Capítulo 13_A Divina Tragédia III

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     O chão e as construções tremeram no topo da superfície, uma rachadura enorme surgiu sobre o piso de pedra de uma das ruas do vilarejo, elas se estenderam cada vez mais subindo nas paredes das casas e sobre a encosta da montanha. Anjos e Demônios se afastaram surpresos e assustados, gritos de alguns eram carregados pelo vento.

     Demetria os ouviu da praça principal, ali do topo e ponto mais alto do vilarejo, foi que viu os acontecimentos descritos de desenrolarem nas partes baixas da montanha. Um buraco enorme tinha se aberto numa das ruas mais largas, o mesmo estava se expandindo cada vez mais, consumindo a estrada de pedra e tudo em seu caminho. De súbito um raio negro saiu dele cruzando o céu claro com o fim de tarde, o som que produzia era insuportavelmente forte e de doer os ouvidos de qualquer um.

     Alguns minutos se passaram, o som diminuiu e quando as coisas pareciam que não poderiam mais piorar, seres começaram a surgir voando de dentro dele, outros rastejando para fora, percebia-se que eram todos demônios. Demetria imediatamente se pôs em alerta, suas asas se abriram prontas para voar até lá e tentar impedir aquela invasão a qualquer custo, mas uma voz a conteve:

     — Eles... eles estão vindo daquele lugar.... — Welty estava parado atrás dela junto a Árabel, que assistia tudo em choque. — Não deve ir sozinha, são muitos.

     — Voltem para dentro. — Demetria tentou ordenar encarando-os de soslaio.

     — Não, ficarei e lutarei.

     — Céus anjo! Tu ainda tá acabado, me diga... como exatamente vai lutar neste estado?

     — Ela tem razão Senhor Welty, digo, está mal ainda...

     — Nem tem armas para se defender.

    Welty encarou Demetria e depois Árabel com ar de seriedade, ele parecia irredutível. Com o erguer de uma mão ao seu lado, um brilho faiscou da palma, e a espada perdida de quando foi atacado apareceu entre seus dedos mais reluzente do que nunca. Abençoada por Tkal, aquela arma nunca ficava muito tempo longe dele, era somente pensar em tê-la que ela viria em seu auxílio de onde quer que estivesse:     

    — Agradeço pela preocupação, mas não mudarei de ideia — confirmou abaixando a arma ao lado de si majestosamente.

     Ouviu-se um estrondo quando uma espécie de bomba foi lançada contra a encosta da montanha, o local atingido explodiu. Dali de cima foi possível ver pedras e poeira sendo levantados, tudo em volta começou a pegar fogo, a fumaça negra das chamas subiu aos céus. Ouviram-se risadas sádicas e estridentes entre gritos assustados:

     — Vão destruir tudo se deixarmos... — Demetria apoiou ambas as mãos com força sobre a amurada de pedra encarando o acontecimento com irritação e até um pouco de raiva. — ...esses vadios.

     Os outros dois ficaram em silêncio. Estavam tão distraídos com todos os acontecimentos em volta, que não perceberam a aproximação de um demônio por sobre o barulho enorme causado pela explosão:

     — Prontos para morrer?!

     Os três se viraram para ver quem falava. Um demônio todo de preto os ameaçava com um facão enorme:

    — AH! — Árabel gritou e se afastou assustada quando ele tentou agarrá-la.

     Welty e Demetria imediatamente sacaram suas armas, o anjo a espada, a anjo uma faca enorme presa ao cinto da calça. Os dois avançaram apontando as lâminas para ele ao mesmo tempo, o demônio invasor sorriu nervoso e antes que pudesse fazer qualquer coisa, algo o acertou por trás com violência. O demônio caiu de joelhos sobre o chão como se estivesse desmaiando. Atordoado e nervoso, ele rapidamente se arrastou e voou para fora da praça medroso, deixando o facão caído sobre a grama para trás.

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