A verdade era que o espanhol tinha medo de a amizade com Jorginho acabar depois dos beijos. Era a verdade. Ele já havia perdido tantas coisas que não suportaria mais nenhuma baixa. Porém, reconheceu algo que o acalmou.
— Você está certa sobre a preocupação que tenho, Isa. Isso só vai me fazer mal. Vou deixar as coisas acontecerem e a partir disso vejo o que fazer.
— Melhor assim — ela sorriu.
— E você? O que faz aqui?
— Então... acho que não sigo os meus próprios conselhos.
— Suponho que está sofrendo. Por qual motivo?
— Por uma coisa que infelizmente não posso resolver. Ninguém pode, infelizmente. Mas hoje não é dia de tristeza, Kepa. Eu o encontrei, então o dia automaticamente se tornou incrível. Senti tanta saudade de você...
— Eu também senti sua falta.
— Posso fazer um convite idiota? — ela pareceu pensativa.
— Não é idiota se é um convite — Kepa sorriu.
— Podemos comer pizza quando acabarmos aqui? Estou com vontade.
— Claro! Você falou em pizza e me lembrei da última vez em que nos encontramos em Bilbao.
— Guardei aquele dia bem no fundo das minhas memórias para que não me incomodasse. Foi horrível ter perdido contato com você. Mas o importante é que nos reencontramos, não é?
— Sim! E estou animado para fazermos um passeio. O que acha de Cardiff? Sempre quis conhecer.
— É uma ótima ideia, mas por que está me chamando para uma viagem?
— Nós nunca fizemos uma. Não sei quando poderíamos ir, pois dependo dos treinos e dos jogos. Recentemente, tive boas folgas. Por isso, acho que vai demorar um pouco... assim que der, aviso.
— Seria incrível. Já faz algum tempo que não saio.
— Não voltou a Bilbao?
— Não foi por falta de vontade. Eu simplesmente não consigo mais voltar lá.
— Aconteceu algo na cidade? — o goleiro ficou preocupado.
Isabel suspirou e ficou receosa. Não queria contar nada ao goleiro, por pensar que ele já aguentava coisas demais. Kepa sempre foi o amigo mais preocupado com ela. Esconder aquilo dele poderia causar um afastamento. Pelo menos era isso que pensava.
— Vamos comer? Acho que já bebi demais — Isabel mentiu. Na verdade, ela queria ir a um lugar mais reservado. Criou coragem para dizer ao amigo o motivo de nunca mais ter voltado para a cidade em que eles se conheceram, mas não ali onde ele era reconhecido como um jogador tanto pelos funcionários quanto pelos frequentadores.
— Claro! Vou pagar e podemos ir — o espanhol disse, tirando a carteira do bolso. Entregou uma nota de cinquenta libras a Joe, que agradeceu a gorjeta generosa.
Eles caminharam silenciosamente pela rua onde ficava o pub em direção ao restaurante, que ficava dois quarteirões à frente. Uma chuva fina caía sob o céu avermelhado de Londres e os espanhóis não tiveram medo de se molharem um pouco. Chegaram ao restaurante pouco tempo depois, mas descobriram que seria necessário aguardarem. Kepa foi reconhecido na fila e desistiram de comer no local.
— Temos que escolher outro restaurante. Podemos ir a um lugar que também tem pizza — Isabel sugeriu, rindo da situação. — É, você ficou mesmo famoso.
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Cartas | Kepa Arrizabalaga
FantasyKepa começa a receber cartas de alguém que o motivam a acreditar mais uma vez nas pessoas. Ele terá que se reconectar com as próprias raízes para reconstruir a vida depois de perder o espaço que tinha no time e na seleção e de sofrer ataques de pess...