Natal

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Kepa foi preparar o doce basco que tanto prometeu a Jorginho. Isabel teve a ajuda do brasileiro para terminar o que fazia.

— Como vai o meu casal preferido? — ela perguntou.

— Que casal? — Jorginho arqueou as sobrancelhas e tropeçou nos fios que estavam no chão.

— Você e o Kepa.

— Ficou doida? — ele ficou boquiaberto.

— Feche a boca, Jorgi. Você não está surpreso ou assustado com o que eu disse — Isabel riu. — Vai me dizer que não o ama?

— A pergunta é: quem não o ama?

— Sim. É exatamente isso. Mas me diga... como aconteceu?

— Você não está com raiva? — Jorginho olhou para ela e puxou a escada para ajudá-la.

— Por que ficaria?

— Não sei, talvez porque estou com o homem que você amava.

— Você é bobo, Jorgi. Isso já passou. Então, como aconteceu?

O brasileiro contou a ela sobre o primeiro beijo dos dois e fez um resumo até o período anterior à viagem para Barcelona, arrancando várias lágrimas e sorrisos de Isabel.

— É tão bom ver que o homem mais incrível que já conheci está feliz. Você vai cuidar dele, não é?

— Eu já faço isso há algum tempo — Jorginho sorriu ao se lembrar do dia em que ficou ao lado de Kepa na chuva.

— Se eu não aguentar o que está por vir, preciso saber se você vai continuar ao lado dele. Promete?

— Prometo. Não vai ser difícil cumprir algo assim, mas você não vai perder essa batalha. Eu sei que vai dar certo.

— Na verdade, há uma chance remota. Os médicos já me disseram que o tratamento não pode continuar por tantas semanas. Quando chegar ao fim, preciso fazer uma pausa. E então poderemos contar o tempo até que a quimioterapia e a radioterapia possam recomeçar.

— Não há nada que eu possa fazer?

— Torcer para que dê certo. Bom, ofereceram uma possibilidade... chama-se oncologia de precisão. Só que eu precisaria investir um dinheiro que não tenho. É algo muito novo.

— Isso não é problema. Daremos um jeito. Nós podemos trazer uma pessoa especializada nisso para Barcelona em poucas horas.

— Não precisa disso, Jorgi.

— Você precisa tentar. Eu e o Kepa temos dinheiro para isso. Na verdade, não precisamos nem comentar com ele. O que acha?

Isabel respirou fundo antes de chamá-lo de volta à realidade.

— Fizeram um escaneamento completo do meu corpo. Eu não vou durar muito tempo. Os tumores chegaram aos meus pulmões, ao meu fígado... são órgãos vitais. E depois esse método de tratamento é mais recente, não dá tanta esperança quanto parece.

— Eu sei. Mas você vai tentar. Volte para Londres quando o seu tratamento atual for finalizado e conversaremos sobre isso. Comece a olhar oncologistas que trabalham sobre essa abordagem e faremos o que pudermos.

Ela cedeu. Não tinha como recusar.

— Tudo bem, mas com uma condição. Não quero que ele saiba disso por enquanto.

— Como quiser.

— Terminamos aqui — Isabel olhou para todos os lados e sorriu ao ver a decoração pronta. Ela mesma planejou tudo. — Obrigada, Jorgi. Obrigada por tudo.

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora