Pov. Aurora
Hoje a casa estava cheia! As meninas decidiram vir a noite, porque elas sabiam que eu precisava de um apoio moral. Os meus pais e minha irmã não estavam em casa, viajaram para o casamento da minha prima no interior, mas eles prometeram que voltariam para o meu aniversário. Aproveitei o momento para fazer as atividades tranquilamente, sem passar nervoso.
Foi difícil ter tomado essa decisão, mesmo com as meninas me incentivando porque, por mais que eu quisesse muito, não sabia se iria escrever algo tão bom a ponto de ganhar o concurso. Talvez eu nem ganhasse isso. Depois que saí do shopping, decidi ler o e-mail que Cinthia enviou e percebi que ela não contou nada sobre o projeto que ela participaria com o ganhador. Contei isso para as meninas e todas nós achamos bem estranho.
Letícia disse para eu não me incomodar com isso, que eu só estava arrumando desculpas para não fazer as pequenas "provas". E sim, eu estava com medo, qualquer pessoa ficaria desconfiada. Porém, nada tirava aquilo da minha cabeça; se ela não contou muito, era porque tinha caroço nesse angu.
Os três exercícios que eu precisava fazer baseavam-se na construção de um roteiro, ou seja, precisava construir personagens, um espaço e por fim a história. Ela queria que construíssemos uma história original, poderia ser romance, suspense, comédia ou terror. Mas, isso era só a parte da história, sendo que, o roteiro em si, tem muitos detalhes técnicos que eu não queria nem pensar em como iria conseguir englobar tudo.
Estávamos no meu quarto, cada uma em um canto. Eu dividia a cama com os diversos papéis espalhados, enquanto Leh e Babi procuravam técnicas para a resolução das atividades entre as minhas anotações. O quarto estava uma bagunça.
Escutei uma batida na porta e Babi levantou da cadeira prontamente para abrir, era a minha avó.
— Vocês não vão descer para jantar? — perguntou, colocando apenas a cabeça para dentro do cômodo.
— Nós já vamos!
— Eu ouvi isso há meia hora atrás.
— Eu sei, vó, é só que... — Bufei, impaciente. Estava cansada demais pra conseguir escrever algo bom. — Gente, não dá! Isso aqui é impossível.
— Aurora, você tem tempo ainda!
— Eu tenho a noite inteira, você quis dizer — suspirei, colocando as mãos em meu rosto. — Eu já li esse exercício três vezes e cada hora eu mudo de opinião sobre a história que, inclusive, está ficando horrível.
— Aurora...
— Ok, desculpa, não quero descontar em vocês.
— Amiga, tudo bem — disse Babi se aproximando —, a gente sabe que você quer muito isso e é normal ficar nervosa.
Levantei rapidamente e peguei todas as anotações que consegui, indo diretamente para o quadro de post-it que fica na parede. Aproveitei para tirar os papéis antigos e coloquei as minhas anotações do concurso. Tentei fazer com que tudo no quadro fizesse algum sentido, principalmente a parte do enredo. Olhei atentamente para as meninas que me encaravam com estranheza.
— Pronto, esse aqui é o meu trabalho!
— Um quadro cheio de papéis? — perguntou Babi, inclinando sua cabeça para o lado. — O que exatamente é isso?
— Acho que ela está investigando um homicídio... — respondeu Leh. — Ah! A história é um mistério? Isso seria legal!
— O quê? Não! — Passei as mãos no meu cabelo longo. — Assim eu consigo ter mais noção das ideias que eu já tive.
— Acho melhor a gente comer, talvez você consiga desenvolver melhor, não acha?
Depois que comemos, as meninas me ajudaram a organizar as anotações e foram embora, com o relógio marcando quase dez horas da noite. Peguei o notebook e sentei em frente ao quadro, tentando organizar as ideias para começar a escrever.
— Se eu disser algo você promete não ficar brava? — perguntou minha avó, entrando no quarto.
— Depende do que você disser.
— Não acho que isso vai acabar bem, mas eu gosto que você esteja tentando.
— Acabar mal em que sentido?
— Você sabe em que sentido.
— Ah...
— Vai ficar acordada a noite toda?
— Talvez. A senhora pode ir dormir, se quiser.
— Tudo bem.
No fundo, eu sabia que minha avó estava certa. Sabia que minhas amigas estavam certas... Mentira tem perna curta e, com o passar do tempo, se tornam insuportáveis de manter. Queria que minha vida e as minhas escolhas não fossem tão difíceis assim, mas eram.
Porém, só de imaginar trabalhando com Cinthia em um projeto grande já era um sonho enorme realizado. O meu objetivo de chegar a Hollywood nunca sairia do meu caminho, disso eu tinha certeza, mas, para chegar até onde eu queria, sabia que precisava sacrificar algumas decisões e optar pela mentira. Não era algo que eu recomendaria para alguém fazer, mas, como eu disse, eu estava falando da minha vida e das minhas escolhas e eu só estava tentando fazer com que isso se tornasse menos difícil do que era.
Eu estou errada em me escolher?!
Respirei bem fundo e olhei para o quadro de anotações.
— Vamos lá, Aurora... É o seu sonho, lembra?! A gente começa tentando.
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A Arte Entre Nós
Fanfiction"É comum ouvir que a Arte pode mudar vidas e tocar as pessoas, mas nem sempre ela é aceita como uma carreira. Aurora Rizzi é uma jovem de 21 anos que sonha em viver daquilo que mais lhe dá prazer: escrever. É através de uma oportunidade que ela deci...