Capítulo 13_A Divina Tragédia

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    Um cheiro de queimado pairava no ar e subia ao céu escarlate, finalmente o plano se concretizaria, tinha demorado mais que o esperado, mas agora estava feito. O chefe daquele caos observou a quantidade de demônios reunidos no pátio, preparados para as ordens... ou não. Naquele momento uma confusão se alastrava no pátio abaixo, vozes rompiam de todas as direções nervosas ou alegres. O demônio olhou para aquilo com impaciência e raiva do topo da muralha.

     Erguendo o grande cajado de pedras vermelhas escuras que tinha em mãos, ele apontou para o centro do pátio, o chão tremeu violentamente. Todos os demônios ali embaixo olharam para cima finalmente o vendo. A grande parte ficou quieta sabendo que a invasão finalmente começaria.

     O cetro em sua mão produziu uma luz de tom branco e dourado, o brilho cruzou o ar como um raio em direção ao centro do pátio. Demônios se afastaram e voaram para longe do clarão, ofuscados pelo brilho enorme produzido. Assim que aquilo encostou sobre o piso de pedra da muralha, o raio se tornou negro e denso, parte do chão rachou e um círculo negro enorme surgiu no ponto, em fim o selo que os prendia ali tinha sido destruído.

     Da abertura negra, surgiu um tornado de energia ruim, que subiu ao céu do inferno com um zumbido que enlouqueceria qualquer um que não fizesse parte das trevas, ouviu-se um estrondo enorme quando aquilo atingiu o "teto". Um novo buraco enorme se formou no topo, pedras despencaram do alto como meteoros e vieram cair sobre o pátio e os abismos, uma nova fenda havia sido aberta.

     Os demônios mal esperaram quaisquer sinais para começaram a se precipitar até a fenda, todos sabiam exatamente o que fazer a seguir, os que voavam subiram ao topo e os outros deixaram ser consumidos pela escuridão que exalava do centro. Sairiam do inferno e dariam na superfície, local onde antes era inacessível, aquilo não era nada comparado ao que viria mais tarde...

     O demônio sorriu diabolicamente, o cetro desapareceu de suas mãos com uma ofuscação vermelha, queria apreciar o espetáculo sem aquela energia nojenta de Tkal pairando no ar. Ele apoiou os cotovelos sobre a amurada de pedra sorrindo involuntariamente, durante séculos tinha se preparado para aquele momento, o lugar repugnante na superfície estava em suas mãos. Uma mescla de raças tão diferentes e distintas, somente uma sofria das consequências, aquilo lhe provocava uma ferocidade inimaginável, tudo por culpa... dele. Sua vingança se concretizaria, ah... como seria prazeroso!

     Dessa vez seria diferente, nenhum anjo maldito seria poupado, nenhuma oposição seria tolerada, a tortura seria a melhor parte... sim seria. Era a principal diversão que teria naquele lugar insuportável, melhor ainda..., transformaria o mundo em o que quisesse que fosse, com toda aquela energia de deus as possibilidades eram inesgotáveis.

     Poderia criar um novo mundo, uma nova raça ou simplesmente destruir tudo até sobrar o vazio... o nada... o...:

     — CHEFE!!! — Uma voz irritante interrompeu seus maravilhosos pensamentos, ele encarou por sobre o ombro.

     Maick corria pelo muro da muralha até seu encontro seguido da coisa que ele tanto almejara. O ódio e a raiva surgiram em seu semblante, mas logo foram substituídos por um sorriso largo ao pensar que finalmente terminaria com o causador daquilo tudo. A criatura vinha logo atrás do moleque:

     — ChEfEE.... — Maick desabou de joelhos no chão de concreto aos pés do demônio, estava ofegante, todo arranhado e suado.

     O demônio se virou pronto para caminhar até a criatura, porém Maick se interpôs em seu caminho ainda de joelhos. Ele o encarou de cima impaciente e arqueou uma sobrancelha:

     — Me dê um motivo para não te jogar dessa muralha, maldito inconveniente! Que cara arrombada é essa?

     — Tem arf, arf... quatro arf, arf... garotas... arf... invadindo a... arf... muralha.... e são TERRÍVEIS!

     — ...

     — ...

     Maick foi agarrado pelo casaco, o demônio o puxou do chão para mais perto de si irritado:

     — Bati muito forte na sua cabeça?! Vou fazê-lo de novo para que volte ao normal!

     — É... É verdade! Tavam disfarçadas e... e...

     — CHEGA! Não quero ver sua cara até estarmos na superfície... espere, o que é isso? Onde conseguiu um terceiro chifre?! — caçoou rindo ao ver o imenso galo, ainda maior que antes, por sobre o boné torto na cabeça de Maick.

    O rosto dele ficou vermelho de raiva com o comentário, o demônio riu com desprezo de sua expressão e o largou no chão de volta com um empurrão:

    — É tão patético quanto aqueles anjos, ao menos me trouxe essa coisa...

     A criatura que rastejava atrás de Maick tinha parado a meio caminho andado do muro, o demônio passou pelo garoto e se encaminhou até ela rapidamente, erguendo uma mão assim que a viu recuar para trás. Os olhos vermelhos do demônio reluziram psicodélicos, a criatura se retorceu inteira e com um grunhido de dor foi obrigada a adquirir sua outra forma. Lithia surgiu diante deles numa careta de indignação, antes que pudesse fazer qualquer coisa o demônio a agarrou pelo pescoço com a mão grande e avermelhada envolvendo-a por completo. Não escaparia mais.

     Ela foi puxada para mais perto, sendo sufocada pela força esmagadora do outro e fraquejando sobre os próprios joelhos:

     — Onde ele está?! — questionou friamente.

     — ...eu.... não sei..... — A resposta veio estrangulada e com um tom de medo que não escapou ao outro.

     O demônio sorriu com a reação dela e continuou:

     — É melhor contar o que fez caso contrário, irei abri-la do mesmo jeito! — ameaçou alegremente. — Vai ser imensamente divertido...

     A mão sob o pescoço de Lithia foi afrouxada a fim de sua reposta ser ouvida:

     — Juro que não sei! Ele escapou, estava me destruindo e mutilando por dentro, não tive escolha a não ser vomit...

     — Por que devo acreditar em você?! — o demônio a interrompeu enraivecido.

     — ...ele está vindo a seu encontro! Ouvi-o dizer...

     O demônio continuou estático com as mãos sobre o pescoço da outra, por fim largou-a abruptamente, Lithia levou as mãos à garganta dolorida e se afastou:

     — Suma da minha frente! Ainda verei o que fazer com sua falha miserável!

     A demônio se transformou e sumiu rastejando pelas paredes da muralha. Maick que assistiu a tudo em silêncio, vislumbrou algo em uma das entradas para o topo do muro onde estavam:

    — Aê! Falei! — Maick se virou e apontou pro grupo de garotas que acabara de surgir na entrada da escada.

    — Aê! Falei! — Maick se virou e apontou pro grupo de garotas que acabara de surgir na entrada da escada

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