"E ai, cara! Como você está?"
Era Jorginho.
"Acabei de ter um sonho estranho. Por que me ligou a essa hora? Aconteceu algo?"
"Não, está tudo bem por aqui. Eu não dormi ainda... a festa acabou há pouco. Fiquei preocupado com você."
"Por sorte eu estava acordado. Sonhei com ela, Jorgi."
"Que merda. Ela não sai da sua cabeça, não é?"
"Eu juro que não pensava em Marina há um bom tempo. Só lembrava das palavras que me disse."
"Ela não deveria ter aparecido ontem. Não tinha voltado para a Espanha?"
"Foi o que eu soube. Não bastasse o que fez e o que causou na minha vida, voltou para me atormentar."
"Ela não vai fazer mais nada. Fique tranquilo."
"É o que espero. Vai fazer algo hoje, Jorgi?"
"Não. Acho que vou dormir daqui a pouco e depois do almoço devo caminhar perto de casa."
"Podíamos ir a um pub à noite, o que acha?"
"Boa ideia. Essa folga de dois dias merece ser aproveitada. Vamos chamar mais alguém?"
"Chame quem quiser. Só quero ouvir música e passar um tempo com os amigos. Ontem vi o quanto preciso me reaproximar de todos."
"Tudo bem. Vou ver o que posso fazer e quem consigo chamar. Mando o endereço do pub depois."
"Obrigado, Jorgi. Vá descansar!"
Depois que Kepa deixou o celular sobre a cama, foi até a cozinha beber água. A boca dele estava seca. Efeito do álcool ingerido. Depois de hidratar-se, pegou duas bananas e subiu para o quarto novamente. Comeu-as e dormiu por mais quatro horas. Tudo que ele queria era aproveitar a folga com tranquilidade. Até então, estava conseguindo.
Jorginho mandou o endereço do pub no qual se reuniriam à noite. Ficava a vinte minutos de carro, mas ele iria com um carro de aplicativo. Kepa evitava ao máximo dirigir embriagado. E naquela noite ele queria se divertir.
O goleiro passou o tempo vendo filmes. Assistiu três, sendo que o primeiro foi antes do almoço. Para comer, fez camarão grelhado com salada. Foi inevitável lembrar-se dos pais, já que boa parte dos almoços em família remetiam à pesca. Kepa cresceu em uma simpática vila de pescadores no nordeste da Espanha. Enviou uma foto do prato para os pais antes de comer. Sentia falta deles no dia a dia, não podia negar. Queria que eles passassem mais tempo em Londres, mas ambos gostavam mais de Ondarroa do que de qualquer outro lugar do mundo.
Ele entendia perfeitamente aquilo. Mas para ganhar o mundo, precisou abdicar da vida que levava. Isso incluía a redução no contato com os pais por conta dos treinos e das viagens. Além, é claro, da escola. Ele sempre manteve uma relação muito saudável com ambos, mas em alguns momentos haviam discussões sobre a carreira e os estudos. Foi uma fase difícil, mas eles entenderam que o foco no esporte seria necessário. Sem aquele apoio, nunca teria chegado até ali.
Depois do almoço, ele continuou assistindo aos filmes e fez até um balde cheio de pipoca para acompanhar. Perdeu a noção do tempo e não viu que anoiteceu. Estava quase na hora de ir para o pub, onde se encontraria com os amigos do time.
Kepa abriu a janela do quarto para verificar se a temperatura estava agradável, mas enganou-se. Fazia frio do lado de fora. Portanto, escolheu uma roupa mais quente e um tênis que nunca havia usado. Ele adorava usar algo novo em ocasiões especiais.
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Cartas | Kepa Arrizabalaga
FantasyKepa começa a receber cartas de alguém que o motivam a acreditar mais uma vez nas pessoas. Ele terá que se reconectar com as próprias raízes para reconstruir a vida depois de perder o espaço que tinha no time e na seleção e de sofrer ataques de pess...