Pov. Aurora
Bárbara e Letícia me levaram até a nova casa da minha mãe, mas resolveram ir embora para deixar que a conversa rolasse entre a família. Fiquei parada em frente ao portão marrom por um bom tempo até criar coragem para apertar a campainha. Como já estava escurecendo, não poderia demorar muito do lado de fora, ou seja, eu entrava ou eu ia embora.
O som agudo da campainha me fez tremer por dentro. Senti minhas mãos suarem um pouco quando a porta se abriu e encarei seu rosto pálido pelo susto. Eu não tinha respondido sua mensagem, apenas sai da cafeteria e segui para o nosso antigo bairro. Ela estava usando um roupão cinza — isso queria dizer que tinha acabado de chegar do trabalho e tomou um banho para relaxar —, junto com suas pantufas felpudas.
Tem coisas que nunca mudam.
Passamos pela garagem e seguimos direto até a porta de entrada. Tinha algumas caixas espalhadas pela sala, mas não era algo que atrapalhasse a passagem. A decoração era a mesma da nossa antiga casa, mas agora parecia que ter um ar mais sofisticado, talvez por conta dos cômodos maiores.
— Onde está Bel? — perguntei curiosa, chamando sua atenção.
— Está na casa de uma amiga.
— Ah... — respondi triste. Queria realmente vê-la.
O silêncio predominou e meu incômodo de estar ali se intensificou.
— Aceita uma água? Café?
— Água seria bom.
Caminhei com ela até a cozinha depois de decidir seguir ela. Eu realmente não queria ficar sozinha. Ela parecia mais calma e feliz do que a última vez que eu a vi, e isso era meio estranho. Minha mãe nunca foi o tipo de pessoa que muda da água para o vinho, sempre teve um processo para isso acontecer. Apesar que, talvez, isso tenha acontecido, mas eu não estava por perto.
Sentei em uma das banquetas que ficavam próximas a um armário branco e a observei arrumando a cozinha. Depois que dei o primeiro gole na água, senti o líquido descer pela minha garganta me saciando um pouco. Eu estava realmente aflita com o que estava por vir, mesmo que por fora eu transparecesse ser a pessoa menos interessada no mundo.
— Não imaginei que você viria hoje — murmurou encostada na pia.
— Eu também não, mas hoje é o único dia livre que eu tenho. A agenda está apertada.
— Entendo. — Ela decidiu se sentar em uma das oito cadeiras da mesa de jantar e me encarou em seguida. Sabia que estava tentando encontrar as palavras certas para começar a falar. — Eu passei esse último ano me perguntando onde foi que eu errei nas minhas decisões. Errei como esposa, errei como mãe, errei comigo mesma... Eu tinha planejado a minha vida perfeita, e ela desceu pelo ralo.
— Não podemos ficar presos a planos sabendo como a vida é, mãe.
— Eu sei disso. O que estou tentando dizer é que eu tinha planejado tudo para que você e sua irmã tivessem uma vida confortável. Quando você disse que iria viajar para seguir uma carreira que eu mal sabia que você tinha... Isso mexeu comigo, Aurora, mexeu muito! Como que você pôde esconder isso de mim?!
— Eu confesso que errei e peço desculpas de novo por isso, mas eu só não contei porque sabia que você não aceitaria.
— Como você poderia saber?
— Porque você quer sempre que tudo seja do seu jeito!!! — exclamei nervosa. — Menti porque achei que era necessário na época e, talvez, se eu tivesse contado a vocês desde o primeiro dia que iniciei os cursos, vocês teriam me barrado.
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A Arte Entre Nós
Fanfiction"É comum ouvir que a Arte pode mudar vidas e tocar as pessoas, mas nem sempre ela é aceita como uma carreira. Aurora Rizzi é uma jovem de 21 anos que sonha em viver daquilo que mais lhe dá prazer: escrever. É através de uma oportunidade que ela deci...