Cartas | Kepa Arrizabalaga

Carta V

Oi, Kepa.

Já faz algum tempo que não escrevo para você. Muitos meses se passaram desde a última vez e sei que tudo mudou. Sinto muito pela partida de Isabel e sinto mais ainda por vê-lo triste. Queria amenizar a sua dor... queria que não passasse por nada disso. Você não merece tanto sofrimento.

Permita-me dizer algumas coisas. Estive pensando nos últimos dias sobre os vários ciclos que compõem as nossas vidas. Nós simplesmente não queremos que alguns deles cheguem ao fim, não é?

É claro, nós sempre nos acostumamos à presença das pessoas que amamos em nossas vidas e jamais podemos dizer que estamos prontos para qualquer despedida. Especialmente no caso de alguém que tinha a vida inteira pela frente.

A dor deve ser horrível. Você precisou fugir um pouco de todo esse caos e imagino que tenha encontrado um pouco de paz e conforto em Bilbao. Só que a sua vida é em Londres e fico feliz que tenha voltado. Foi a decisão certa, mesmo que pareça trazer ainda mais sofrimento agora. É na cidade onde você perdeu tudo que também vai se reencontrar.

Acredite quando digo que dessa vez vai ser diferente. A tristeza ainda tem um certo lugar na sua vida, mas ela irá embora em breve... então as memórias e todas as coisas boas que viveu serão a luz que você vai usar para prosseguir.

Não sei se essa é a última vez que te escrevo algo, mas acredito que a minha missão está se cumprindo. Só quero oferecer o suporte do qual precisa para se sentir melhor. Você vai encontrar a paz que tanto merece.

Desejo, do fundo do meu coração, que essa paz seja traduzida nas pessoas que estão ao seu lado, nos planos que fizer e nos sonhos que realizar. Que essa paz seja duradoura. Que seja para sempre. Prometi ao longo das outras cartas que tudo ficaria bem. E como toda promessa é também uma dívida, estou tentando cumpri-la.

Ah, sobre Belfast e a Supercopa... tenho uma notícia quase óbvia. Eu estarei lá. Vamos fazer assim: se você ganhar mais esse título eu posso criar coragem para me revelar. Não é uma condicionante... pode ser que leve mais algum tempo para me isso. Ou talvez não diga nada. Sem pressão. Pode ser assim?

Gostaria de pedir uma coisa antes de encerrar. Nós só temos essa vida, então reúna-se com os seus amigos e celebre com eles. Não é uma ideia louca. Pense em tudo que já passou... não desista de tentar ser feliz ao lado daqueles que se importam com você. Faça isso por si.

É muito bom saber que isso aqui te faz bem. Um simples envelope com um simples texto pode mudar o dia de alguém. Confesso que levo algum tempo para escrever cada carta... é difícil escolher as palavras sem revelar muito sobre mim e sem parecer alguém que está dentro da sua cabeça. Inclusive isso seria muito estranho — ou não... eu adoraria saber os seus pensamentos sobre o que já escrevi!

Depois de dizer tudo isso, só espero que não fique dependente dessas cartas. Por isso não escrevo com tanta frequência, já que eu quero apenas encorajá-lo a enfrentar tudo.

Lembra de quando eu te fiz ir à London Eye? Você sequer imaginava reencontrar Isabel naquela época. Então quero te fazer uma pergunta: acredita em sorte? Eu acredito... assim como também acredito em você. Sei que isso talvez diga muito sobre mim (mas não me pergunte os números da loteria... acho que seria desperdício de dinheiro escolher os números sem colocar o 5 entre eles! É o meu número preferido).

Se achar que tudo deu errado, olhe no espelho e veja o homem que se tornou. Veja o caminho que trilhou para chegar até aqui. Sei que Isabel se sente orgulhosa do melhor amigo, onde quer que ela esteja.

Fique bem. Se cuide.

Até logo.