Despedida

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— Definitivamente não foi ela.

— Isso é estranho... tem certeza disso? — o croata ficou sem reação.

— Sim. A letra é muito diferente.

— Se essa pessoa realmente te conhece, tenho certeza que deixará um envelope por baixo da sua porta em breve. Ainda mais agora que a Isa se foi.

— É... — Kepa revirou a mochila enquanto procurava algo, mas não encontrou. — Eu deixei o meu celular em algum lugar. Quero notícias do Jorginho... ele ficou lá.

— Está comigo — Kovačić pegou o aparelho e entregou ao amigo. — Você quase esqueceu no hospital e achei que se ficasse sem ele poderia se desligar um pouco.

— Obrigado. Realmente me fez bem, mas preciso falar com ele.

A campainha soou e Mateo foi até a porta.

— Pode cancelar a chamada. Já estou aqui — Jorginho se aproximou e respirou fundo. Ele havia chorado mais do que os próprios olhos denunciavam.

— Como foi? — o espanhol perguntou depois de receber um abraço dele.

— Cuidei para que o funeral seja o melhor possível — o brasileiro apoiou as mãos sobre a mesa e fitou o olhar desapontado de Kepa. — Tem um minuto?

— Jorgi, eu...

— Nós precisamos conversar.

Na verdade, Jorginho só queria prepará-lo para o funeral da melhor amiga. O corpo dela seria cremado e as cinzas seriam jogadas no rio Tâmisa e no mar de Bilbao. Ele quebrou o silêncio quando começaram a caminhar pelos arredores da casa de Kovačić.

— Você ligou para o pai dela? Ele precisa saber.

— Juan Martinez me odeia e você sabe disso.

— Ele não te odeia... só não entendeu que você não teve culpa no desgaste da relação dele com a filha. A culpada é aquela... ordinária. Queria uma palavra mais forte em italiano, mas nenhuma seria suficiente. Aquela cobra vai apodrecer nas catacumbas do esquecimento.

— Jorgi... — Kepa o repreendeu.

— O quê? É para eu gostar de quem te fez sofrer?

— Claro que não. Só não precisamos falar dela agora... está no passado.

— Então... — Jorginho mudou de assunto enquanto se distraía como os próprios passos. — Vai ligar para ele?

— Vou.

— Como está se sentindo?

O espanhol não disse sequer uma palavra. A caminhada continuou, mas a respiração dele ficou mais pesada, como se guardasse todos os sentimentos para si.

— Tudo bem se não quiser dizer nada, mas o funeral da Isa será em algumas horas. Você precisa...

— Ficar pronto para isso? É impossível — ele disse, desapontado.

— Queria dizer que você pode fazer um discurso.

— Eu não quero, Jorgi. Perdi uma parte de mim há algumas horas... tudo ainda está muito recente. Só quero ir para algum lugar onde ninguém me encontre.

— Sei disso. Me desculpe.

— Está tudo bem. Queria que a ausência dela não doesse tanto... seria uma boa forma de continuar.

Jorginho o abraçou. Entendeu os motivos e as atitudes do outro e decidiu apenas apoiá-lo nos dias que estavam por vir.

— Não vou sair de perto de você.

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora