Promessa

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Ela ficou em silêncio por algum tempo. Jorginho era capaz de imaginar o que estava acontecendo, mas preferiu se manter esperançoso. Não queria tirar qualquer conclusão precipitada.

— Eu não sei por onde começar... — Isabel secou as lágrimas no moletom que vestia e tossiu várias vezes.

O brasileiro continuou segurando a mão dela e a encorajou.

— Pode falar. Sei que é difícil, mas nós precisamos saber de uma forma ou de outra.

— Só tentei poupá-los. Vocês estão em um momento tão bom... não queria tirar a felicidade que estão sentindo.

— Não pense assim... você nunca tiraria a nossa felicidade. 

— Kepa levou tanto tempo para se sentir bem e você chegou aqui sorrindo... parece que tem algo muito bom acontecendo.

— De fato. Ele vai jogar amanhã e deve permanecer em campo nas próximas partidas.

Isabel sorriu com a notícia. Ela precisava de algo para se sentir bem e Jorginho havia chegado na hora certa. Reconheceu que dividir com ele era melhor do que guardar segredos.

— Isso é tão bom, Jorgi! Eu quero ir, mas não sei se o médico vai liberar.

— O que aconteceu?

— A sua ajuda me garantiu todas as condições para lutar contra o que estou passando, mas agora as coisas pioraram — ela ficou desapontada.

— Pioraram quanto?

— O suficiente para me colocarem aqui. Ainda não sei quando e se poderei voltar para casa...

— O que eu posso fazer para ajudar?

Ela balançou a cabeça negativamente e abaixou a cabeça.

— Não dá para fazer nada além de orar e aguardar. Ainda não sei sobre os resultados de alguns exames... então até isso está incerto — ela começou a chorar.

— Sinto muito, Isa. Até ia dizer para que não chorasse, mas é impossível — Jorginho abaixou a cabeça para que ela não o visse triste.

— Obrigada por ter me dado esperança. Você me deu tudo que mais precisava e sou a pessoa mais feliz do mundo por isso. Se você não tivesse praticamente arrastado o Kepa para o pub naquela noite, talvez eu não estaria aqui. Se ainda estou viva é porque vocês me deram os motivos certos para lutar. Mas agora não há muito o que fazer. Não sei mais quanto tempo tenho, mas quero viver o quanto puder.

— Você vai conseguir. Eu vou continuar com o suporte financeiro, não se preocupe.

— Jorgi... eu sou muito grata por tudo que faz por mim, mas isso não pode continuar. Tentamos tudo. Eu assinei papéis para que testassem várias medicações novas em mim, mas isso só me trouxe até aqui, só prolongou a minha vida, mas agora já não tem mais nenhuma alternativa. Não estou me rendendo, mas desse ponto em diante, não consigo mais suportar tantos remédios... se fosse só tomar os comprimidos e as injeções eu continuaria sem problema algum, mas os danos são irreversíveis e já fiquei muito debilitada. Não posso continuar mentindo para mim mesma sobre uma verdade que está diante dos meus olhos.

— Tem certeza que não há outro jeito?

— Já fizemos o que era possível. Eu já estou nos cuidados paliativos e não sei o que acontecerá. Virei uma bomba-relógio. O meu corpo já não corresponde do mesmo jeito e não consigo fazer algumas coisas que sempre gostei.

Ele não queria perder as esperanças.

— É horrível ter recursos e não poder fazer nada para mudar esse cenário — Jorginho mordeu os lábios e segurou o choro. — Quanto tempo você tem?

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora