Capítulo Bônus I_O Pacto_

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    Os raios de sol aquele dia entravam sobre a cúpula da sala onde jazia a harpa. O brilho que o instrumento produzia era quase de doer os olhos, não era para menos, Welty havia acabado de polir a base de ouro do objeto. Cuidava dela como se fosse a sua própria irmã. De vez em quando, ao fechar os olhos, quase podia vê-la sentado sobre um banco tocando-a como fazia antigamente, mas aí vieram os demônios para arrancar o único ser ligado a ele, deixando-o sozinho.

     Ele ainda não havia se acostumado a tudo que vinha acontecendo ao seu redor, se lembrava muito bem do dia em que ocorrera a unificação entre anjos e demônios, uma ação perigosa e que não tinha aceito no início. Tinha até mesmo questionado Tkal, os dois eram amigos e não havia mal em questionar. A única coisa que tinha conseguido como resposta, foi uma frase solta e enigmática que ainda não havia entendido:

     "São por motivos futuros Welty, não posso lhe explicar pela complexidade dos fatos, até eu mesma fico confusa!", tinha brincado.

     O anjo deixou de divagar ao ouvir um barulho alto vir do andar de baixo. A porta da sala estava entreaberta, o que permitiu que ele escutasse os sons externos. Tudo ficou em silêncio novamente e ele se perguntou se de fato tinha ouvido alguma coisa. Um segundo barulho veio como resposta. Enfim o anjo saiu para olhar, ao cruzar o corredor e chegar à escadaria ainda mais barulho ressoou vindo do salão principal.

     O som vinha do corredor que levava a sala de Tkal, à medida que ia se aproximando ele começou a entender do que se tratava. Pareciam panelas e madeira batendo, só havia um lugar na grande casa onde podiam existir panelas. Welty se esgueirou até a porta da cozinha que ficava a esquerda do corredor.

     As pancadas e tilintar de metal se tornaram insuportáveis quando parou de frente ao recinto. Enfim o barulho cessou e foi substituído por vozes vindas de dentro, o anjo se preparou para entrar, mas parou ao ouvi-las. Eram vozes finas, femininas e muito parecidas entre si, a não ser pelo tom mais grosso de uma e fina de outra, que tratava de diferenciá-las:

     — ...onde será que eles guardam os biscoitos? — Logo após o barulho de uma porta de armário batendo pôde ser ouvido.

     — ...aqui é que não é...

     — ...pensei ao menos que eles teriam uns pedaços de carne guardados aqui...

     Welty não se conteve e entrou de súbito na cozinha se deparando com duas demônios:

     — O que estão fazendo?!

     Uma delas virou o rosto para ver quem entrava, estava sentada sobre a bancada de madeira ao centro do cômodo, as pernas cruzadas uma sobre a outra. A outra demônio olhava para dentro de um armário, ela bateu a cabeça ao tentar tirá-la de dentro dele, seus chifres arranharam e fizeram barulho quando se chocaram contra a madeira violentamente. Ela deu um gemido levando uma mão à cabeça quando potes e pacotes tombaram para fora do armário, caindo sobre ela e indo ao chão com um estardalhaço:

     — Ah, é só você... — Senka falou indiferente.

     — Ah, pensei que fosse o Mestre! — Aknes soltou ainda esfregando a própria cabeça.

     — Quem deixou que entrassem aqui?! — Só então Welty viu a bagunça em que se encontrava.

     Haviam cacos de pratos quebrados ao chão, potes e panelas de metal espalhados para todos os lados e restos de frutas meio comidas jogadas sobre as bancadas e chão:

     — Me respondam, céus! Olhem a bagunça que vocês fizeram! Isso é inadmissível!

     — Droga, fomos descobertas, eu avisei para não fazer barulho! — Senka o ignorou e encarou Aknes parada ao lado dela de relance.

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