Capítulo 31 - 2ª parte

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Pov. Aurora

Olhando para o piso branco eu só conseguia pensar em como eles conseguiam deixá-lo tão limpo. Dava para ver o meu rosto nele. O meu diário estava aberto há pelo menos vinte minutos, para tentar me distrair um pouco, mas não adiantou nada, fiquei cada vez mais perdida nos meus pensamentos e lembranças do acampamento. A minha mente parecia estar tão cheia que mal escutava as pessoas em minha volta. Charlie diria que isso era meio estranho.

— Aurora — exclamou Meghan, que se sentou ao meu lado sem eu ao menos perceber —, está me escutando?

— Não, desculpe. O que você disse?

— Perguntei se você quer um café, minha mãe vai até a lanchonete.

— Eu quero sim, obrigada.

Os meus olhos ardiam de tanto cansaço e meu corpo parecia estar totalmente frágil, qualquer movimento alguma parte estralava. Suspirei e tentei me acomodar na cadeira da recepção. O hospital só permitia a visita dos familiares, então eu não via Charlie há cinco dias, mais precisamente desde o momento que eu e os meninos o deixamos no outro hospital e ele foi transferido para o de Dieppe.

Quando liguei para Patrick para falar sobre a tempestade, pude ouvir um "Santo Deus!" bem fraco do outro lado da linha. Por mais que não tenha sido culpa minha, sentia que poderia ter feito mais, poderia ter ajudado mais... Fico me perguntando o que poderia ter feito se tivesse tempo, se tivesse uma escolha.

— O seu café — disse Meghan, fechando o meu diário e me entregando o copo. Ela se sentou ao meu lado e encostou a cabeça na parede.

— E como ele está?

— Estável, mas não acordou.

— Ah...

— Aury — murmurou baixo, inclinando o seu corpo para o meu lado —, o que aconteceu no dia que vocês o acharam? Você não diz nada há dias sobre isso e eu estou ficando preocupada com você.

— É que é uma lembrança que eu prefiro não me lembrar — sorri fraco. Com certeza não queria.

— Se a sua preocupação é sobre eu contar a minha família, não se preocupe! Sou eu quem quero saber. — Por mais que isso me machucasse, Meghan tinha o direito de saber de tudo. Então, contei tudo desde a manhã de sábado que eles saíram.

— [...] Quando eu o encontrei ele estava debaixo de uma árvore, os meninos conseguiram tirá-la e colocar em um ponto que não nos atrapalha-se mais. Só que a tempestade piorou, não foi tão pior quanto a da noite anterior, mas foi pior o bastante para ficarmos encolhidos na neve, tremendo de frio. — Tomei um gole do café para conseguir dizer o resto. — Quando tudo passou, já estava de tarde e se não andássemos rápido poderíamos ficar perdidos no escuro, nenhum de nós levou uma lanterna. Quando chegamos na cabana, todos se amedrontaram ao encarar Charlie, mas eu só queria colocá-lo no banco de trás do carro o mais rápido possível e sair de lá. Chris ligou para o pessoal se aprontar no meio do caminho, para quando chegássemos no chalé irmos direto pra o hospital, então as meninas já tinham arrumado tudo, inclusive a minha mala.

Meghan me encarava com atenção, mas tomava cuidado para sua mãe não chegar e escutasse sobre o que estávamos conversando. Talvez ela estivesse no quarto agora com ele.

— Entramos no carro de Greg e eu fui atrás com Charlie deitado em meu colo. Lembro de ter tocado o seu peito e não sentir nada, não sentia o seu coração bater e isso me fez chorar em silêncio e só pedi para eles correrem. O seu corpo estava frio e sua boca roxa, foi horrível... Quando chegamos ao hospital ele foi atendido com urgência e isso foi bom, um dos enfermeiros disse que esse tipo de situação ocorre com frequência, mas a gente nunca imagina que pode acontecer com alguém próximo.

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