Reencontro

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Kepa entrou no carro de Jorginho e foram para a casa do brasileiro.

— É a minha primeira festa em muito tempo...

— Você vai se divertir, cara. Não fique pensando muito. Podemos passar em um pub perto da minha casa para que se livre um pouco dessa tensão.

— Não. Melhor não. Já vamos beber na sua casa...

— Decidiu beber então?

— Só um pouco. Estou com medo de fazer estrago.

— Como assim?

— Eu bebi muito durante os tempos difíceis. Não foi nada legal.

— Você passou por muitas coisas. Em algum momento descontaria na bebida... não se culpe. Como se sente?

— Estou bem. Mas diga-me, Jorgi. Você já escreveu cartas?

— Não. Nunca fiz isso. Por quê? — ele ficou surpreso.

— Só perguntei por curiosidade.

— Chegamos — disse, parando o carro ao lado da entrada da casa.

O som estava tão alto que Kepa podia ouvir de dentro do carro. Ficou receoso.

— Vai ficar aí a noite toda?

— Acho que foi uma péssima ideia.

— Vamos, cara. Anime-se! — Jorginho o puxou pelo braço. Porém, ele era mais fraco que o goleiro. Quando se soltou, desequilibrou e caiu.

Kepa riu.

— Você me paga, espanhol.

— Quer ajuda para levantar? — ele saiu do carro e estendeu a mão para o amigo, que continuava caído no gramado.

— Agora que decidiu sair, sinta-se convidado a entrar em minha casa.

Ele abriu a porta e entrou antes de Jorginho. Deparou-se com os rostos assustados e surpresos dos amigos do time. Alguns ficaram boquiabertos.

— Kepa Arrizabalaga em uma festa? A que devemos tal milagre? — Azpilicueta o abraçou.

— Não precisava fazer esse alarde. Todos já estão olhando.

— Fiquei feliz com a sua presença. Algo que não via há tempos. Criou coragem para vir?

— Eu o comprei com sorvete de limão vindo da Espanha — Jorginho riu.

— Ele me encheu tanto... tive que vir. Não havia outra opção.

— Que bom que você decidiu sair um pouco.

Depois de algum tempo, Kepa já havia bebido alguns drinks e parecia não se importar com mais nada naquela noite. Ele reencontrou os amigos em uma situação completamente diferente: longe das viagens, dos treinos e dos jogos. Ali, podiam ser eles mesmos. Sentiu-se confortável, mas ainda não era capaz de se soltar.

Ele adquiriu uma postura mais rígida à frente dos outros com o passar do tempo. Evitava demonstrar emoções, para não chamar a atenção toda para si. O maior desafio dele seria desconstruir todas as barreiras e proteções que levantou para ficar a salvo. Kepa passou a ter um pé atrás com muitas pessoas. Isso incluía os amigos do time.

O emocional dele ficou fragilizado com as situações, o ódio e as ameaças que sofreu. Era como um pavio conectado a uma dinamite. Bastava acender para que tudo fosse para os ares. A porta da sala foi aberta. Parecia que mais alguém havia chegado. Era a única pessoa que jamais deveria entrar por aquela porta. Mesmo assim, sentiu-se no direito e entrou.

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora