Intriga e mistério

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No outro dia
Londres

Kepa voltou para a Inglaterra no meio da manhã. O espanhol chegou em casa ainda triste pela soma de todas as coisas, mas com uma sensação reconfortante de ter se despedido de Isabel. Ele encontrou a porta trancada e lembrou que havia deixado Jorginho duas noites antes quando foi para o aeroporto repentinamente. Pensou em ligar, mas depois do que fez não se sentiu suficientemente corajoso para ouvir a voz dele.

O goleiro foi ao mercado para se distrair um pouco e aproveitou para comprar comida. Chegou em casa uma hora depois e guardou tudo que estava nas sacolas. Olhou o celular e percebeu que tinha uma chamada perdida de Azpilicueta. O amigo quis fazer uma visita a ele.

— Como foi em Bilbao? — o capitão do time se sentou à mesa da cozinha para ajudá-lo com o jantar.

— Bom e ruim. Fiquei bêbado duas vezes. Sei que não é algo tão positivo e que devo me cuidar... — ele se antecipou ao sermão que certamente ouviria do amigo. — Às vezes nós só perdemos a cabeça.

— Fico feliz que tenha decidido voltar para Londres. Sei que as coisas não estão fáceis, mas de um jeito ou de outro você vai ter que continuar. É melhor que seja junto a nós — Azpilicueta sorriu. — Acho que estou em débito com você. Não estive tão próximo nos últimos dias.

— Não é culpa sua. Cada um lida de uma forma diferente com a partida da Isa — Kepa ficou pensativo. — Sabe o que mais me incomodou? Eu não sabia o quanto estava mal até me despedir dela na praia que costumávamos ir. Foi como revisitar o tempo em que fui feliz. Muito feliz.

— As boas memórias são como um castelo. Elas nos protegem de perdermos o sentido para as coisas. Talvez seja por isso que ir a Bilbao tenha causado emoções tão controversas... mas o seu semblante melhorou consideravelmente desde a última vez que te vi. Já é um progresso.

— Falando em progresso... eu preciso voltar aos treinos.

— Tem certeza disso? — Azpilicueta olhou para ele.

— O futebol faz parte da minha vida. Ela ficaria desapontada se eu ficasse fora. Eu sei que pensei em desistir e em voltar para Ondarroa, mas aí eu seria um fracassado de verdade. Tenho que aprender a lidar com a ausência dela.

— É exatamente isso que eu esperava ouvir de você. Dê um passo de cada vez, meu amigo. Todos do time estão tristes com o seu afastamento... digo, nós entendemos que às vezes é necessário ficar sozinho, mas também somos a sua família. Você escolheu ficar em Londres e vamos te dar todo o apoio que precisa.

— Obrigado, Azpi.

— Não é fácil continuar depois de tudo. Fiquei preocupado com você... quando Jorginho me contou sobre a sua intenção de nunca mais voltar, achei que precisaria ir a Bilbao com ele para te convencer.

— Se ele te disse isso, então certamente você sabe que decepcionei a única pessoa que sempre me apoiou.

— Depois de o Jorginho ficar meses a fio se esforçando para te ajudar? Kepa, ele sabe que todo "não" dito por você é na verdade o oposto. Menti?

— Não. Você nunca está errado.

— Ainda bem que sabe. Só não seja um babaca com ele... Jorginho moveria montanhas enormes só para te apoiar. Afastá-lo só vai fazer mal aos dois.

Kepa concordou. Jorginho o enchia de orgulho e causava inúmeras sensações boas, mas o sentimento de que ele havia decepcionado o homem que amava ainda era algo muito evidente.

— Os legumes vão queimar — Azpilicueta riu e foi ao fogão para desligar o fogo. — Sei o quanto o Jorginho é importante para você. Quando estamos muito ansiosos ou nervosos, temos a péssima tendência de falar algumas coisas que machucam ou ecoam por dias e dias. Então só dê um tempo para se recompor e veja o que fazer. Não acho que ele vai virar a cara para você no treino de amanhã.

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora