Capítulo 4_Problema Infernal III

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    Um cheiro de queimado ainda pairava sobre o ar puro da montanha, a única construção que pegara fogo era a escola. Água tinha sido jogada sobre ela, porém o fogo era infernalmente anormal e apenas cessou quando Tkal apareceu surgida sob o crepúsculo. Fuligem e restos de objetos queimados se estendiam por todas as salas e lados em pilhas acinzentadas e fumegantes. Praticamente nada havia se salvado do incêndio com exceção aos seres que estavam dentro dela, felizmente ninguém havia se ferido gravemente, era fim de aula e a maioria dos que frequentavam a escola já estavam do lado de fora quando tudo aconteceu.

     O fogo começou sorrateiro e silencioso, Demetria estava próxima dos portões quando sentiu o cheiro e o mau presságio, ela só teve tempo de ver a imensa nuvem de fumaça subindo aos céus antes de entrar na escola em chamas e conseguir retirar todos que estavam dentro dela. Tinha se queimado no processo, mas a dor era algo com o qual sabia lidar muito bem e que não deixou paralisar-se por ela. Não existia ninguém ao redor deles que pudesse dizer quem havia feito aquilo... claro que o culpado não se revelaria por espontânea vontade, um dos castigos para tal acontecimento, se provocado por algum ser, era o banimento definitivo do vilarejo. Aqueles que viviam para causar intrigas desse nível, certamente não podiam estar entre os outros.

     A anjo andou pelo corredor sujo e negro, a estrutura estava completamente destruída, as paredes se encontravam cheias de rachaduras, as janelas quebradas, os livros feitos em pó. Por fim, parou na entrada da biblioteca contemplando a destruição com certa irritação no rosto que logo foi reprimida por uma voz suave que chegou vinda detrás:

     — Sinto muito pelo que aconteceu... — A voz era calma, porém séria. — Se houvesse ficado isso certamente não teria acontecido.

     Demetria não precisou se virar para saber que se tratava de Tkal, olhando por sobre o ombro viu a soberana se aproximar lentamente dela e parar ao seu lado. Não pareceu ligar por estar sujando a barra do vestido branco ou tendo fuligem caindo sobre seus cabelos loiros, ela apenas parou e observou ao redor:

     — Não se desculpe, sinto que aconteceria de qualquer jeito mesmo que pegasse o culpado — explicou complacente entrando no recinto destruído lentamente.

     — Demetria... você se queimou.... — comentou ao ver uma queimadura que estendia-se sobre seu braço direito, próxima ao cotovelo e quase oculta pela manga arregaçada de seu casaco.

    Só naquele momento foi que se deu conta do machucado, a ferida ardia um pouco e tinha deixado sua pele sob carne viva, ela deixou o braço cair para o lado e pôs as mãos dentro dos bolsos da calça dando de ombros:

     — Ah, isso? Não se preocupe, já lidei com coisa pior.

     — Ainda assim deixe-me ajudá-la. — A anjo puxou um lenço branco e limpo do compartimento de seu vestido se direcionando até Demetria.

     Ela não se opôs apesar de achar a atitude desnecessária. Tkal ergueu seu braço delicadamente e enrolou o lenço no local da queimadura próximo ao cotovelo com cuidado atando-o num nó:

     — ...obrigada — agradeceu baixo olhando para a faixa e adentrando a biblioteca chamuscada.

     Tkal a seguiu encarando a tudo com expressão pensativa, ambas ficaram em silêncio por alguns longos minutos:

     — Como foi sua ida a floresta? — Demetria questionou por fim espanando um pouco de fuligem dos ombros.

     — Peculiar... — a outra murmurou fixando os olhos azuis claros em Demetria.

     — ?

     — Existem coisas estranhas por lá, mas não pude continuar, pois senti que algo estava errado antes mesmo de adentrá-la, só então vi a fumaça e retornei o mais rápido que deu.

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