Dúvidas

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Duas semanas depois

A viagem pela costa italiana foi memorável para os três. Kepa e Jorginho tiveram mais encontros românticos do que nunca e Isabel passou a maior parte do tempo com os amigos. Ela, por sua vez, sentiu-se bem. As dores não incomodavam e a fraqueza sentida nos meses anteriores praticamente sumiu.

Jorginho, hipnotizado pelo olhar do goleiro que brilhou muito mais sob o sol napolitano, percebeu o quanto a vida ao lado de Kepa havia se tornado ainda mais feliz. Já o espanhol se perdeu no riso fácil, nas danças sem sentido e nas memórias que construiu ao lado do brasileiro nos meses que se passaram.

A viagem serviu para confirmar o que já sabiam: amavam um ao outro de formas que não conseguiam compreender. A brisa leve de Nápoles e todas as alvoradas deram outro tom para o relacionamento. A cada dia deram um novo passo em direção ao que estava por vir. Não sabiam como seria o futuro do que tinham, mas estavam juntos. Isto já bastava para os dois.

Eles nasceram em cidades costeiras. Viam nas águas um refúgio particular inigualável. O vai e vem das marés e o movimento cíclico das ondas sobre os pés funcionavam como fontes de energia para ambos. A areia era como o chão irregular da vida sobre o qual pisavam com cautela. As paisagens das praias de Nápoles não arrancaram apenas suspiros dos dois, mas fizeram com que Jorginho visitasse as lembranças nostálgicas de um garoto que morou na cidade e um dia sonhou em ser realizado e feliz.

E ali, logo depois de ter sido campeão por duas vezes em pouco tempo, ao lado do homem que amava e da amiga que conheceu nos meses anteriores, ele sentiu que não precisava de mais nada. Abraçou-os de lado e fechou os olhos para agradecer por tantos momentos felizes. Jorginho voltou à cidade onde viveu com muito mais do que duas medalhas na bagagem. Voltou com o coração cheio de felicidade e com boas histórias para contar.

Kepa também fechou os olhos. Sabia o que o outro pensava no exato momento em que ficou em silêncio. O espanhol se lembrou das inúmeras viagens de trem para Lezama quando era mais novo e dos inúmeros desafios que enfrentou. Lembrou da rejeição e das questões com os torcedores e a mídia britânica, mas aquilo já fazia parte do passado. Lembrou do quanto se sentiu decepcionado e triste por tudo que aconteceu. Apesar de fazerem parte de um passado ainda recente, ele sorriu ao ver o quanto tudo ficou diferente.

Ficar ao lado de Jorginho mudou as perspectivas dele. Mudou o jeito de acreditar nas pessoas e até mesmo reconstruiu os conceitos dele sobre o amor. O brasileiro causou a maior bagunça do mundo no início, mas àquela altura tudo estava em seu devido lugar. Quando estavam juntos, eles não precisavam das carcaças duras que os protegiam do mundo exterior. Fortaleceram-se na adversidade, apoiaram-se e mantiveram-se juntos. Sempre juntos. Sempre um pelo outro.

Como tudo na vida não era apenas descanso e viagens, Kepa teve que voltar aos treinos. Jorginho teria mais dias porque entrou de férias dias depois e decidiu visitar a família no Brasil, algo que ele não fazia há algum tempo.

Isabel e o goleiro ficaram em Londres. Três dias se passaram desde a ida de Jorginho e Kepa passava a maior parte do tempo sentado no sofá da própria casa trocando os canais da televisão sem parar em algum.

— Londres não é a mesma sem ele — Isabel se sentou ao lado do amigo.

— Sabe o que isso me fez pensar? Um dia eu e ele não jogaremos mais no mesmo time.

— Mas quem disse que um de vocês vai embora daqui? — ela arqueou as sobrancelhas.

— Ninguém. Eu só pensei nisso... desde que nós voltamos da Itália eu crio mil teorias do que pode acontecer.

— Ei... — Isabel o abraçou. — Não se preocupe com essas coisas. Foque no agora... Jorgi só foi ali do outro lado do oceano e volta em breve. Há quanto tempo ele não visitava a família e os amigos?

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora