Cartas | Kepa Arrizabalaga

Surpresa

Três semanas depois

O mês chegou ao fim com Kepa sendo titular em todas as partidas depois da Supercopa. Foi uma boa injeção de ânimo para ele, que recebeu muito apoio da torcida. Naquele dia, o espanhol ficou até mais tarde no centro de treinamento para uma sessão de fortalecimento muscular e foi acompanhado por Jorginho, já que os dois iriam embora juntos.

— A vida é muito injusta. Você engrossa as pernas com facilidade e as minhas continuam como as de um pássaro.

— O problema é que você come muito mal! — o goleiro não conseguiu evitar o riso.

— Tudo bem, doutor! Eu realmente preciso jantar — Jorginho deu um tapa nas nádegas do mais alto, que arregalou os olhos.

Kepa ficou envergonhado e engasgou com a água que bebia enquanto o outro falava. Os dois caíram na gargalhada e continuaram os exercícios.

— Mudando de assunto... é um pouco estranho não terem anunciado o último jogador que vai vir para o time nessa janela de transferências. Você sabe quem é? — o goleiro olhou para o mais baixo, que meneou a cabeça.

— Não. Dizem que é espanhol... você e o Azpilicueta devem conhecer. Parece que a negociação só vai ser resolvida no final do dia.

Os dois terminaram a atividade e foram para o vestiário, onde tomaram banho e se arrumaram para irem embora. Deixaram o centro de treinamento na Ferrari de Jorginho. Kepa revirou os olhos ao perceber que o outro não trocou a marcha.

— Tire o pé do acelerador ou pelo menos saia do câmbio manual. Você vai destruir o sistema de tração milionário desse carro e eu não vou ficar parado na estrada para Londres aguardando um reboque.

— A sua paixão por essa máquina finalmente começou a aparecer — o brasileiro abriu um sorriso e acionou o câmbio automático. A Ferrari ganhou velocidade e as rotações do motor ficaram estáveis. — Tenho uma péssima notícia. O combustível está na reserva.

— É inacreditável — ele levou uma das mãos à testa e riu de nervoso. — Vou mudar o seu nome para Fabio Quartararo. Parece até que são amigos. Como duas pessoas podem ter tanta preguiça de fazer algo simples como abastecer um carro?

— Nós estamos a poucos minutos de um posto de gasolina. Vou aproveitar a parada lá para comprar um chocolate... você precisa se acalmar.

— Estou calmo... é que esse carro é um pobre coitado que sofre na sua mão. Amanhã de manhã eu vou levá-lo a um lava-jato.

— Para quem odiava esse carro e agora até diz que vai cuidar, confesso que fiquei impressionado — Jorginho riu. — Quer fazer algo hoje à noite?

— Queria usar aquele aparelho de fondue que comprei há algumas semanas e sequer tirei da caixa. Podemos abrir uma das garrafas de vinho que trouxe da minha última visita a Bilbao. Ah, eu já tinha me esquecido de uma coisa... — ele pegou o celular e enviou uma mensagem. — Preciso avisar ao Miguel e à Diana que finalizei a compra do prédio no qual a lanchonete deles fica.

Eles pararam no posto de combustíveis e saíram do carro para abastecer.

— É o casal simpático que prepara os lanches dos quais você tanto fala?

— Sim. Eles iam fechar, mas não deixei que desistissem do negócio. Resolvi comprar o prédio inteiro para acabar com o aluguel que os prejudicava... agora eles podem ter um faturamento livre de preocupações. Um agente imobiliário amigo do pai da Isabel cuidou de tudo.

— Foi muito legal da sua parte — Jorginho fez uma pausa para pensar. — Sabe, eu achei que você poderia desistir de voltar...

— Eu só precisava me despedir da Isa e circular pela cidade como fazia anos atrás. Londres me sufocou porque vivi tantos momentos difíceis nesse lugar... naquela noite em que eu discuti com você, Bilbao pareceu ser um dos poucos lugares do mundo onde eu poderia encontrar algum conforto. Então eu decidi ir antes do programado para esfriar a cabeça... é tão bom ver que nós dois estamos bem depois de tudo aquilo.