...
Demorou um tempo para achá-lo, somente quando Tkal se encontrou parada a porta da sala de jantar que soube onde o demônio estava. O cômodo era mais afastado dos outros, também raramente usado e pela estranha energia que saia dali, foi que ela teve a certeza da presença do ser que procurava. Por esses e outros motivos era que Valt se encontrava na mesma. Quando não saia para fazer sabe-se lá o quê, ele se guardava em salas vazias. Desde que aprisionara o líder dos demônios consigo, ela vinha tomando o cuidado de não perdê-lo de vista, isso era causa de brigas que ela sabiamente tentava evitar... quase sempre.
Tkal abriu a porta da sala sem cerimônias e entrou, afinal a casa era dela. A sala estava totalmente escura, a não ser pelo brilho das estrelas e lua que entravam pelas janelas descobertas do cômodo. Uma mesa oval coberta por uma toalha de mesa não muito grande e um candelabro, se encontravam próximos das janelas, uma figura estava sentada na ponta e Tkal demorou em identificá-la apesar de saber de quem se tratava:
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O Belo Jardim
Fantasy''- Edie e Kia, duas amigas inseparáveis, habitam um mundo onde Anjos e Demônios passaram a conviver juntos. A vida não poderia ser mais pacífica até que as duas se veem diante de um terrível problema...o dever de casa. Por que as duas raças con...