Capítulo 20_Primavera

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    — ARG! Basta disso! — A voz de Valt rompeu na sala, ele deu alguns passos para trás se afastando de Tkal.

     — Fica quieto! Preciso limpar seu rosto direito para que ele não infeccione, de novo... — Tkal segurava um pano sujo de sangue em uma das mãos, ela o jogou numa bacia de água em cima da mesa e o torceu em seguida.

     Valt voltou a encostar as costas novamente no batente da mesa e apoiou o braço bom em sua superfície, o outro tinha sido dilacerado e parcialmente arrancado de modo nem um pouco convidativo, agora estava enfaixado e segurado por um pano. Parte do rosto queimado do demônio também tinha sido enfaixado por uma bandana medicinal que cobria um de seus olhos e passava por baixo do cabelo, o demônio estava muito melhor que dias atrás. Anteriormente os machucados eram profundos e enormes. Além de seu rosto ter sido praticamente desfigurado por corrosões sobre a pele, algumas partes de seu físico haviam sido arrancados, ele também mantinha a postura um tanto esguia por conta das perfurações que iam de suas costas até a parte da frente de seu corpo:

     — Realmente... aquele demônio conseguiu fazer estragos em você, mesmo possuindo regeneração nesse mundo, ainda está bem machucado para seus padrões... — O Ato também estava presente na sala, jazia sentado numa cadeira um pouco mais afastado dos dois.

     Durante os três dias que se passaram Tkal ficou ocupada trabalhando na reconstrução da montanha, ela tinha ajudado um pouco a cuidar de Welty e Valt. Árabel também tinha ajudado juntamente com O Ato, um velho amigo, que estava ali em uma de suas últimas visitas aos dois líderes. Ele os visitava raramente, pois reclamava de ter de subir as escadarias até a casa.

     Tkal virou o rosto em direção ao Ato sorridente:

     — Não exatamente ele, você quis dizer a minha luz benévola, não?

     — Humpf... isso aqui não foi nada! — Valt resmungou de modo convencido e mal- humorado.

     — Na verdade... não foi fácil recolocar seu braço no lugar... — Tkal cutucou o braço enfaixado dele com o indicador.

     — Nem seu olho... — O Ato complementou relaxando contra o encosto da cadeira. — A julgar pelos ferimentos, pensei a princípio que ambos tinham brigado novamente...

     — Não encosta! — o demônio ralhou ríspido afastando o braço bruscamente.

     — Não foi nada é? Eu literalmente acabei com você pela segunda vez, só que indiretamente... estou curiosa para saber como escapou da destruição causada pela influência do meu poder em seu ser... — Tkal colocou uma mão no queixo pensativa.

     O demônio estreitou os olhos, mantendo o rosto erguido para olhá-la:

     — ...igualmente em saber como conseguiu ficar presa num tridente, é uma desatenção velha e muito comum em certos anjos fracos, insuficientes, mas em um ser como... arg! — A soberana jogou o pano ainda meio molhado na cara dele.

     — Desculpe, só estou tentando limpar bem essa queimadura no seu rosto... o que ia dizendo? Você é velho e desatento??? — Tkal pressionou o pano contra a enorme queimadura próxima a bochecha.

     Valt lhe encarou com aversão por sobre o pano:

    — ...pensa que não sei ó quão desleixada foi?!

    — ...foi uma pequena falta de atenção. Aliás, eu queria ver se você sentiria minha falta ou ficaria cochilando por aí, talvez eu tenha o subestimado no fim...

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