Capítulo 4_Problema Infernal

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    O sol estava quase se pondo, o vento soprava forte na encosta da montanha fazendo folhas voarem por todos os lados carregadas pela brisa. O pomar das maçãs estava deserto, a não ser pelas duas figuras encapuzadas de antes, escondidas atrás de árvores e arbustos. A silhueta mais velha olhou ao longe para o topo da vila, o sol descia aos poucos pelas casinhas brancas e claras dos habitantes, muito em breve estaria de noite:

     — Seu estúpido! Não acredito que deixou a coisa fugir... na verdade, acredito sim, seu desleixo é irritante!

     — Sussega, ela deve tá comendo algum coelho por aê, não deve ter ido muito longe... — O segundo estranho deu de ombros para a exclamação.

     — É bom que ela esteja por aqui mesmo, ou juro, descontarei em ti! — A figura retirou o capuz puxando-o com força e o atirou no chão.

    O vento soprou sobre os longos cabelos negros e lisos de uma demônio esbelta, ela os arrumou irritada sobre os chifres negros em formato de C e remexeu com a outra mão o cinto da saia do vestido que mal cobria metade de sua coxa, o decote em V na parte da frente era parcialmente fechado e as mangas lhe cobriam até os cotovelos, toda a vestimenta era de couro preto. Calçava botas até as canelas de mesmo material da roupa e luvas sobre os punhos que deixavam os dedos de garras grandes, pintadas de vermelho, amostra. Atrás de si, asas negras e grandes como as de morcegos se encontravam parcialmente abertas. O rosto possuía uma expressão séria e irritada, estava mais do que determinada e pronta para fazer o serviço que fora lhe designado.

     Seus olhos vermelhos e raivosos se fixaram na figura menor, agora também sem capuz ao seu lado e mordiscando uma maçã ruidosamente:

     — O quech, che vaich facher agorach Nevrach... — Cuspiu.

     — Nojento! Engula antes de falar! — Dito isso, a demônio que atendia pelo nome mal pronunciado, tomou a maçã das mãos do garoto e a atirou longe por sobre o ombro.

     — ..mas que saco! Não pode nem comer mais...

     Sem dar explicações ela retirou um apito de prata simples e cilíndrico do decote da blusa e assoprou ruidosamente, um assovio fino e agudo saiu dele. Em pouco tempo a criatura que ela havia trazido na noite anterior surgiu rastejando entre as árvores em alta velocidade, a língua pendia para fora da boca suja de sangue, sinal de que tinha acabado de se alimentar. Seus olhos esbugalhados se fixaram nos dois demônios, o animal já iria se afastar novamente ao reconhecê-los e fugir, mas a demônio a agarrou pela corrente do pescoço com uma força descomunal antes que pudesse fazê-lo:

     — Anda seu moleque inútil, segure a Lithia.

     — ...quem? — O demônio olhou de um lado para o outro confuso.

     — Onde foi que perdeu sua inteligência?! Arg, esquece, nunca deve ter tido! Esse monstro gordo... — ralhou cerrando as presas bastante pontudas e o puxando pela blusa em direção ao animal com impaciência.

    A coisa ergueu o rosto como se ofendida com o comentário:

     — O que cê vai fazer com esse bicho asqueroso, de novo?

     — Me divertir um pouquinho?

     — Quê?

     — Não force sua cabecinha tentando entender, verá por si mesmo....

     A figura menor resmungou alguma coisa baixo que a outra ignorou:

     — O que seria do "chefe" se não fosse por mim... esses tontos! — Desdenhou com superioridade na voz.

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